Carona com a morte
As sirenes estavam se aproximando; obviamente, algo estava muito errado. Eu precisava ir, decidi-me.
Atravessei rapidamente a rua deserta e molhada de chuva, para o ponto onde deixara o carro estacionado. Havia acabado de pegar as chaves no bolso quando vi o homem; na verdade, ele havia me visto primeiro. E estava com uma arma apontada para a minha cabeça.
- Preciso de uma carona - ele disse.
- OK, pode ficar com o carro - redargui, exibindo as chaves.
- Não, você vem comigo - replicou, fazendo movimentos com a arma. - Posso precisar de uma refém. Você serve.
Não se discute com um homem armado. Abri a porta e ele sentou-se do lado do carona, o revólver pressionado contra a minha cintura.
- Dirija - disse ele.
- Para onde? - Indaguei, tentando parecer calma.
- Vamos sair da cidade - replicou. - Preciso de um lugar pra me esconder até pararem de me procurar.
- Tenho um lugar fora da cidade; é bem sossegado - declarei em tom neutro, dando a partida.
- Que conversa é essa? - Inquiriu desconfiado. - Se tá me levando pra alguma cilada, meto uma bala na sua barriga!
- Calma - redargui. - Não é cilada, eu realmente tenho um sítio fora da cidade, um lugar bem isolado. Só vou lá nos fins de semana, não tem ninguém nele agora.
- Não tente nenhuma gracinha - ameaçou.
Concentrei-me na direção. Pelo caminho, passamos por viaturas da polícia dirigindo-se ao ponto onde eu fora sequestrada, minutos antes. Muito tarde, muito tarde...
Ao meu lado, o fugitivo parecia totalmente alheio ao perigo que corria. Naquela noite, a polícia não estava à procura dele. Era a mim que eles queriam.
Quando meu sequestrador descobrisse o fim que lhe estava reservado, seria tarde demais para fugir. Acho até que a polícia deveria me agradecer.
Afinal, eu estava limpando as ruas.
[01-06-2022]