Um raio em céu azul

Ayan Patel ergueu os sobrolhos ao ler o nome escrito na agenda que a secretária lhe exibia.

- Fabian Doyle? Tem certeza, Cora? Aquele Fabian Doyle?

A secretária não parecia surpresa.

- Ele deve estar procurando alguma prova contra o senhor, imagino. Fiz mal em agendar a consulta?

Patel titubeou. Finalmente, recuperou sua expressão fleumática habitual.

- Não, nada tenho a temer. Ele que venha e faça quantas perguntas quiser!

O último cliente do dia chegou na hora marcada, pouco depois do ocaso. De gorro de lã, cachecol, luvas, sobretudo e óculos escuros, parecia não querer ser reconhecido. Trocou poucas palavras com a secretária e ficou sentado na sala de espera, cabeça inclinada sobre uma edição de duas semanas atrás do Sunday Times. Finalmente, ergueu-se ao ser chamado por Cora.

- Sr. Doyle? O professor Patel irá vê-lo agora.

A porta do gabinete de Patel fechou-se atrás das costas de Doyle e Cora ouviu a voz do chefe exclamar algo ininteligível. Em seguida, soaram dois disparos. Apavorada, ela ainda teve a presença de espírito de se esconder debaixo da mesa da recepção, antes que o cliente saísse do gabinete e passasse correndo pela recepção, rumo à entrada principal. Somente quando ouviu o retinir do sininho na porta indicando que o homem saíra do prédio, atreveu-se a deixar o esconderijo e ir até o gabinete ver como estava Patel.

Morto, muito morto, como logo constatou consternada.

* * *

O inspetor Pembroke terminara de ler o relatório dos guardas que haviam chegado primeiro à cena do assassinato de Ayan Patel, quando Ellery Queen adentrou a chefatura de polícia.

- Já ouvi as novas, inspetor. Apagaram o tal vidente da TV, Ayan Patel? O que chamam de novo Uri Geller?

- "Apagaram"? - Repetiu o policial, incomodado pela informalidade. - Se o que quer dizer é que assassinaram Patel, sim foi o que ocorreu. Um tiro na testa, fatal, outro no peito. Mas o caso já está praticamente resolvido, vou tomar o depoimento do principal suspeito, um certo Fabian Doyle.

- O físico que ficou conhecido por desmascarar supostos paranormais - redarguiu Queen. - Mas como? Ele foi visto na cena do crime?

- Doyle marcou uma consulta com Patel, foi visto entrando e saindo do prédio pela secretária - replicou Pembroke. - Os tiros foram disparados enquanto ele estava a sós com a vítima.

Queen abriu as mãos, aparentemente se dando por vencido.

- Bom, então como disse, o caso está praticamente resolvido. Se Doyle não tiver um álibi sólido para a hora do crime, vai estar bem encrencado.

- Lamento que tenha vindo aqui por nada - Pembroke comentou em tom protocolar.

- Não vou perder a viagem - minimizou Queen. - O restaurante da esquina serve um excelente balti curry!

Havia se virado para ir embora quando viu um homem vestindo um sobretudo marrom entrar na chefatura. Este perguntou algo a uma policial que passava, a qual indicou a mesa de Pembroke. Uma premonição fez Queen retardar sua saída.

- Inspetor Pembroke? - Indagou o recém-chegado. E sem esperar pela resposta:

- Eu sou Levi Reid. Vim ajudá-lo no caso de Ayan Patel.

- Desculpe, mas não o conheço e não creio que vá precisar da sua ajuda - retrucou Pembroke, cenho franzido. - E se precisasse de auxílio externo, a Scotland Yard já possui um consultor, o senhor Ellery Queen, que aqui está.

Reid ergueu as mãos num gesto apaziguador.

- Eu não tenho a intenção de roubar o emprego do senhor Queen - declarou. - Mas creio que posso ajudar a polícia de uma forma que talvez ele não seja capaz.

Queen ergueu os sobrolhos.

- Porventura o senhor também é um paranormal, como o falecido Patel, senhor Reid?

Reid exibiu um sorriso confiante.

- A sua capacidade dedutiva deve ter um fundo psíquico, senhor Queen.

Queen não respondeu de imediato, mas mentalmente pensou: "besteira".

Menos de vinte e quatro horas depois, teve que rever seus conceitos

- [Conclui em "Reconhecimento criminal"]

- [10-05-2023]