O Grifo Dourado

Palle Wagenaar exibiu o distintivo com o grifo dourado para o policial uniformizado que estava na entrada do apartamento do morto.

- Inspetor? A perícia já está trabalhando lá dentro.

- Está bem; mantenha os curiosos afastados - recomendou Wagenaar, indicando com o polegar os moradores que se aglomeravam na entrada do corredor.

- Voltem para suas casas! - Bradou o policial. - Quem ficar olhando, será chamado como testemunha!

Num átimo, todos, menos uma mulher de cerca de 40 anos de idade, desapareceram. Prestes a entrar na cena do crime, o inspetor aguardou, curioso, enquanto ela se aproximava.

- Podem me chamar como testemunha - ela alertou. - Na verdade, eu vi um suspeito saindo do apartamento do Sr. Veenstra, pouco depois das 21 h de ontem.

O inspetor puxou uma caderneta de anotações e uma caneta do bolso do sobretudo.

- Como se chama, senhora...

- Sasje Koster - informou a mulher, enrolando os cabelos louros num gesto reflexo. - Eu moro no 37-B.

- Então, a senhora viu um suspeito...

- Um homem alto, de sobretudo cinza e chapéu de feltro preto; ele estava com a gola do sobretudo levantada e o chapéu abaixado sob o rosto, portanto não pude lhe ver as feições. Passou rapidamente por mim no corredor e desceu pelas escadas, não pelo elevador.

Wagenaar anotava cuidadosamente o relato da testemunha.

- Isso ocorreu pouco depois das 21 h?

- Sim.

- E o que fazia no corredor à esta hora?

- Fui à lixeira, precisava jogar fora um saco de lixo.

- Ouviu alguma coisa estranha no apartamento do Sr. Veenstra? Discussão, barulho...

Sasje Koster balançou negativamente a cabeça.

- Não. Tudo estava em silêncio e o homem fechou a porta ao sair, mas não a trancou; acredito que o Sr. Veenstra já estava morto então, embora eu ainda não soubesse disso.

- E como soube da morte do Sr. Veenstra, a propósito?

- Fui à padaria hoje de manhã, e na volta vi as viaturas paradas em frente ao prédio. O porteiro do dia me informou o que havia acontecido.

- Ah, sim... grato pela sua colaboração, Sra. Keizer...

- Koster.

- Sim, perdão... Koster. Se importaria de vir comigo mais tarde, fazer um depoimento oficial na delegacia?

- Não, não me importo... pobre Sr. Veenstra... quero ajudar a pegar quem o matou.

- Apartamento 37-B, não é?

- Sim, no lado oposto do corredor. Toque a campainha, vou lhe servir um café.

- Agradecido - sorriu Wagenaar, guardando o bloco de anotações. - Até mais tarde, então.

A mulher afastou-se de volta para casa, e Wagenaar finalmente adentrou a cena do crime. Dois peritos deveriam estar ali dentro, um fotografando o local e o outro colhendo indícios. Wagenaar calçou luvas de borracha, enquanto cumprimentava o perito que fotografava pegadas ensanguentadas no linóleo.

- Lutger... e o Fabe?

- Na cozinha! - Gritou uma voz vinda do aposento à direita da entrada.

As pegadas ensanguentadas vinham de lá e paravam no meio da sala.

- O corpo está aí? - Indagou Wagenaar.

- Sim - confirmou Fabe.

Com todo cuidado para não pisar nas manchas de sangue, o inspetor entrou na cozinha. O corpo de Roimer Veenstra, um homem de seus 60 anos e poucos anos, estava caído de bruços no meio do aposento, a cabeça arrebentada no meio de uma poça de sangue.

- Parece que foi pego de surpresa - avaliou Fabe, de pé junto a pia.

- A arma do crime?

- Algum objeto contundente, mas o assassino deve tê-lo levado consigo. O certo é que a vítima o conhecia, pois as chaves estão na fechadura, pelo lado de dentro da porta.

- Ele abriu a porta para o assassino - concluiu o inspetor.

- Tudo leva a crer que ele convidou o assassino a vir aqui - assentiu Fabe. - Há duas xícaras de chá sobre a mesa da cozinha, mas Veenstra não teve tempo de servir.

- O que teria dado errado para desencadear uma reação tão violenta? - Ponderou Wagenaar, mão no queixo.

- E, aparentemente sem qualquer altercação preliminar, ou os vizinhos teriam ouvido - acrescentou Fabe.

- Muito bem. Partindo do pressuposto de que se tratava de alguém conhecido, vou atrás de uma agenda telefônica ou bloco de anotações - decidiu Wagenaar. - Me informe quando tiver acabado, para liberar o corpo para o rabecão.

- Sim, inspetor - replicou Fabe, enquanto aplicava um pincel com pó nos puxadores das portas dos armários da cozinha, para obter impressões digitais.

[Continua]

- [07-08-2021]