Entre ilusões

Letícia parecia incrédula no que via. Como pode o seu professor ser a cara do seu… Bem, não sei como definir Luís, mas era certa que ele era alguém querido. De todo modo, olhava e olhava para tentar confirmar se não estava vendo coisas. Entretanto, como não conseguia chegar a uma conclusão, decidiu observar por algumas semanas para ver se não era só a aparência que o seu professor tinha de Luís.

Passadas três semanas, estava certa que era ele. Assim, decidiu confrontá-lo na saída da aula, uma vez que achava aquela situação inadmissível.

- Ei!

- Pois não?

- Você não tem vergonha não? Depois de tudo que eu passei?

- Desculpa, eu não estou entendendo.

- Ah, para com o teatro vai, Luís! Eu sei que é você!

- Quem?

- LUÍS! L-U-I-S!

- Não faço a menor ideia do que você está falando.

- Anrã, sei. Anda, desembucha! Fala como você armou esse teatro todo!

- Olha, continuo sem saber a que você se refere.

Com a reação inesperada e até assustada de seu professor, Letícia começou a pensar se não tinha ido longe demais ou se poderia estar equivocada em suas observações. Pior, será que agir daquele jeito poderia prejudicá-la no curso? Seja como for, não podia ser tão inconsequente com um estranho. No fim das contas, decidiu pedir desculpas.

Felizmente, seu professor aceitou as desculpas e decidiu esquecer tudo, pelo bem do curso e da convivência. Passados alguns dias, Letícia acabou pensando em outra estratégia e decidiu seguir seu professor após a saída da classe. Por mais que se sentisse mal com suas ações, ainda não estava certa sobre ele não ser Luís. Talvez por saudade, talvez por receio em aceitar precisava fazer isso. E fez.

Durante três dias, viu que suas ações deram em água. Todos os dias, o professor se dirigia da delegacia para a sua casa, algo extremamente rotineiro. Estava começando a desanimar, mas aí veio o quarto dia. Nesse dia, o professor pegou um roteiro diferente e foi para outro lugar o que animou Letícia. “Agora, eu vou descobrir o que tanto você esconde”, pensou Letícia.

O local ao qual se dirigiu o professor era uma oficina meio suja, um espaço típico para esconder algo ou não chamar atenção. Aquele local a lembrou do galpão da última missão que Hector a levou, a qual acabou levando um tiro. Uma lembrança péssima, mas também um alerta para o que poderia encontrar.

Até por isso, não se apressava em fazer um estardalhaço. Isso também era uma influência das aulas que vinha tendo. “Quanto mais silencioso, melhor o detetive”, repetia com frequência o seu professor. Isso ecoou na sua cabeça e fazia muito sentido, segui-lo. Assim o fez. Caminhava entre lentos e rápidos passos. Tudo com olhos ressabiados ao redor, afinal estava em um local desconhecido para ela.

A cada passo que se aproximava, Letícia sentia seu coração bater mais acelerado. Pela primeira vez, estava em ação, sozinha. Tentava não pensar nisso, pois sabia que se pensasse, travaria, afinal não tinha a experiência de Luís, tampouco a metodologia fria de Hector para agir. Ainda estava descobrindo qual o seu perfil de detetive, uma jornada desconhecida que se tornava mais e mais interessante a cada minuto.

Enfim, chegara a janela. Levantou a cabeça para espiar lá dentro ao que viu seu professor conversando com alguém que portava óculos escuros. Eles ficaram conversando por vários minutos e chegaram a ter uma discussão aparente com gestos de mãos e expressões que pareciam ser de gritos. Quando viu aquilo, Letícia se assustou e acabou derrubando e quebrando umas garrafas de cerveja que estavam perto. Aquele barulho chamou a atenção dos dois que olharam pra janela. Letícia, num ato reflexo, abaixou-se na esperança de não ser vista.

Todavia, não foi tão rápida assim. Os homens do lado de dentro fizeram um sinal para algum de seus auxiliares do lado de fora, os quais, Letícia desconhecia. Em questão de minutos, eles apareceram por trás dela e colocaram um pano com clorofórmio em sua face, apagando-a. Em seguida, a levaram para dentro da oficina, colocando-a numa cadeira, com os braços para trás, as pernas pra frente, ambos amarrados. Além disso, foi colocada uma venda em seu rosto para que não soubesse onde estava.

Passadas algumas horas, Letícia acordou com uma luz sobre sua cabeça. Estava assustada e começou a tentar se mexer, mas não conseguia devido a estar com pernas e braços amarrados. Desesperada, começou a gritar por socorro quando foi entrecortada por uma voz que a deixou gélida e quieta como há tempos não sentia.

- Ora, ora, olha o que vento trouxe para nós…

O que seria de Letícia?

Continua...

O andarilho.

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 21/05/2021
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