Como um anjo

Aterrada, Juliana chorava ante os dois indivíduos que a cercavam naquele beco escuro. Ela havia tentado correr quando percebeu que os estranhos a seguiam pela rua deserta, mas as sandálias impediram a fuga.

Por várias vezes a jovem de apenas 22 anos foi alertada pelos pais sobre o quanto era perigoso andar pela cidade sozinha à noite. Contudo, ela se distraiu em conversas com as amigas após deixar a faculdade. As horas passaram rápido e Juliana decidiu-se ir para casa apenas às 23h30min. Como era uma quarta-feira, as pessoas haviam se recolhido cedo no bairro residencial por onde passava.

- Por favor, me deixem ir, não tenho dinheiro – Disse entre lágrimas.

Com um sorriso nefasto no rosto, um deles retrucou:

- Não é dinheiro que queremos.

Ela tremeu ante o crime hediondo da qual estava por ser vítima. Bonita, a universitária por várias vezes ouvia as cantadas que detestava quando passava na rua, nunca deu atenção. Só não imaginava que justo ela poderia ser vítima de algo tão medonho.

Maltrapilhos, cheirando a cachaça e cigarro, os dois agressores avançaram em direção Juliana, que começou a gritar. Sua boca foi tapada pela mão suja de um deles.

Como que distraidamente, Gabriel dobra a esquina e se depara com a cena. Uma mulher em meio a dois agressores com as piores intenções. Parado, ele continuou olhando sem reação, até que um deles se adiantou:

- Vai andando, vagabundo! – O sujeito puxou um canivete.

Estupefato por ter sido chamado de vagabundo por um elemento que agredia uma mulher, Gabriel avisou que ligaria para a polícia. Foi nesse momento que o homem armado avançou sobre ele.

Gabriel media 1,80, não era forte, peso proporcional a altura. De ar pacato e distraído. Ao ver o canivete brilhando em sua direção, ele deu um passo para trás, se esquivou da faca e acertou um soco no rosto do indivíduo. Foi um soco muito bem aplicado, uma vez que o seu adversário caiu no chão desacordado. Não levantaria tão cedo.

Vendo o comparsa abatido, o outro também foi em direção a Gabriel, mas com as mãos nuas. Ao tentar socá-lo, foi imobilizado e teve um dos braços deslocados. Levantando com dificuldade, pôs-se a fugir, dizendo que ia se vingar. É nessas horas que saber uma arte marcial é de grande valia.

Juliana viu à sua frente um salvador, um herói. Alguém que a resgatou como um anjo.

Foi em direção a ele e o abraçou, agradecendo e chorando.

Gabriel disse que havia apenas feito a sua parte.

Caso soubesse que Gabriel, um jovem educado, inteligente e de boa aparência havia matado dez pessoas no estado vizinho, ela não se sentiria tão segura. Aquele homem estava passando uns dias naquela cidade apenas para apagar seu rastro, pois a polícia estava enlouquecida atrás do “maníaco da corda”, como o definiram em referência ao objeto usado por ele para dar fim à vida das suas vítimas.

Caso soubesse quem era aquele homem, que ainda no dia anterior havia sumido com mais um corpo, Juliana estaria com medo, com muito medo.

Os dois saíram dali juntos, caminhando tranquilamente pela rua, indo em direção à casa de Juliana. Gabriel, como sempre, era polido, educado e agradável, como com todas as vítimas.