Brainstorming

- Um cúmplice? - Indagou da segunda fileira de cadeiras o inspetor Egele Post, afrouxando a gravata do terno. De pé no fundo da sala, ao lado de um grande quadro de cortiça coberto de documentos e fotos afixados com tachinhas, o inspetor Palle Wagenaar pegou uma pastilha de goma de mascar oferecida pela colega, Doeie Holwerda, antes de responder:

- Provavelmente, não. A intenção do assassino era muito provavelmente colocar o visitante na cena do crime.

Os presentes na sala de instruções da Delegacia de Homicídios, quatro inspetores incluindo a dupla Wagenaar/Holwerda, responsável pelo caso Veenstra, faziam um brainstorming para ver se conseguiam chegar à alguma conclusão prática quanto à autoria e móvel do crime. Wagenaar colocou a goma na boca e começou a mascar, enquanto aguardava pelas manifestações dos colegas.

- Vamos recapitular - sugeriu Holwerda, erguendo-se de sua cadeira na primeira fileira e posicionando-se do lado oposto ao do parceiro, junto ao quadro de avisos. - A que horas ligaram para a polícia dando a notícia do crime?

- Às 7:30 h de 5 de Fluch - disse Wagenaar, apontando para um papelucho amarelo preso na linha do tempo do quadro de avisos. - Um telefonema feito a partir de um telefone público na rodoviária do centro da cidade, mais de 10 km de distância do local do crime. Eu cheguei lá por volta de 8:45 h, e já encontrei Lutger e Fabe fazendo a perícia.

- O assassino realmente queria que alguém fosse incriminado pelo que fez, - avaliou Bintse Ykema, o outro inspetor presente - mas tomou precauções para não ser identificado.

- Uma coisa parece óbvia - atalhou Post. - Se o assassino já estava no prédio, ele provavelmente mora lá, ou se escondeu em algum apartamento até que a polícia saísse.

Wagenaar voltou-se para ele, parando momentaneamente de mascar a goma.

- O assassino já estava no prédio, concordo; o tal visitante parece ser apenas uma tentativa de desviar a nossa atenção, embora saber quem ele é e o que foi fazer lá, certamente vai ajudar na investigação.

- Veenstra tinha inimigos? - Questionou Ykema.

- Até onde conseguimos averiguar... não - admitiu Wagenaar. - Mas alguém no edifício Ierdswel conhecia qualquer que fosse o segredo que Veenstra guardava, e o matou por causa disso.

- Estamos falando de algo material ou de uma vingança? - Inquiriu Ykema. - O sujeito teve a nuca arrebentada!

- Reviraram os móveis... estavam atrás de alguma coisa - avaliou Wagenaar.

- Se ligaram para a polícia da rodoviária, deveríamos acreditar que o assassino saiu do prédio na manhã seguinte, após o crime? - Questionou Post.

- Se for um morador, pode ter saído para trabalhar sem despertar suspeitas - ponderou Holwerda. - Precisamos fazer uma lista de todos os moradores e empregados do prédio, um deles pode ser o responsável.

- Alguma possibilidade de alguém estar se escondendo num apartamento vazio... e não ser um morador? - Inquiriu Post.

- Possibilidade, existe - admitiu Wagenaar. - Mas o prédio tem uma portaria 24 h e apenas uma entrada; se um estranho entrasse e não saísse num tempo razoável, isso despertaria suspeitas do porteiro, que fatalmente avisaria o zelador.

- Exceto se os porteiros ou o zelador estiverem envolvidos nisso, de alguma forma - avaliou Ykema.

- Vocês podem nos ajudar no levantamento dos álibis e antecedentes de todos os residentes maiores de 16 anos - sugeriu Holwerda, pegando ela mesma uma pastilha de goma de mascar da caixinha metálica que levava no bolso do casaco. - Palle já fez uma lista com base nas informações do zelador, agora é só jogar no sistema.

- A parte do sistema eu posso fazer - ofereceu-se Post. - E me dê uma pastilha dessas, que você só ofereceu para o Palle!

Holwerda riu, estendendo-lhe a caixinha.

- Mas não estava querendo parar com esse mau hábito? Você também quer, Bintse?

Ykema fez um gesto negativo.

- Eu passo. E com licença que vou à Universidade Van Tuinen, ver se entrevisto os colegas do falecido professor Veenstra...

[Continua]

- [10-08-2021]