Infidelidade mortal

Era o início do ano de 2010, uma construtora estava fazendo uma obra de uma adutora que cortava a cidade de Belo Horizonte de uma ponta a outra, mais específicamente ia do bairro Taquaril até o bairro Céu Azul, eram 26 quilômetros de extensão.

Tinham vários operários trabalhando nessa construção, mas um deles chamou mais atenção pelo desenrolar da sua história. Ele era conhecido como Carequinha , era o encarregado de uma das turmas. A obra era toda na rua, e como passava por vários bairros, as turmas de operários ficavam sempre em movimento.

Com isso chegaram a rua Salesiano, no bairro São Bernardo. A rua se iniciava em uma escadaria, e logo na primeira esquina morava um casal muito simpático que tinha um filho pequeno. A mulher era enfermeira e o homem era barbeiro. Ambos eram pessoas muito bondosas, e começaram a dar café aos operários todos os dias pela manhã e também a tarde. E os convidavam para tomar o café dentro de casa. Nunca imaginavam o que poderia acontecer.

E foi assim que surgiu uma curiosa amizade entre Carequinha e a esposa do barbeiro.

Já era conhecido o fato de Carequinha mexer com as mulheres na rua, e uma vez ele mexeu com a namorada de um bandido. Por falta de sorte minha eu estava na ronda aquele dia e não sabia de nada. O bandido andou toda a rua com o revólver na cintura e parou ao lado da minha caminhonete e começou a conversar comigo, por acaso tinha raspado a cabeça e o cara pensava que era eu. A arma na cintura dele não estava escondida, muito pelo contrário, ele a ostentava sem nenhum temor. Conversamos por um bom tempo e eu não senti preocupação, eu não sabia de nada.

Logo a namorada dele passou e parou para falar com ele, e disse que não era eu que tinha mexido com ela , e que era um cara careca, que ficava perto do trator. Logo nessa hora eu me dei conta do perigo que estava correndo sem saber.

O cara me disse que estava procurando quem tinha mexido com a mulher dele e só sabia que era um homem careca. Expliquei que eu não sabia quem era e que eu trabalhava na fiscalização e rodava toda a obra.

Era o Carequinha que ele estava procurando.

Carequinha então estava até almoçando na casa do barbeiro.

Aí os problemas começaram. A mulher do barbeiro passou a fazer caminhada todos os dias no trajeto em que passava pela obra e todas as vezes parava para conversar com o Carequinha. Começaram a desconfiar de alguma coisa errada quando a obra estava há mais de cinco quilômetros da casa dela, e ela ainda ia todos os dias nessa caminhada e conversa com ele.

Quando estava mais longe, Carequinha passava o dia inteiro no telefone conversando com ela. Chegou ao ponto de ir de carro para a obra e dar um sumiço sempre na hora de almoço. Como a situação foi evoluindo, ele já não se preocupava em ficar na obra e saía qualquer hora em que o telefone tocasse, para se encontrar com a mulher do barbeiro.

Chegou ao ponto em que nem a amizade de Carequinha com o engenheiro salvou o seu emprego.

Não demorou muito, e na outra semana, o barbeiro estava desconfiado da traição de sua esposa.

Ele foi alertado pelos vizinhos que um homem estava visitando a esposa dele na hora que ele não estava em casa.

Furioso, ele chegou mais cedo em casa, e numa calorosa discussão, efetuou vários disparos de arma de fogo na mulher, que morreu na hora. Para a sorte de Carequinha, o barbeiro não sabia quem era o amante da mulher.

Num arrependimento logo após o assassinato, o barbeiro se entregou no 13 batalhão da Polícia Militar, que fica no bairro Planalto em Belo Horizonte.

No dia seguinte, a foto da enfermeira assassinada estampava a primeira página do jornal local mais vendido. Senti um arrepio quando vi. E logo o telefone tocou, e era um amigo me perguntando se eu tinha visto o jornal naquele dia. Estava com o jornal na mão ainda.

Nunca mais vi o Carequinha, soube que ele teve uma depressão severa por causa do que tinha acontecido.

Ele havia se divorciado para ficar com a enfermeira, e ela prometeu se divorciar também.

Sinceramente, hoje penso que ela não ia largar o marido. Essa história resumida durou quase um ano inteiro. Ela morreu num dia chuvoso, assim como hoje.

A imagem que não sai da memória é a do filho do casal, que na época tinha uns cinco anos e ficou ao mesmo tempo órfão de mãe e o pai foi preso, não sei como foi a vida dele depois disso tudo.

O barbeiro tinha uma vida estável e aparentemente feliz, e foi pra cadeia.

É uma situação em que todos os envolvidos saíram perdendo.

O que começou com uma gentileza, terminou em tragédia.

Infidelidade também mata.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 16/11/2022
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