Desespero

Desespero. Esse era o tom que guiava as ações de Melissa e Hector. Os olhares trocados daqueles que, até alguns minutos foram inimigos, diziam tudo. A situação em que Luís se encontrava era difícil. Estresse, cansaço e uma possível hemorragia interna eram as suas principais preocupações. Acrescente a isso o transporte de toda a gangue de Jacó e seus comparsas e o cenário estava feito. Não seria nada fácil.

Com tudo isso em jogo era difícil enxergar alguma esperança no fim do túnel. Todavia, Melissa atuava como um agente infiltrada por seis meses, ou seja, possuía acesso a recursos difíceis de ser encontrados numa região tão distante da cidade como a que estavam, o que poderia ser um ponto de virada no momento.

De fato, foi. Lembrar desses recursos facilitou a Hector e Melissa chamar reforços enquanto se dirigiam ao hospital mais próximo. Apesar dos tiros, eles conseguiram parar os sangramentos, embora Luís continuasse desacordado. Enfim, a esperança voltava.

Depois de caminharem por cerca de uns 300 metros, encontraram uma lancha próxima a costa. Melissa levou-os até um local, onde guardavam um jipe. Chegando lá, desceram e colocaram Luís no banco de trás. O hospital mais próximo ficava a vinte minutos dali. Não tinham tempo a perder.

- Qual a situação?

- Igual a da praia. Os reforços chegaram?

- Estão a caminho. Vai dar tempo.

- Creio que sim, agora me explica como começou essa operação?

- Ironicamente, foi de uma investigação feita pelo próprio Jacó.

- Como?

- Ano passado, Jacó coordenou a prisão de um grande traficante, dono de vários territórios na cidade.

- E isso chamou a atenção por...

- O traficante ficou preso por míseros dois meses. E a sua liberação foi feita pelo próprio Jacó, que só impôs uma sanção para liberá-lo.

- Hmm, e a partir daí, você achou que ele tinha envolvimento no caso?

- Na verdade, eu continuei observando o traficante desde a sua saída da prisão. Como não estava trabalhando no caso, ele não sabia quem eu era.

- Isso não explica como você chegou até aqui.

- Eu tinha um informante na região que me informou do caso. Foi ele quem citou o nome do Jacó, citado em uma mesa de bar, durante a articulação de um golpe.

- Ah entendi.

- Daí, falei com meus superiores e organizei essa missão.

- Ah compreendo. Isso contabilizava as mortes também?

- ...

- Ou todos os enigmas?

- Isso foi criação do Horácio, que o Jacó decidiu incrementar. Eu apenas continuei a atuação.

- Conveniente, não?

- Um mal necessário para um bem maior, eu diria.

- Cada um se engana como pode, não é?

- Olha, a gente pode continuar essa inquisição depois? Chegamos ao hospital.

- Certo, certo. Prioridades.

Entraram no hospital e, na sequência, solicitaram um quarto para Luís. Sua aparência era muito pálida o que os deixou preocupados. Felizmente, conseguiram ser atendidos e levar Luís para o quarto. Como Melissa estava no comando da operação infiltrada e dos apoios externos saiu deixando-o aos cuidados de Hector. Sem conseguir resposta sobre a quem comunicar do estado de Luís procurou suas últimas ligações. Então decidiu comunicar Olavo, que acionou também Letícia.

Letícia foi a primeira a chegar. Estava com uma cara de cansaço, afinal estava cuidando da sua irmã que se recuperava da perda do marido e do filho. Mas Luís era uma daquelas pessoas ímpares, tanto para o bem quanto para o mal, ainda mais depois dos eventos com a sua irmã.

- Então, como ele está?

- Estável, embora ele tenha perdido bastante sangue.

- Ainda bem! Isso explica o porquê dele não atender as minhas ligações!

- Ah, então era você que estava ligando!

- Sim, era eu! Por que ele não me atendeu?

- Ah, esses dias foram péssimos, muita tensão nas investigações.

- Mas nem uma ligação? Uma mensagem que seja?

- Olha, aí você tem que ver com ele. Mas eu não o condenaria...

- Como não? Depois de tudo o que nós passamos, eu mereço mais respeito!

- Calma, calma, eu não conheço a história de vocês, mas sei um pouco do que ele passou durante essa semana e foi muito pesado! Olha, porque você não vai tomar um café pra se acalmar?

- Tá, você tem razão, eu vou.

- Por sinal, você sabe o telefone de algum familiar dele?

- Sim, eu já liguei para o irmão dele.

- Ah, perfeito. Bem, pode ir lá que eu espero aqui.

- Tá...

Pouco tempo depois que Letícia saiu, os batimentos cardíacos de Luís subiram muito o que forçou Hector a chamar as enfermeiras para socorre-lo. Estaria o fim de Luís próximo?

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 20/09/2020
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