A Fuga - Final
Conseguiu reunir, em celas estratégicas, os detentos que participariam da fuga. Será agora mais fácil resgatá-los por estarem mais próximos uns dos outros. São eles seis elementos, companheiros de Norman; devem seguir com o grupo. É esta a condição para que o plano seja executado, e sob sua coordenação.
Fazem, com os dois carcereiros que guardam a área em cujas celas estão Norman e os seus amigos, o mesmo que haviam feito com o primeiro, ou seja, deixam-nos amordaçados e amarrados às grades, de forma que nenhuma espécie de som possam produzir. São Bruce, Jordan, Norman e os outros seis. Nove homens no total; soltos e, com exceção de três, portando armas.
- O que faremos em seguida? - pergunta Bruce. - Norman, conhecedor de cada centímetro do local, parece calmo e confiante, ao contrário de Bruce que se mostra tenso.
-Em primeiro lugar, manter a calma e o sangue frio; precisamos disto mais do que tudo. Há duas guaritas no telhado, são seis guardas lá em cima.
- Não está pensando em enfrentá-los - diz Jordan.
-Claro que não. Seria arriscado - responde Norman. - Por outro lado, temos que tirá-los de ação, de alguma forma; pelo menos dois deles.
-O que tem esses dois de especial? - pergunta Jordan.
-Estão na guarita que protege a parte de trás do presídio, por onde vamos escapar; e você será o responsável. - Norman mira Jordan de cima a baixo, dando a entender que se refere ao privilegiado porte físico do outro.
- Muito bem, já entendi. Só preciso de cobertura.
-Luke, esta será a sua função -diz Norman, dirigindo-se a um dos companheiros. - Aplique um dos seus golpes, se for preciso. Mas, cuidado para não exagerar; mortes só iriam nos complicar ainda mais, caso falhemos. Muito importante: não podemos nos dispersar a não ser que haja alarme; e é quase certo que encontremos obstáculos pelo caminho. Sigam-me!
Seguem com toda cautela. Pegam um comprido corredor, com vários outros que o atravessam; são galerias de celas guarnecidas por dois carcereiros de cada lado. A tensão é contínua, especialmente nos momentos em que têm de passar de uma para outro. Norman sempre na frente, hora com Bruce, hora com Jordan, verifica a situação. Na grande maioria das vezes reina a quietude total e os que deveriam zelar pela segurança, quando não dormem, estão mais sonolentos do que despertos.
Somente a um sinal positivo de Norman o grupo passa para o corredor seguinte. Chegam de frente para um dos salões internos, com portas e janelas de vidro. Este salão separa as galerias de um dos pátios. A entrada se faz pela lateral com portas corrediças, mas, de cuja aproximação será impossível, pois há lá dentro dois guardas; e não estão dormindo.
Fazem, por assim dizer, a segurança de quem chega de fora, como de todo movimento externo. Estão de costas para o grupo de fugitivos e são alvos fáceis, embora não seja e nem pode ser esta a intenção. Um, distrai-se ao computador e o outro na leitura de um livro. Neste momento ouvem, os prisioneiros, uma orientação de Norman e três põem-se em movimento.
Agachados e, muito sorrateiramente, dirigem-se para a lateral do salão; a baixa luminosidade facilita-lhes o movimento. A distância entre esses três e os dois guardas lá dentro não passa de três metros. A um sinal de Norman eles se levantam de uma só vez e apontam suas armas. Os guardas, ao vê-los, se assustam, mas nada podem fazer, pois foram surpreendidos. Norman bate levemente no vidro de onde está e, ao serem todos vistos e a um sinal, tiveram que abrir as portas.
- Mãos para trás e não tentem nenhum truque - diz Bruce, já do lado de dentro com todos.
Um dos guardas, porém, não se intimida e tenta uma reação. É imediatamente atingido por uma coronhada da arma de Jordan e seguro ao cair para evitar o som da queda. A um sinal de Norman para um dos homens, que está atrás do segundo guarda, é feito o mesmo com este que também desacorda, devidamente apoiado. Com cuidado, abrem a porta da frente e já se encontram do lado de fora seguindo outra orientação de Norman.
- Vamos nos separar apenas enquanto não alcançamos a parte traseira do prédio. Não há guardas nas laterais; apenas tomem cuidado ao caminharem. Jordan, você e Luke subam esta escada; ao fim dela vão avistar a tal guarita. Após imobilizarem os guardas, voltem e unam-se novamente a nós. Então, juntos, escalamos o muro para a liberdade.
Sobem os dois e executam muito bem o trabalho da forma que foram orientados; os dois guardas estão também imobilizados e fora de ação. Começam lentamente a volta pelo mesmo caminho, mas não contam com um detalhe que iria fazer a diferença. Norman não deve ter escolhido o homem certo para desferir a coronhada no guarda no interior do salão. Não foi suficientemente forte para desacordá-lo por um tempo necessário à fuga e, quando acabam de descer a escada vê, Jordan, o homem acabando de se levantar e também é visto por ele. Entre correrem e impedi-lo de disparar o alarme, o que certamente não daria tempo e seria arriscado, escolhem disparar pela lateral e juntar-se aos outros.
-O alarme! Vai ser disparado o alarme! Não temos tempo a perder!
-Corram para este canto! - gritou Norman, sinalizando uma espécie de abrigo atrás de dois postes de iluminação. Neste momento, soa o alarme. Tiros começam a ser disparados, vindos do alto. Um dos prisioneiros é imediatamente atingido e cai, sem vida. O revide é à altura, pois todos têm agora armas. Acertam um dos guardas que despenha do telhado, caindo sobre a trave do campo de futebol, fazendo-a partir-se no meio com enorme estrondo. Em seguida, mais um é alvejado ficando mesmo lá por cima.
- Mostre os pontos de subida com segurança! - grita Jordan para Norman.
- Não há pontos com segurança; temos que correr o risco: sermos pegos pelos tiros ou pela rede elétrica. Como prefere morrer, furado pelas balas dos guardas ou torrado?
Jordan não responde. Procura, no momento, defender-se dos tiros que não cessam de vir sobre eles. Outro prisioneiro corre na tentativa de alcançar o muro, mas cai no meio do caminho com um tiro certeiro.
- Ele fez certo - diz Norman - aquele é um ponto de onde se pode atingir o topo do muro porque há postes, mas podem estar eletrocutados.
Neste momento, começa Bruce a se esgueirar pelo canto de um dos muros e, agachado, consegue penetrar no salão, surpreendendo o guarda que fizera soar o alarme. Com uma arma em suas costas, ordena Bruce:
- Mostre o controle do portão; ande! -- o homem sinalizou com a cabeça.
- Agora tome isto! Desta vez foi bem aplicado - diz, desacordando-o de verdade com um violento golpe.
Mexe no controle e vê, de longe, mover-se o enorme portão. Para, porém, ao deixar brecha suficiente para a sua passagem e de forma que não seja percebida a abertura; volta agachado pelo canto do mesmo muro.
- Não façam isto! Venham comigo! - grita para Jordan e Norman que começam a escalar o muro do outro lado.
Os tiros, no entanto, não cessam e Norman é fatalmente atingido por um deles, caindo sem vida sobre a grama úmida. Jordan, pressentindo que poderia ser o próximo, pula imediatamente, colocando as mãos sobre a cabeça, oferecendo sua rendição. Fecham novamente o portão, mas Bruce o já havia ultrapassado e se encontra do lado de fora com mais dois fugitivos.
Os tiros continuam, mas Bruce, esgueirando-se deles, corre em ziguezague. A intuição lhe diz que evite o caminho entre as árvores; e ele não está errado. Ao longe, para onde havia corrido, afoitamente, um dos homens de Norman, ouve um estrondo seguido de um clarão medonho; era por ali que haviam espalhado as minas. Bruce continua correndo, perto dele os outros dois. Súbito, um cai alvejado; Bruce para a fim de tentar socorrê-lo.
- Não faça isso, fuja! Não consegui desta vez, quem sabe da próxima... - fora baleado e fala entre dores e sangramento.
Continuam correndo; agora ele e o outro. Já muito longe, param finalmente. Cessam os tiros. Bruce olha para o companheiro.
- Não sei se vamos conseguir, mas vamos em frente.
À frente, o enorme despenhadeiro e, abaixo, o fragor das ondas e a imensidão do mar. Para uma das laterais, a floresta a se perder de vista. Descem por um escarpado, equilibrando-se sobre rochas e nunca mais foram vistos. Desse dia em diante, já não se hão de afirmar que Blue Mount não comporta fugas.