Confrontos
As horas passaram num piscar. Toda a estratégia estava posta na mesa. A equipe se mobilizava para o conflito. Hector tentava esconder os seus temores por trazer uma “novata” para um ambiente louco como aquele, uma vez que era o líder da operação e responsável direto por ela. Não poderia arcar com grandes erros, sobretudo pelo olhar atento de Melissa, cujo sucesso dessa empreitada corroboraria em uma promoção e maior crescimento para sua carreira. Estava aberta a temporada dos confrontos.
Letícia, do seu lado, começava a sentir uma apreensão cada vez maior, algo que não sabia explicar. Sim, já havia seguido Luís e alguns momentos e se interessado pelo assunto, ou até feito parte de algumas operações. Contudo, aquele momento era diferente. Não se sentia no controle de nada, mas somente como uma observadora de tudo. Por mais educado que fosse, Hector não era Luís. Não tinha a mesma intimidade e liberdade com ele. Era tudo muito cordial e, até certo ponto, formal. Apesar de entender a situação, sentia-se incomodada no começo. Incômodo que se seguiu de um medo crescente a cada momento em que a operação evoluía, o que não parte de seu cotidiano...
Do outro lado da cidade, uma risada entrecortava a noite. Natasha ria enquanto virava uma taça de vinho, sem a menor das preocupações. Acompanhada de seus comparsas, ela havia acabado de elaborar a sua estratégia para o encontro com Hector e Melissa e seus comparsas. A presença da agente infiltrada foi um grande às em sua manga, algo que Hector não cogitaria em suas teorias. Experiente como ela em seus anos de vilania, Natasha gozava da vantagem por já ter confrontado e derrubado outros policiais anteriormente. Além disso, ainda queria a vingança pela derrubada de seus aliados. Estava com “fome”, conforme diriam os seus aliados.
“Estamos a caminho daqui a meia hora. Prepare-se”, foi a mensagem que chegou para Natasha. Alterando a sua postura, colocou a taça de lado, enquanto distribuía ordens para seus comandados. Qualquer pessoa que chegasse ali naquele momento, provavelmente estranharia. Contudo, era meio difícil tentar contrariar uma mulher com um facão na perna e uma pistola na mão, ainda mais quando essa mulher carrega sobre si a alcunha de “retalhadora”. Quem arriscaria falar algo contra?
A equipe de Melissa e Hector tinha pressa em chegar. Precisavam surpreendê-los e para isso, chegaria no princípio da noite, quando acreditavam que todos estariam de guarda baixa, o que era o pilar central de sua estratégia. Caso tudo corresse como o planejado, não precisaria se explicar o porquê de ter levado uma novata para um campo minado. Quem sabe até arrumasse uma nova estagiária para ensinar e conversar?
Todavia, assim como a vida, uma operação secreta pode ser cheia de surpresas, especialmente quando envolve muita gente, o que nem sempre pode ser um fator positivo. Isso foi o que Hector aprendeu no momento em que chegou ao armazém abandonado de Natasha, dando voz de prisão nela e nos seus colegas.
- Aqui é a polícia! O prédio está cercado e vocês não tem pra onde ir!
- Uh, que brabo! Do jeitinho que eu gosto!
- Vai vir por bem ou por mal?
- Você tem certeza que está no controle aqui?
- O que você quer dizer?
Nesse momento, vários comparsas de Natasha saíram das sombras, apontando armas para a equipe de Hector e Melissa, tornando a cilada, um contra-ataque inesperado!
- Então, você dizia?
- Mãos pra cima, Natasha! Sabemos dos seus crimes!
- Ué, ainda não desistiu? Que fofo!
- Eu não estou para brincadeira! (Nessa hora, Hector dispara um tiro que passa perto de Natasha).
- Olha! Não é que ele é brabo!?
- Ande, largue as suas armas e se renda!
- Querido, quem está cercado aqui é você. Por mais que eu curta esse jogo, ambos sabemos quem está em vantagem né?
De fato, Natasha parecia estar em vantagem. Enquanto a equipe de Hector e Melissa contava com algo em torno de quarenta policiais, Natasha tinha a seu lado, setenta pessoas. Todas equipadas e encurralando a equipe de Hector. Parecia ser uma prisão sem saída para Hector, ainda mais quando Érica, a coordenadora da operação na cidade, virou-se para Hector e disparou um tiro em sua perna, algo que o deixou atônito e sem reação.
- Aaaah! Mas que merda foi essa? Endoidou Érica?!
- Merda? Eu só auxiliando a minha chefa! Você realmente achou que poderia vir para essa cidade e dominar tudo, só por que estava na cabeça da organização?
Revoltado e surpreso, Hector assistia enquanto a sua gerente de operações se dirigia até Natasha, com um olhar confiante, certa de que tinha ganho créditos com sua chefa. Numa rápida troca de olhares com Melissa, Hector buscava alguma saída até que lembrou de seu parceiro que estaria atento aos seus movimentos, bastando apenas uma palavra sua para que ele viesse ao seu resgate.
Com múltiplas armas apontadas para sua face, Hector se viu sem alternativas a não ser apelar para seu suporte de resgate, agindo de uma maneira disfarçada para não chamar atenção.
- Bem, já que estou na beira da morte aqui, você seria caridosa o bastante para me permitir algumas últimas palavras?
- Querido, não se iluda assim! Eu que defino a hora e como você morre. Mas, se você quiser apelar pros céus para algum apelo milagroso, eu deixo, vá.
- Sabia que você não me decepcionaria..
- Hector, o que você…
- Onde estão vocês, ó lobos da minha matilha? Onde estão vocês para uivar junto comigo?!
Ao ouvir aquilo, Natasha começou a rir compulsoriamente, acompanhada de seus comparsas, pensando que Hector havia, enfim, enlouquecido. Ou seja, não representava mais uma ameaça, mas apenas mais uma de suas vítimas em sua jornada de crime.
Todavia, do lado de fora do armazém, buzinas começaram a tocar, enquanto pessoas invadiam o armazém, armados com armas e bombas. No comando deles, estava o parceiro convocado por Hector, antes de entrar em ação. Ao trocarem olhares, ele deu um uivo breve, seguido de seus aliados, o que deu calafrios e a certeza que o jogo tinha virado mais uma vez.
Olhando tudo aquilo, Natasha estava começando a ficar furiosa novamente, uma vez que a sua vantagem estava indo pro saco. Apesar de achar que ainda estava em vantagem, a presença daquelas pessoas a deixava incerta de sua vitória, pondo em cheque toda a sua estratégia. Contudo, não perdeu a pose e continuou a debochar de Hector e Melissa.
- Você realmente acha que ganhou o jogo com a ajuda desses gatos pingados? Ainda mais quando chegam “latindo” aqui? Mas que piada!
- Eu não estou vendo, mas ninguém rindo além de você…
Nervosa, com aquela situação, Natasha decidiu descontar a sua fúria em uma de suas aliadas, pegando o facão da perna e disferindo um ataque forte e rápido no braço de Érica, sua agente infiltrada, que não demonstrou reação.
- Aaaaah, mas por que você fez isso? O que foi que eu fiz??
- Claramente, você não fez a sua missão direito. Como não pôde perceber que ele tinha uma equipe de apoio pronta?
- Perdão, perdão, chefa. Eu não o vi invocá-los em nenhum momento!
- Pedir perdão não vai ajudar em nada com a nossa situação aqui, sua inútil. Ah, deixa quieto, já vi que falar com você é um desperdício. Nós encerramos por aqui.
Natasha, então cortou a garganta de Érica que caiu e sangrou até morrer. Hector que observava tudo aquilo, embora tenha ficado impressionado, não se deixou abater e voltou às suas atenções ao diálogo, uma vez que julgava ter a vantagem da situação.
- Não precisava matá-la.
- Calado! Ela é minha subordinada e foi incompetente. Não fará falta.
- Renda-se agora, antes que tenhamos mais baixas.
- E negar uma boa luta?
Nesse momento, Natasha fez um sinal com as mãos para que um de seus soldados disparassem um tiro, em alguns dos soldados que estavam mais atrás. O tiro acabou atingindo Letícia que caiu desacordada. Isso gerou uma reação impensada de Hector que gritou “É guerra”!, avançando em direção ao grupo de Natasha. Qual seria o desfecho desse confronto?
continua...
O andarilho