LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte dois - Capítulo cinco

LINHA POLICIAL

Paulo Alves

Quando ainda pertencia o lado da lei, Antônio Carlos não fazia tanto estardalhaço quando havia uma baixa na corporação. Ele apenas lamentava e agradecia aos céus por não ter sido ele a vítima. Para Peixe, a vida de um policial era semelhante a de um mosquito, que nasce pela manhã e morre ao entardecer. Simples assim. Mas agora que ele se encontra defendendo a bandeira da criminalidade, o que era comum, passou a não ter significado algum. Matar ou mandar matar um policial não gera nele sentimento algum, nem mesmo receio. Ele sabe que assassinar um tira e crime hediondo e mais do que isso. O batalhão inteiro virá com força total atrás dele e ele simplesmente segue contando seu dinheiro sujo em seu escritório – eles que lutem!

Contabilidade feita. Tudo dentro do esperado. Conta bancária cada vez mais gorda e muitos outros negócios rentáveis para tocar. Peixe deixou o escritório esfregando às mãos sendo observado por Filé e outros capangas. É nítida a preocupação no olhar de cada um deles, principalmente de Felipe Chagas o autor dos disparos que tiraram a vida de Carvalho.

- Tem certeza de que o senhor não quer dar o fora antes que seja tarde? – Filé coçou a cabeça.

- Absoluta. Eles virão e isso é normal. Temos que pensar da seguinte forma; o que nós faríamos?

- Bom, eu... – disse outro comparsa.

- Exatamente. Reuniria meus melhores homens e iniciaria uma caçada. – estalou os dedos. – agora já não é mais uma investigação ou operação policial. Tudo agora é uma questão de honra. Vingança. Aqueles canalhas safados morderam a isca. Eles estão emocionalmente desestabilizados. Temos que tirar proveito disso.

- Hum, agora entendi. – disse Filé. – uma guerra. Era tudo o que você queria.

- Sim. – deu às costas. – temos um bom armamento. Estamos em maior número, essa briga está no papo.

- Peixe. – Falou Filé sorrindo. – chegou o momento de usarmos aquele brinquedinho?

- Divirta-se, meu caro.

*

A madrugada demorou a passar e Paulo aproveitou para arrancar mais informações dos detidos assim como Damião Ramos também. Na sala de interrogatório ambos apavoram quem se encontra sentado naquela cadeira fria e algemado a mesa. Ramos é quem mais mete medo com seus dois metros de altura e pesando três dígitos bem pesados na balança. O detido não consegue segurar o tremor das pernas assim que o chefe se coloca em pé atrás dele e para deixar às coisas ainda mais interessantes, Damião repousou suas enormes mãos em seus ombros com força.

- Isso é tudo que você tem a dizer sobre o Peixe. Não acredito. – piscou para Paulo no canto da sala de braços cruzados.

- Pode acreditar. Ele quase não aparecia lá na loja e quando aparecia era só para deixar minha grana e pegar a parte dele. Eu juro.

- Quem jura sempre mente. – retrucou Alves.

- Verdade. – Ramos bateu na mesa. – Peixe deve ter uma base, um escritório, sei lá, me diga alguma coisa. – disse perto do ouvido do detido.

- Preciso de garantias.

A gargalhada do chefe fez as paredes da sala balançarem, até mesmo Alves se assustou descruzando os braços.

- Ok, lhe darei garantias. Agora fale tudo o que sabe.

Damião saiu da sala deixando Paulo colhendo às informações. Ele gostaria de ficar, mas achou melhor que Alves terminasse o serviço, afinal, ele é o líder em questão. Além do mais, Ramos está curtindo muito esse lance de deixar um pouco a parte burocrática e assumir o papel de agente que coloca a cara para bater. Nesse momento ele está nas mãos do novato e isso é muito bom. Com sono e cansado Damião se serviu de uma xícara de café e caminhou até sua sala. A vida de um policial é injusta demais, cercada de altos e baixos e quase sempre os momentos difíceis superam os bons. Ao se jogar na cadeira ele se recorda de quando ainda era um aspirante, de como era vibrante, empolgado e as vezes impetuoso. Isso tudo o levou a chefia de polícia. Tal cargo o engessou, o transformou num burocrata em potencial.

Mas hoje ele tem a chance de mudar. Terá a oportunidade de retornar o campo de batalha e guerrear como um verdadeiro soldado. Ramos engoliu o café e se levantou. Saiu de sua sala e esbarrou com Alves no meio do caminho.

- Peixe tem um escritório, fica no centro, podemos cercar o lugar hoje, antes das seis da manhã.

- Sim. Vou junto. – colocou às mãos na cintura.

- O senhor tem certeza? Me parece cansado.

Ramos sentiu vontade de bocejar, mas se controlou.

- Normal, para quem não prega os olhos a mais de quinze horas.

- Vou reunir os rapazes.

- Eu vou na sala de armas, nada de pistola, eu quero brinquedo grande, compatível com o meu tamanho. – riu.

*

Mara sente seu corpo sendo invadido por Paulo enquanto o mesmo diz coisas obscenas ao pé de seu ouvido. A morena se derrete, o suor se misturando ao do policial naquela cama ardente. A intensidade das penetradas vão aumentando a deixando sem ar.

- Aí, Paulo! – suspirou.

Paulo Alves a morde nas costas e depois nos ombros e em seguida, de maneira não tão delicada ele puxa seus cabelos e diz.

- Sua sem vergonha. Foi assim que aconteceu naquele quarto de motel?

Mara despertou do sonho ofegante e com a boca seca. Olhou para o outro lado do quarto e depois para a janela. Por morar no quinto andar de um prédio dentro de um condomínio, Mara pode se dar ao luxo de dormir com ela aberta, principalmente nas noites mais quentes. Pois é, ela deixou Paulo escorrer por entre os dedos e agora chora amargamente. Está difícil esquecê-lo. Agora ela sabe o quanto burra ela foi. Trocá-lo por uma aventura que durou duas horas somente. Foi mais que o suficiente para estragar toda uma vida promissora ao lado dele. Chorar não vai adiantar nada. O jeito é seguir em frente e colher o que se plantou.

*

O dia começou a mostrar seus primeiros faixos de luz e o DP não parou um instante sequer. Faltando poucos minutos para as seis da manhã as viaturas começaram a sair da garagem. Homens uniformizados e armados com fuzis e outras automáticas. Acomodado no banco do carona da terceira viatura e portando uma calibre doze entre as pernas está Damião tendo como condutor e líder, Alves. Eles conversam, trocam experiência e traçam planos de como será a abordagem. Tanto Alves quanto Ramos tem a plena convicção de que haverá uma forte resistência, Peixe não joga limpo, nunca jogou.

- Acredita que aquele pilantra entregou uma operação que poderia salvar milhares e milhares de vidas. Na época ele embolsou seiscentos mil reais limpinhos. Antônio nunca esteve do nosso lado.

- Além de levar companheiros para emboscadas. – completou Paulo.

- Sim. Nada ficou provado, mas está na cara que foi ele o responsável. Chegou o dia. Demorou, mas a conta chegou. – bateu no cano da arma.

Se as coordenadas estiverem certas, a prisão de Peixe é apenas uma questão de tempo. Um policial de verdade não se dar ao luxo de relaxar e achar que tudo está sob controle. Quando isso acontece é certo o fracasso de uma operação. É evidente que Antônio e seu grupo estejam preparados para o combate e podem até estar em vantagem no quesito armamento, porém, o que sobra na parte policial é a vontade e o poder de resistência. Contra isso não há bomba núclear que posso destruir.

*

A primeira viatura parou e em seguida às outras. Paulo Alves desceu portando seu fuzil olhando a extensão da rua. Damião conferiu se tudo estava acontecendo como o planejado.

- Equipe um, dois, três e quatro já estão em suas posições?

- Tudo ok, senhor!

Alves pegou o binóculo em cima do painel do carro e o ajustou. Um pequeno prédio de cinco andares logo na saída da rua.

- Quero um homem com um fuzil de mira naquele prédio. Precisamos ter cobertura, senhor. – passou o equipamento para Ramos.

- Beleza. – chamou no rádio mais uma vez. – equipe um na escuta. Vão para a saída da rua, preciso de um atirador no prédio verde, estão vendo?

- Copiado!

Alves conferiu o horário. Seis e trinta e cinco. Uma boa hora para iniciar uma guerra. Lado a lado, chefe Damião e investigador Paulo Alves, juntos caminhando rua acima.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 29/09/2020
Código do texto: T7075342
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