POEMAS MORTAIS | CAPÍTULO 2

POEMAS MORTAIS

HAMILTON PALHARES

Capítulo 2

Foi como ele mesmo havia previsto. O dia foi realmente bastante intenso, Hamilton Palhares passou praticamente todo o tempo circulando dentro do distrito policial checando informações enquanto que sua parceira analisava o que significava o escrito no corpo da vítima. E por falar em Sabrina Melo, Palhares permitiu que sua mente fosse ocupada também por ela. Esse é o problema de se estar apaixonado. Você não consegue fazer nada direito. Melo é casada, ele sabe muito bem disso. Mas ele também sabe que o relacionamento de sua colega não anda bem das pernas. Hamilton pode ser o que for, grosso, estupido, mas aproveitador, isso não. Ele jamais se aproveitaria da fragilidade de alguém para levar vantagem.

Enquanto o momento de se declarar para mulher amada não chega, Palhares segue se empenhando no que ele sabe fazer de melhor: investigar.

— E aí, conseguiu alguma coisa? – sentou-se ao lado dela.

— Você estava certo. Trata-se de um poema, porém incompleto..

Hamilton apertou os olhos ao olhar para o monitor.

— Não estou gostando nada disso. – declarou soltando ar.

— Nem eu. – Melo tirou os óculos de leitura. – eu já vou indo, e você?

Na verdade, tudo o que o policial queria era continuar ali, sentado ao lado dela, sentindo a leve fragrância de seu perfume.

— Estou indo também, mas antes pretendo tomar uma cerveja.

— Típico de alguém solteiro. – pegou sua bolsa e chaves.

— Tá a fim? Eu pago.

Já faz algum tempo que Sabrina não sente mais prazer em retornar para casa depois do plantão. O clima entre Roberto e ela literalmente tornou-se insalubre digamos assim e quem sabe algumas tulipas de cerveja não ajude a amenizar a situação.

— Boa ideia. Vamos.

*

Ele a amarrou tão forte, tão apertado que suas mãos e pés ficaram roxos quase que instantaneamente. Ela grita, esperneia, mas não adianta, ele a matará assim como fez com a outra menina.

— Seu filho da... – berrou.

— Morrer não dói, então, relaxa.

Na mão direita uma faca de uma marca famosa, nada muito extraordinário. Uma loira linda de corpo escultural, deitada e amarrada numa espécie de colchão improvisado. Logo, logo todo aquele lugar será manchado pelo sangue que escapará de sua aorta. Ao se aproximar um pouco mais o assassino pode ver no olhar da garota a agonia de quem deixará para trás toda uma vida. “ o propósito não pode ser interrompido” isso pensado, o ato foi executado.

*

Às vinte duas e alguns minutos Sabrina abria a porta da sala um pouco mais animada depois de passar horas conversando com seu parceiro. Melo descobriu o lado humorista de Palhares depois de muito tempo trabalhando com ele e isso a fez bem. Rir é sempre muito bom.

Roberto assistia a sua série favorita deitado no sofá na penumbra da sala. Sabrina passou na frente da TV e o cumprimentou rapidamente.

— Boa noite!

— Boa noite, chegando tarde, hein. Muito trabalho?

A voz dele a irritava absurdamente. Sabrina não respondeu indo direto para a cozinha. Roberto pausou a programação e a seguiu até o único cômodo iluminado da casa.

— Você nunca chegou tão tarde assim, Sabrina, eu posso saber aonde a senhora estava?

Silêncio.

Roberto perdeu a paciência.

— Ah tá, agora vai dar uma de adolescente rebelde.

— Hoje não, Beto, por favor. Vá lá assistir o que estava vendo e me deixa em paz.

A respiração do professor se tornou pesada, de longe era possível ouvi-la.

— Joga limpo comigo, Bina, diz logo o que você quer. – vociferou.

A explosão aconteceu. Sabrina não sabe se essa foi a hora certa, mas aconteceu.

— Eu não aguento mais olhar para sua cara. Sua voz me irrita. Pra mim já deu.

Em meio ao silêncio e diante de um Roberto embasbacado, a policial saiu da cozinha e rumou para o quarto.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 11/02/2023
Código do texto: T7716797
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