EDGAR SOLENE | O caso Amanda Rosa | Final
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Sabe aquele sentimento de que você precisa fazer algo e rápido? Pois é, foi o que senti aguardando meus companheiros chegarem. Eu sei que poucas coisas o ser humano consegue fazer sozinho, porém outras é preciso auxílio de terceiros, mas cá entre nós, todo o processo de investigação eu fiz praticamente sozinho. O direito de prender o culpado pela morte de Amanda era todo meu. Mas em contra partida eu estaria desobedecendo as ordens da terrível Edna Marques. Quis o destino que, enquanto eu mofava dentro do carro, o meu alvo aparecesse bem no portão de sua casa. O cara era realmente um dinossauro. O momento de sair e lhe dar voz de prisão não podia esperar. Hora de quebrar às regras, agente Solene.
Rafael da Silva estava lá, parado, celular colado ao ouvido direito, calça jeans, chinelos e camiseta regata com a logomarca da academia onde treina. Me aproximei já me identificando.
- Você é Rafael da Silva?
Ele olhou para mim com olhos de fúria. Lentamente ele encerrou a ligação enquanto a outra pessoa ainda falava.
- Qual o problema? – sua voz era grossa e forte.
- Amanda Rosa. Conheceu?
Rafael intimidava qualquer um.
- Sim!
- Quando foi a última vez em que esteve com ela? – resolvi me impor também.
- Nunca! Eu a conheço porque já consumi alguns de seus conteúdos.
O filho da mãe sabe mentir.
- Está dizendo que nunca esteve com ela pessoalmente?
Antes de me responder, seu pomo de Adão subiu e desceu várias vezes.
- Por um acaso isso aqui é um interrogatório? Se for, a partir de agora só falo na presença do meu advogado...
Rafael, filho de papai rico, protegidinho, costas quentes. Eu, Edgar Solene, um simples detetive da polícia civil que recebeu essa missão. Rafael da Silva, lutador profissional de Jiu Jitsu, cheio de energia, sangue nos olhos e faca nos dentes. Eu me encontrava diante de um problemão daqueles.
- Então, detetive, acho que podemos resolver esse assunto aqui mesmo. É só me passar sua conta...
- Acha mesmo que sairá dessa impune? O senhor está preso por dois crimes: assassinato de Amanda Rosa e por tentar subornar uma autoridade policial. – coloquei minha mão no coldre.
Foi tudo muito rápido, mas do meu ponto de vista tudo aconteceu em câmera lenta. A certeza da impunidade fez Rafael cometer um outro crime. Ele desferiu-me um cruzado de direita tão forte que vi tudo ficar escuro. Eu precisava me manter consciente caso contrário teria o mesmo destino de Amanda. O segundo golpe foi ainda mais forte, não posso desmaiar. Algo precisava ser feito rápido, então vamos nessa.
Com mãos poderosas meu agressor girou meu corpo e me aplicou o mata-leão. Toda essa disputa ocorreu ali, na rua, ao ar livre. Eu estava sendo estrangulado, mas a minha mente ainda funcionava perfeitamente. Minhas pernas e braços perderam sua rigidez levando ao agressor a acreditar que a luta estava ganha. Ele relaxou, como era o esperado. Chegara minha hora de agir. Mesmo de costas segurei a cabeça do dinossauro e enterrei os polegares em seus olhos. O seu grito foi gutural me deixando surdo momentaneamente. Eu estava livre das mãos de Rafael da Silva. Tossindo lhe dei outra vez voz de prisão.
- Deite no chão com às mãos na cabeça.
A montanha de músculos ainda gritava com as mãos nos olhos quando Edna e o restante da tropa chegou.
- Agente Solene, o senhor está bem? – falou olhando para Rafael caído na calçada.
- Acho que sim.
A situação foi tão intensa que só depois da chegada do reforço foi que reparei que minha boca sangrava.
- Algemem ele. – vociferou Edna. – vá cuidar desses ferimentos, conversamos mais tarde.
O miserável do Rafael foi levado sob protestos do mesmo. Ele berrava a plenos pulmões que não ficaria preso, que seu pai tinha amigos e conhecidos dentro da justiça e bla, bla, bla. Eu não o ceguei, mas o deixei com os olhos bem prejudicados. Me acomodei dentro da viatura afim de me restabelecer, meu celular vibrou no bolso. Era Jacke preocupada.
- Oi, amor, como você está?
- Bem! Eu acho.
- Você está em todos os canais e já há vídeos da prisão do bandido.
Nossa, que rapidez.
- Conseguimos pegá-lo. – falei me ajeitando.
- Conseguimos uma ova. No vídeo só aparece você brigando com ele.
Sério que filmaram nossa luta? A internet é algo assustador.
- Mais tarde nos vemos. Ainda tenho que ir para o departamento fechar relatórios...
- Tudo bem. Meu herói terá uma surpresa hoje a noite.
Encerramos a ligação juntos. Como eu amava Jacke. Ao me virar em direção a janela do carona dei de cara com o rosto lindo de minha superior.
- Sim, senhora?
- Relaxa! Só vim te agradecer. Fez um bom trabalho.
Eu estava nervoso e envergonhado e minhas palavras saíam atropeladas.
- Eu desobedeci suas ordens...
- Você é um bom policial, Edgar. Peça chave da minha equipe. Nem sempre estarei com a razão e cabe ao agente perceber isso. Essa era talvez sua última chance de pegá-lo e você não a desperdiçou. Tem o meu respeito.
Dito isso, ela se afastou.
*
Edgar está terminando de digitar algo em sua sala quando seu telefone toca. Ele o atendeu ao primeiro toque já sabendo de quem se tratava.
- Oi, querida, e ai? – falou olhando para o porta-retrato onde há três pequenas fotos. Uma delas está Clemente dando o dedo do meio e ao lado, em letras grandes escrito saudade eterna.
- Amor, vamos ter outra menina. – o notificou chorando com a enfermeira ainda a examinando no aparelho de ultrassonografia.
- Sério? Meu Deus, a Sófia vai dar saltos de alegria quando souber que terá uma irmãzinha.
- É mesmo. E então, será mesmo Amanda?
Edgar refletiu por um instante.
- Amor?
- Sim! Será Amanda sim.
- Um belo nome para a nossa nova princesinha.
Jacke ainda falava quando um policial entrou na sala as pressas.
- Doutor, nosso agente localizou o alvo. O que faremos?
- Peça a ele que aguarde o reforço chegar.
Na mesma hora Edgar lembrou-se de algo que já havia acontecido a algum tempo.
- Negativo! Peça a ele que efetue a prisão.
Fim