Entre escombros

Soterrado por escombros, Hector tentava se levantar. Ainda buscava entender o que tinha acabado de acontecer naquele momento. O último suspiro de Natasha fora uma grande surpresa. Nunca pensaria que ela desistiria de tudo com tamanha facilidade para não ser pega. Talvez isso explicasse os seus “olhos loucos”. Talvez fosse só a sua impressão pela adrenalina alta. A única certeza era que não estava morto. Era preciso se levantar.

Não sabia se por sorte ou infortúnio, os escombros do armazém não haviam pego nenhum órgão vital de Hector. Aos poucos, ia voltando a si, lutando contra o sufocamento dos tijolos e telhas que o cobriam. Inicialmente, não era capaz de se mover. Tentava se mexer, mas era tudo em vão. Estava paralisado pelos tijolos o encobrindo e pelas vigas que caíram do teto. Seria o seu fim?

Isso sequer passava pela sua cabeça, uma vez que não parava de tentar se mexer. Mesmo com os movimentos travados, achava que poderia ter alguma chance de sair se conseguisse soltar ao menos um braço, ou quem sabe, se algum dos seus aliados viesse ao seu socorro. Alguém com melhor sorte e desempenho em situações de desespero. A pergunta que ficava era se teria essa chance nesse caso.

Pra sua sorte sim. Regressando do hospital, depois de dar entrada a uma desacordada Letícia, um de seus parceiros apareceu acompanhado de mais três aliados, eram os seus “heróis”. Como não podia deixar de ser, todos tomaram um susto ao se deparar com aqueles escombros. O primeiro pensamento que correu em suas mentes foi entender o que raios tinham acontecido ali, questão que passariam mais tempo discutindo, se não um deles não tivesse a iniciativa de sair correndo e levantando logo os primeiros escombros que visse pela frente. E, antes de ouvir quaisquer reclamações, já dirigia o olhar pra eles, gritarem e passarem a ajudar.

E assim o foi. Os quatro começaram a gritar e levantar tijolos, toras de madeira, enquanto gritavam buscando algum sinal de vida. Qualquer um já seria ótimo. Depois de 15 minutos, revirando e gritando, eles perceberam algumas movimentações próximas a entrada do armazém, região onde se encontrava o grupo de Hector e Melissa. A primeira pessoa que conseguiram retirar foi Melissa. Coberta de poeira e tossindo muito, a primeira coisa que ela disse foi “puta merda, achei que ia morrer. Não deixem mais o Hector no controle, cof, cof”. Os ajudantes se entreolharam surpresos, mas não fizeram muito caso e seguiram buscando por sobreviventes.

Depois de retirar quatro pessoas, enfim, chegaram até Hector. Seu estado era o pior visto as vigas cruzadas que o suprimiam. Foi preciso o auxílio de todos os que já haviam saído para conseguir retirá-lo. Mais branco do que papel, Hector conseguiu sair rastejando e depois apoiado. Estava vivo, embora não soubesse como. Mal saíra e já ouvia reclamações de Melissa:

- “Tenho tudo sob controle”, né? “Não precisa se preocupar”.

- Ah, pou.. cof cof.. pe me do sermão!

- Meu querido, eu quase morri! Da próxima vez, EU fico no comando!

- A missão não era capturar a inimiga? Então, está feita!

- Você chama isso de capturar? (Fala, enquanto aponta para os escombros). Ah, faça-me o favor!

- Olha, tudo bem, tivemos um pouco de azar, mas conseguimos derrubá-la! Isso que é o importante!

- É, mas a que custo?

- Tá, tá, tudo bem, mas reclama depois que a gente sair. No momento, eu só quero respirar um pouco.

- Ok, você tem razão. Então, localizem logo a Natasha pra gente sair daqui.

- Isso, se ela estiver viva, né?

- A essa altura, eu prendo até o cadáver!

Embora tenha ficado desconcertado com aquela frase, Hector estava demasiado cansado para reclamar. Só queria acabar com tudo aquilo e ir pra casa. Por isso, mantinha os olhos atentos às movimentações do local. Enquanto sua equipe ia desbravando o campo, em busca de Natasha. Andaram, andaram e andaram, até que, enfim, encontraram Natasha. Ela estava com uma pulsação baixíssima, mas ainda viva. Não pensaram duas vezes: colocaram algemas nela e jogaram na van. O resto deixavam com os bombeiros e os médicos locais. A missão fora, enfim, bem-sucedida.

Todavia, Hector ainda não podia partir. Não sem saber qual o estado de Letícia. Por fim, optou por dividir tarefas e deixar Melissa encarregada de levar Natasha de volta para interrogá-la, enquanto ele acompanharia Letícia no hospital. Apesar de ainda estar com raiva de Hector, Melissa achou sensata a divisão de tarefas e acompanhou o grupo que ficaria no hospital com Natasha até que estivesse estável o suficiente para viajar. Hector ficou com Letícia.

No dia seguinte, Melissa e os outros saíram em um grupo com Natasha em coma induzido. Hector se despediu deles e regressou pro apartamento. Após sentar na cadeira, começou a pensar no vendaval de emoções que se passou na última semana. Desde o planejamento da missão, com a inclusão de uma “estagiária” no meio, até a viagem, pareciam ter se passado anos. Soma-se isso ao cansaço e tinha-se a perfeita equação da devastação. Entretanto, não reclamaria, afinal sabia onde estava se metendo ao escolher esse ramo. O jeito era descansar, esperar pela melhora de Letícia para retornar e começar tudo de novo.

Após vários minutos de silêncio, um som, enfim, quebra essa rotina:

- Onde estou?

Letícia acordou.

Continua...

O andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 10/04/2021
Código do texto: T7228863
Classificação de conteúdo: seguro