O despertar
Atônita e sem saber o que havia se passado nas últimas horas, Letícia despertara em um local desconhecido, contando com a sua última lembrança a de ter levado um tiro, o que explica o porquê de, ao despertar, tocar a sua barriga. Para sua felicidade, não havia mais machucados ali, somente as dores normais em uma região operada que ainda estava cicatrizar. Felizmente, não precisava mais se preocupar com isso.
Todavia, Letícia ainda estava sem saber como as coisas tinham transcorrido. Ganhamos? Perdemos? Tudo era um mistério para quem acabara de abrir os olhos naquele momento, ainda mais em uma cama de hospital, acompanhada somente do investigador que a levou aquela situação, algo que, embora não fosse inesperado, não sentia que aconteceria. Enfim, fatos da vida.
- Onde, onde estou?
- Letícia? Ah, você acordou! Que maravilha!
- Hector?
- Sim, querida, estou aqui.
- Mas e a emboscada? Conseguiram pegar a Natasha?
- Calma, calma, não se esforce demais. Sim, conseguimos capturá-la.
- Foi? Que bom! Mas por que você está aqui e não está com a equipe?
- Então… algumas coisas aconteceram e acabei ficando pra trás. Mas sem problemas.
- Eita, que chato! Foi minha culpa?
- Não foi sua culpa. O importante é que você está bem.
- Certo… E vem cá, a gente pode falar sobre o meu treino?
- Vamos discutir isso quando você sair daqui? Eu acho mais interessante.
- Promete?
- Dou a minha palavra.
Satisfeita com o que ouvira, Letícia voltou a recostar na cama, pensando se poderia ter os seus anseios de se tornar uma investigadora atendidos, afinal já tinha feito algumas intervenções nesse campo, seja como curiosa, seja como “aprendiz”. Nada mais justo que aprendesse a fazer as coisas na teoria.
Todavia, ela não sabia que a sua incursão naquela investigação havia causado vários problemas para Hector. Ao contrário de Luís, ele não era tão direto para jogar problemas na cara dela. Preferia ser mais diplomático que explosivo, até porque não tinha intimidade para tanto. Também pesava o fato de Letícia estar em um hospital por não ter sido devidamente protegida, fato que foi ressaltado por Melissa junto com a morte de vários oficiais na missão. Com um certo exagero, tudo pesava nas suas costas. E isso teria um peso decisivo nas suas próximas ações.
Passados dois dias, Letícia teve alta e pôde sair do hospital em direção a sua casa. Hector tinha ficado aqueles dias pela cidade e ofereceu carona para ela na viagem de volta, pois seria a oportunidade para discutir acerca do seu pedido para ser treinada como investigadora. Tencionava apelar para o seu lado racional, embasando na experiência dessa última investigação para mostrar os riscos envolvidos no processo.
- Então, Letícia acerca do seu pedido.
- Sim, você vai me treinar?
- Creio que não é uma boa ideia, posto que eu estou costumeiramente em ação e, tendo em vista o ocorrido na última investigação, você há de convir que é melhor até para a sua segurança.
- Aquilo? Querido, eu já perdi muitas pessoas próximas nessas missões! Pode relaxar que com a minha segurança, eu me preocupo, tá!
- Não é tão simples, assim! No momento em que te aceito como minha “aprendiz”, tenho responsabilidade direta pelo seu aprendizado e sua segurança. Não dá pra te largar em campo em qualquer oportunidade, entende?
- O que você quer dizer com isso?
- Que você ainda não está pronta para ir a campo.
- Ah, é isso?
- Sim, em sua maior parte, sim.
- Mas eu também não achava que estava pronta! Só não sabia disso (dá um sorriso de leve pra irritação de Hector).
- Err… Enfim, dito isso, eu sugiro a você que entre pra nova turma que vai abrir na delegacia.
- Espera, espera, espera, você está me dizendo que não vai mais me ensinar?
- Sim, exatamente.
- Hmm, não aceito.
- Não falei que essa era uma opção.
- Continuo sem aceitar.
- Então, a nossa jornada vai se encerrar quando você ficar em sua casa.
- Ok, então.
O silêncio incômodo passou a tomar conta do carro. Mas não durou tanto quanto pareceu. Vinte minutos depois, Letícia e Hector estavam discutindo novamente sobre os motivos que levaram Hector a desistir de treiná-la. Apesar de sentir-se com a razão, expondo seus motivos, Hector seguia sem compreender por que Letícia teimava tanto em seguir com uma operação experimental e bastante arriscada. Todavia, manteve sua posição até deixá-la em sua casa. Esperava que chegasse a um bom-senso depois que estivesse devidamente descansada e recuperada.
Mesmo depois de uma semana, Letícia seguia insistindo para que ele a ensinasse. Depois de muita insistência, ele a convenceu a fazer uma das aulas do curso para novos investigadores sob a condição de que se não gostasse das aulas, ele seria o seu tutor. Resoluta como sempre, ela topou, com a certeza de, ao final do processo, Hector seria o seu tutor.
Entretanto, a vida tem suas peças. Enquanto conversava com seus colegas para conhecer como funcionava o curso, Letícia tomou um susto e perdeu o ar quando viu o professor entrar na sala, expressando o seu susto em uma expressão muda: “Luís”?
Continua...
O andarilho