A Jornalista

A minha família é grande demais, e sempre estudamos na mesma escola, íamos a igreja aos domingos e depois o almoço cheio de conversas, risadas, nós mulheres sempre limpando e cozinhando os homens trabalhando, nos repassando a visão de mundo e enxergamos as coisas a partir do ponto de vista deles e isto era bom. Afinal, somos família, confiamos uns nos outros e entendemos a posição hierárquica de cada um.

Tudo seria perfeito se não fosse o sistema e sua falsa moralidade...os homens da família ficaram desempregados, outros tiveram que trabalhar, mas não era suficiente para pagar todas as contas...muita gente, muitos gastos...sem falar nas crianças que comem de 2 em 2 segundos e precisam de tv, remédios e tudo o mais...assim como os mais velhos. Acabou que a véia morreu, a aposentadoria dela se foi junto, não tivemos como manter casa e fomos despejados na rua sem dó nem piedade. E na rua, sofremos todos os tipos de violência inimagináveis. Na rua, conheci o mundo e vi que ele realmente é mais cruel do que meus familiares me repassaram...como sempre fui inteligente, antenada, veloz, consegui estudar, consegui um emprego num supermercado como repositora, que é um cargo excelente...pude financiar uma faculdade, depois levei golpe da faculdade e do governo com seu programa medíocre. Estas acusações que chegam até a mim, que me desmoraliza e machuca minha família são inaceitáveis. Não faço nada diferente do que as instituições...atuando como jornalista, eu narro as notícias que são de interesse dos espectadores, de interesse das emissoras, eu relato a realidade, se uso uma ou outra palavra, se adiciono um aperitivo para tornar tudo mais atrativo, isto não deve ser visto como falsidade ideológica...se houveram pessoas que se suicidaram por conta da exposição de um ato da própria vítima. Lamento muito a morte, os problemas que foram gerados por conta das minhas matérias, mas também não tenho como controlar o comportamento dos meus leitores e também de quem está expondo sua vida. Também penso que As palavras que dirigi, não pegou uma faca, uma arma, uma corda e cometeu estes crimes...por mais que ache interessante e acredite no meu potencial...mas é preciso ter um nível intelectual muito desenvolvido como o meu para compreender isto...então desculpo todos vocês...é difícil enxergar as coisas de cima, estando embaixo...hahahha.

Também, agora toda casa que tiver uma revista/jornal/livro com meus escritos significa que sou a causadora do caos? Já vivemos um caos. Eu sou o caos.

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 25/09/2020
Código do texto: T7072226
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.