Mão Negra - Capítulo 5

Mão Negra

Capítulo 5

Ao despertar antes mesmo do horário habitual, Marlene deu uma rápida olhada para o lado direito da cama e não viu seu marido. Ao se dar conta de que havia mais uma vez dormido sozinha, a esposa de J.A pensou em pegar o celular e descarregar toda sua fúria sobre ele, mas hesitou. João Antônio pode ser qualquer coisa, mas nunca foi um mal marido. “Uma mulher sábia edifica sua casa e a tola a destrói com suas mãos” foi o que ela aprendeu lendo os sagrados textos bíblicos. Marlene pegou o celular sim, mas não para atear mais gasolina na fogueira.

- Oi, querida?

- Oi. Como vão às coisas?

- Acho que dessa vez eu consigo por às mãos no desgraçado.

- Ótimo. Você é o meu herói. Vá pegá-lo, por mim.

- Deixa comigo, princesa.

- Eu te amo. – um nó se formou em sua garganta.

- Também te amo querida.

*

Estou velho, meio barrigudo, mas nunca cansado. Confesso que o sono de uma madrugada inteira sem dormir já começara a me debilitar, mas eu precisava manter o ritmo. O meu próximo plantão seria da li a vinte quatro horas, tempo o suficiente para que o Mão Negra conseguisse escapar. Eu não poderia esperar. Eu estava motivado, minha mulher me colocou outra vez em combate. Liguei sem receios para Amorim.

- Celso Amorim falando.

- Fala chefe! Encontrei uma parada importante no esconderijo do Mão Negra.

- O que, como assim, você ainda está ai?

Engoli seco.

- Me perdoe por desobedecer suas ordens, chefe. Mas, eu acho que estamos perto de pegar o cara.

Eu puder ouvir a respiração do delegado se tornar ofegante.

- Depois conversamos sobre isso. Diz o que achou?

- Mão Negra segue uma linha de pontos a serem atacados e eu tenho quase certeza que sei onde será o próximo ponto.

- Segue...

- Conhece a Tempo dos Lírios?

- Sim, a maior e mais cara loja de produtos de higiene pessoal da cidade.

- Isso. Esse é o próximo ponto a ser roubado.

- Pelo amor de Deus, J.A, como você sabe disso?

- Ele esteve lá e ainda fez uma pequena compra.

Nesse momento eu olhava para o pequeno frasco de sabonete líquido, produto exclusivo da tal loja que coloquei em cima do painel do meu carro.

- Certo! Me encontre em uma hora lá no departamento.

*

O ser humano nunca está satisfeito com nada, quanto mais tem, mais quer. Os quinze mil reais que pegou do motel ainda não foi o bastante e por isso Manuel Clemente já se prepara para o próximo “trabalho”. Mas ele também sabe que a polícia anda atrás dele, o Mão Negra se tornou uma figura carimbada em toda região e isso é péssimo. Ser um criminoso procurado é viver cada dia entre dois caminhos: prisão ou morte. Nenhuma das duas lhe agrada. Mão Negra - segundo ele próprio, nasceu para ser livre, nasceu para viver, então que seja assim. Ao trabalho.

*

Eu aproveitei esse intervalo de uma hora dada por Amorim para passar em casa e beijar minha mulher. Ela me recebeu surpresa. Marlene não esperava me ver ali. Nos beijamos na porta da cozinha durante um bom tempo, me senti um garoto apaixonado abraçado a menina amada da escola. Marlene fez café, pão fresco e ovos mexidos. Comemos e conversamos bastante. Ela estava linda, um doce de pessoa como sempre foi.

- Que tal quinze dias no Sul? – sugeri. Ela não acreditou.

- Tá falando sério?

- Sim! Minha aposentadoria está pertinho e para comemorar, que tal quinze dias fora dessa cidade, sem Amorim e é claro, sem Mão Negra?

- Ai amor, acho ótimo.

Ela me beijou outra vez.

- Já pode ir fazendo as malas.

- É pra já.

*

Entrei na sala do chefe Amorim e o mesmo demostrava um cansaço quase palpável. A vida do meu delegado também não tem sido nada fácil. Ele divorciou-se há dois anos e nesse tempo ele conheceu uma mulher a qual faz de sua existência um inferno. Celso nunca foi de verdade apaixonado por ela, tudo o que ele queria era curtição e causar ciúmes na ex. Pobre coitado.

Na sala já haviam cinco outros agentes aguardando o início da reunião. Ao me ver, Amorim não esboçou qualquer expressão.

- Pessoal, é o seguinte; o Mão Negra vai atacar novamente e o nosso colega J.A sabe aonde será. Temos uma chance e eu a quero aproveitar. Eu já estou de saco cheio dessa história. Por isso vamos montar guarda disfarçada no local e pegar o safado. É simples.

- Terá que ser uma operação limpa, ninguém precisa sair ferido. – falei.

- Exatamente. – bateu palmas. - Valeu pessoal. Dispensados. Menos você, João Antônio.

Nessa hora eu perdi o chão. Assim que se viu sozinho comigo, Amorim ocupou uma das cadeiras e desabafou.

- Sabe porque não deixei ninguém guardando o esconderijo do Mão Negra? Porque eu sabia que você não cumpriria minhas ordens de ir embora. Você é um baita profissional, João, e pode não parecer, mas eu lhe admiro muito. Eu sabia que você entraria naquele lugar e encontraria algo que os outros não foram capazes de encontrar. J.A, o melhor investigador que já trabalhei. Fará muita falta, pode acreditar.

Eu queria chorar, mas me segurei.

- Obrigado, chefe. – apertamos as mãos.

- Vá lá prender o Mão Negra.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 25/05/2022
Código do texto: T7523800
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