Mão Negra - Final

Mão Negra

Final

No início da profissão eu duvidava da minha capacidade. Nunca imaginei que me tornaria o policial que sou hoje. Eu sei que, assim como eu, existem milhares, mas o que estou dizendo é que, quando ingressei na policia civil minhas pretensões não eram tão ousadas assim. Hoje estou aqui, perto de me aposentar, satisfeito com o que fiz até agora e com a prisão do miserável do Mão Negra isso será selado de vez. Fizemos o que Amorim mandou. Montamos guarda secreta nos arredores da loja de produtos de higiene pessoal e nos revestimos de paciência. Um bom policial precisa saber esperar. Esse plano tinha que dar certo.

*

Manuel Clemente verificou se não havia esquecido de nada. Por via das dúvidas ele resolveu tirar tudo de dentro da bolsa e conferir item por item. O principal se encontrava em sua cintura, uma pistola calibre 45. Ele fechou a bolsa. Ajustou o relógio e saiu. No bolso do casaco a folha de A4 com uma mão xerocada, isso sim chega a ser mais importante que sua própria arma. Manuel faz questão que todos saibam que foi ele quem cometeu tal crime. O Mão Negra precisa assinar seu feito. Ele deixou o apartamento de um prédio caindo aos pedaços e sem elevador com a noite saudando seus admiradores.

*

Eu sabia que demoraria, por isso fui prevenido. Eu não estava sozinho, no local onde estávamos havia mais dois comigo. A fome bateu forte, então decidi sacar meu sanduíche de queijo mussarela sob os olhares dos meus companheiros.

- Eu só tenho esse. – os alertei.

- Quer dizer que vamos ficar aqui dentro desse carro esperando até sabe-se lá quando e com fome? – disse Ramiro.

- E por falar em esperar. – falou o Silva. – o Mão Negra virá hoje mesmo?

- Hoje eu não sei, mas que essa loja é o próximo alvo dele, disso eu tenho certeza. – mordi o lanche.

- Por quanto tempo essa operação deve seguir? – perguntou Ramiro.

- Até sairmos com o Mão Negra algemado. Nós temos uma chance e eu não vou desperdiçá-la, mas se vocês quiserem desistir é só falar que eu ligo para o delegado.

Ouve-se um silêncio dentro do veículo.

- Legal! Agora foquem na missão.

Ele apareceria, eu tinha certeza. Eu não sei o que, mas algo me dizia que Mão Negra não passaria daquela noite. Eu estava no banco do carona olhando para fora, admirando a noite de uma certa forma. Sempre gostei da paisagem noturna e nunca tentei entender, mas eu sempre adorei. Ele virá. Celso Amorim chamou no rádio.

- Como vão às coisas por ai?

- Estão indo. – respondi.

- Se quiser eu posso trocar o turno.

- Eu vou ficar. – respondi por mim. Ninguém me tiraria da li.

Ramiro e Silva disseram que também ficariam até o amanhecer se caso precisasse.

- Bom trabalho, rapazes.

Voltamos ao silêncio. Ramiro bocejava o tempo todo enquanto que Silva enviava mensagens cretinas para sua namorada pelo Whatsapp. Por volta das duas da manhã vi uma movimentação estranha perto da loja. Era ele. Mão Negra. Chamei atenção dos meus companheiros dentro do carro e também dos que estavam fora.

- Atenção rapazes, o nosso alvo chegou. Ao meu comando somente. – disse eu ao rádio.

Lá estava ele, o ladrão. Calça jeans, botas, casaco cinza e uma bolsa de viagem atravessada no tronco. Mão Negra. O sujeito era audacioso, mal se preocupou com as câmeras ou se havia seguranças dentro ou ao redor da loja. Rapidamente ele sacou uma ferramenta e já foi a introduzindo na fechadura. Meu sangue ferveu nessa hora. Quanta sensação de impunidade, que certeza é essa de que nunca será pego? Essa farra terá fim hoje e agora. Foi o que pensei.

- Atenção tropa, me dêem cobertura, vou descer.

Ramiro me segurou no ombro direito.

- Tenha cuidado!

Desci do carro. Caminhei com minha arma em punho e com o coração batendo na garganta. Ele ainda tentava abrir o portão de ferro quando falei.

- Quer uma mãozinha, amigo.

*

Aconteceu como se eu tivesse visto tudo em câmera lenta. Mão Negra girou o corpo sacando sua arma. Eu apontei e atirei ao mesmo tempo que ele. Senti medo de morrer, de deixar minha Marlene viúva, da nossa segunda lua de mel no Sul do país. Manuel Clemente não poderia se safar dessa vez. Eu senti o calor da bala passando a centímetros da minha cabeça e vi o Mão Negra cair batendo as costas no portão de ferro segurando o ferimento no ombro esquerdo. Ele me xingava horrores.

- Você está preso, Mão Negra. – eu disse com meus companheiros correndo em meu auxílio.

- Mas que merda foi essa J.A? Você está bem? – gritou Silva.

Eu não respondi, apenas permaneci ali parado assistindo o maldito ser algemado. Missão cumprida.

Tempos depois em meu último dia como agente da policia civil, eu terminara de empacotar minhas coisas quando Silva chegou em minha mesa correndo.

- Amorim solicitou sua presença na sala dele.

- Putz!

Deixei a caixa com meus pertences em cima da mesa e fui. Silva foi atrás de mim me dando apoio psicológico. Abri a porta do meu chefe raivoso e vi todos do departamento aglomerados lá dentro.

- Parabéns, grande J.A. – berrou Celso.

Ruborizei e não segurei a emoção. Os aplausos ecoaram naqueles poucos metros quadrados. Amorim foi para trás de sua mesa. Abriu a gaveta e tirou de lá um quadro.

- Mandamos fazer pra você.

Amorim passou a minhas mãos a folha de A4 com a mão negra emoldurada. Muitos não entenderão, afinal, o que o cartão de visitas de um ladrão tão perigoso e que quase destruiu o meu casamento faz pendurado na sala de minha casa? Pois é, mas para mim significa muito. Depois desse dia fui pra casa, para os braços da minha Marlene e como o prometido, fomos para o Sul curtir nossa segunda e mais longa lua de mel. FIM.

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Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 27/05/2022
Código do texto: T7524992
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