Enigma 5

Oito da manhã. Luís acordara com um pouco mais de ânimo, especialmente depois de salvar mais uma vítima e notar uma pista de ligação que o fazia regressar à delegacia. Embora preferisse trabalhar sozinho, a presença de Hector contribuiu para oxigenar as ideias e dar uma guia para chegar ao fim desses enigmas e, quem sabe, a captura dessa malfadada gangue.

Depois de uma boa dose de café, Luís começou a organizar o seu dia a dia. Todavia, estranhava o fato da gangue seguir em silêncio até aquele momento, uma vez que eles costumavam mandar os enigmas cedo ou fazer "zoações" com os casos em pouco tempo. Dessa vez, nada acontecia e aquilo era esquisito. Será que tinham desistido?

Na verdade, não sabia. Ainda não tinha como saber. Com o auxílio de Hector, chegou à suspeita de ser um trabalho de dentro, alguém da delegacia que não gostava dele ou não queria ver esse caso resolvido. Entretanto, atuava de forma autônoma há anos, como alguém haveria de se sentir ameaçado por ele? Estranho, simplesmente estranho.

Em meio a todas essas inquietações, seu telefone tocou. Não, ainda não era a gangue com o 5o enigma, era Hector que trazia notícias.

- Fala, Hector.

- Então, Luís, aquele figura da imagem das câmeras, realmente, é um auxiliar antigo do Jacó, chamado Edgar. Ele ficou na delegacia até 2018, quando pediu demissão e se mudou para outra cidade.

- Hmm. E tem aí pra onde ele foi?

- Deixa ver... não, não diz.

- Certo, certo, mas o que os relatos dizem dele? Era um bom detetive?

- Sim. Nunca perdia prazos, chegava sempre em ponto e era eleito com frequência para "melhor funcionário do mês".

- Currículo perfeito... Até demais não acha?

- Fiquei com essa impressão, também.

- O que me leva a pergunta: por que surgiu agora? Por que regressar somente dois anos depois?

- Talvez estivesse sido contactado pra dar fim em alguém, ou então...

- Então...

- Então, ele retornou para ocupar o lugar de alguém que vai se aposentar ou ocupar uma posição investigativa que a delegacia não possui. Não sei, são várias opções.

- De fato. Pelo que você disse eu não posso acusá-lo agora. Não antes de ter provas do crime.

- Exato.

- Sendo assim, creio que observaremos por mais tempo. Você tem como colocar alguém para ver os seus movimentos?

- Um "vigia", você diz?

- Sim. Resolvendo isso, podemos dar início à caçada de hoje?

- Perfeito, falarei com o Tadeu, antigo agente da polícia, atuou infiltrado muitos anos.

- De confiança?

- Pode apostar que sim.

- Ótimo! Encontre-me daqui a meia hora no Café da Zina. Lá, passarei os detalhes do enigma.

- Certo, até já.

- Até.

Em trinta minutos, a nova dupla dinâmica estava junta. O último enigma parecia ser mais complicado, uma vez que trazia uma frase bem esquisita: "Ao olhar pro horizonte, vejo a natureza imperfeita em constante movimento. Se, em falso pisar, as consequências serão fatais. Só o caminho certo, servirá".

- E aí o que você me diz?

- Bem, certamente não é aqui na cidade.

- Sim, isso eu também notei. Mas onde então?

- Nos limites da cidade, nós temos falésias e morros. Quais deles ficam longe o suficiente da civilização, sem casas nem moradores por perto?

- Deixa eu pensar... Tem o Monte dos Navegantes na zona sul da cidade, relativamente perto daqui, e tem a Trincheira dos Guerrilheiros lá na zona oeste, região que também tem a Caverna do Diabo.

- Mais algum?

- Que me veem à cabeça somente esses. Alguma preferência para começar?

- Bem, sejamos lógicos. Primeiro, vamos para o Monte dos Navegantes, cuja distância nos favorece.

- Perfeito, você dirige?

- Pode ser. Vamos lá.

Assim, saíram. Ao chegarem no Monte dos Navegantes, passaram a observar os arredores. Uma trilha que levava ao topo do Monte, que dava uma bela vista da Lagoa da cidade. um cenário bonito, mas sem tantos problemas para ser alcançado. Era uma pena, mas era preciso colocar o pé na estrada de novo.

- Por que eu ainda cometo esses erros?

- Faz parte da alegria em ser um detetive, não é?

- Haha, vamos palhaço. Vamos acabar com isso.

- Guie o caminho. A direção é toda sua.

E assim seguiram. Depois de quase uma hora, cruzaram toda a cidade até a Trincheira dos Guerrilheiros. Esse, de fato, tinha um cenário desafiador com as formações rochosas em todos os trechos da trilha. Ou melhor, das trilhas. Divididas em fácil, médio e difícil, apesar de não ter guias no local para auxiliar. Realmente, ali era o local.

Luís e Hector não titubearam. Foram na trilha mais difícil. O caminho tortuoso, realmente batia com a descrição do enigma. Qualquer pisada em falso, poderia levá-los a ficar presos por tempo indeterminado, com a ajuda a um bom tempo de distância. Era preciso ser cuidadoso para chegar até o fim.

Passo por passo. Pedras por pedras. Um caminho sinuoso e tortuoso entre subidas e descidas até chegar ao mar. A vista total e aberta numa área de difícil acesso para carros. Seria esse o fim do caminho?

Uma parada para respirar, recuperar o fôlego. Um olhar no horizonte e no caminho percorrido para ter certeza dos passos tomados. Por uma das poucas vezes, desde que começou esses enigmas, Luís sentiu que estava no caminho certo. Um novo olhar ao redor o permitiu identificar uma cabana cercada por coqueiros. Não parecia ser um espaço muito grande, mas o suficiente para esconder alguém. Decidiram averiguar.

- Ali?

- É o único local disponível não é?

- Creio que sim.

- Então, vamos.

- Luís, calma. Vamos com cuidado.

- Claro que sim, não nasci ontem.

- Sugiro a você que desligue o celular, também.

- O quê? Ah sim. Ixi, ela tá ligando. Agora, é impossível atendê-la.

- Essa não é aquela que tava no hospital?

- Sim, mas depois eu explico. Foco.

- Como você quiser.

Dessa forma, seguiram pela praia, tomando todo o cuidado do mundo para não serem surpreendidos por armadilhas. Caminhando sem pressa, até alcançar a cabana. Ao chegar nela, abriram a porta e notaram que ela estava vazia! Não havia ninguém na cabana. E agora?

Mais adiante no caminho, após a mata cerrada, uma fogueira estava acesa. Uma mulher estava desacordada próxima a fogueira e deitada em um colchão. Ela possuía algemas nos pulsos e suas pernas estavam amarradas a duas árvores nos arredores da fogueira. Seria essa a verdadeira vítima?

Continua...

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 14/08/2020
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