A Fuga - parte 4
A manhã seguinte vai encontrar, à frente de Wilson, após sua visita de praxe a todas as celas, quatro condenados para outro sermão e novas advertências. Só que, desta vez, a situação muda um pouco. Na noite anterior Max recebera a comunicação de comparecer pela manhã à sala da diretoria, o que deixara Jordan ciente de que não passaria de uma simples advertência pelo fato de entregar cigarros a Bruce. Segundo Max tudo correra bem e o guardinha estúpido sequer suspeitara da estratégia. Mas, a confiança de Jordan fora por água abaixo com a visita matinal de Wilson enquanto os outros o aguardavam.
-Eu o preveni, Jordan, que tomasse muito cuidado. Você está em maus lençóis se pretende levar avante este planinho de fuga. -Dizendo isto, tira do bolso um papel e o ergue à frente dos olhos de Jordan. Ali está, com sua própria caligrafia, o bilhete que escrevera à Bruce. A artimanha de Max fora muito maior do que ele, Jordan, imaginara.
-Insistem em tentar desafiar a minha inteligência. Já disse e vou repetir: este presídio não comporta fugas. Pode começar a desconsiderar tudo aquilo que ouviu de Curtis no hospital. Todas as entradas e saídas de túneis estão definitivamente fechadas; e esta planta (mostra o esboço feito atrás do bilhete) já não é mais a mesma. Onde está a sua inteligência? Acha que manteríamos a mesma estrutura de terrenos depois das tentativas frustradas, mas que, por pouco, não arruinaram a minha reputação? A era Curtis não volta mais. São quase vinte anos passados e beneficiados pela tecnologia. Posso levá-lo agora mesmo a cada ponto esboçado neste papel, se duvida das minhas palavras; verá então por si mesmo. Não existe a mínima possibilidade; todo o solo, cada centímetro dele, encontra-se revestido de material anti furo. Podem tentar o que for que não terão sucesso; inventem outro meio se se acham capazes.
Wilson solta estas palavras, empregando nelas um tom de superioridade e ironia, balançando, bem próximo ao rosto de Jordan, o papel com sua mensagem desmascarada como a querer esfregá-lo na cara. O outro, ainda pálido e atônito pelo inesperado da descoberta, o que faz, e não pode fazer diferente, é ouvi-lo e engolir à seco a arrogância.
-E quanto às visitas desse domingo, teremos alguém em especial? - pergunta Wilson, quebrando um prolongado silêncio.
-Não sei do que está falando.
-Você sabe perfeitamente! Mas, não é demais repetir: tome cuidado com o que fizer ou disser daqui para frente, pois anda bastante visado.
De fato, se as precauções contra Jordan e Bruce já eram muitas e constantes, passaram a ser uma prioridade dentro de Blue Mount. Uma medida imediata é a transferência de Max dali para outro presídio a fim de evitar retaliação e esta, em se tratando de Jordan, seria por certo violenta e fatal a julgar pelo ódio de que se vê dominado. Jamais perdoou uma traição e é este o motivo de estar cumprindo uma pena severa.
É agora, o próximo passo, uma aproximação a fim de que novas estratégias sejam elaboradas e, a depender das circunstâncias, postas em prática. Blue Mount divide-se em galerias. A área de 4.500 metros quadrados abriga 1422 detentos dos mais variados graus de criminalidade. As áreas externas são admiravelmente grandes e muito bem construídas. São três os pátios, de grandes proporções, dispostos estrategicamente, atendendo às galerias de presos de condições semelhantes. Há um campo de futebol de tamanho médio, uma piscina e duas quadras de esporte.
Possui dois refeitórios, grandes e espaçosos. As cozinhas fervilham de funcionários e de atividade a fim de atender à enorme demanda. A fachada do presídio compreende uma construção à parte, cuja modernidade destoa por completo do restante da obra. É, o edifício principal, de quatro pavimentos. Abrigam escritórios, uma enorme biblioteca, aposentos para funcionários, enfermaria e um almoxarifado. Ao lado do prédio, a igreja, cujas missas podem ser assistidas pelos presos que assim desejarem, devidamente escoltados, é óbvio.
As deliberações de Wilson com relação a direitos dos presidiários têm a ver, não raro, muito menos com o comportamento do que com algumas questões de preferências pessoais nutridas por ele. E isto, Mais de uma vez, causou rebuliço dentro da instituição. Há, como rotina mensal, a visita da fiscalização como do atendimento psicológico a todos os internos e é, este dia, invariavelmente, marcado por queixas e reinvindicações.
-Não queremos mais saber do Sr. Wilson como diretor. Ele nos tem prejudicado a todos - desabafa Bruce à psicóloga que o atende em sua cela.
-Infelizmente, pouco podemos fazer - é a resposta da moça, depois de ouvir dele as razões de sua insatisfação.
-Falo em nome dos meus companheiros. Pode perfeitamente comprovar o que estou afirmando conversando com eles.
-Já o tenho feito; é exatamente como o senhor diz. Pode ficar tranquilo então, vou levar o caso ao governo de Kansas City.
Isto é feito realmente; e Wilson é chamado à presença do governo do estado. Mandá-lo embora está, porém, fora de cogitação, pois substitui-lo não seria fácil. Contudo, é orgulho do estado a eficiência do seu sistema prisional e, se forem as queixas e os comentários levados ao conhecimento da imprensa, isto será péssimo para a reputação de Blue Mount.
Se já era grande a antipatia de Bruce pelo diretor Wilson, a exteriorização desse sentimento não tarda agora a se manifestar e vem em forma de ódio, pois que arde de forma incontrolável no peito do prisioneiro. Bruce aproveita um breve momento em que Wilson atravessa o pátio e parte para cima dele. Está sem a sua costumeira segurança nessa hora.