Enigma 4 parte 2
À toda velocidade. Com todos os esforços, Luís e Hector corriam. O tempo era o inimigo deles, visto que o prazo estendido estava perto do fim. A vítima que poderia ser salva onde tudo começou naquele dia. O espaço que passara oculto na vista de dois detetives determinados a fazer justiça. Ou apenas determinados a ganhar o pão de cada dia. Uma vida estava em jogo, então quaisquer motivos que a salvassem haveriam de ser válidos.
A adrenalina que subia só fazia comprovar o óbvio: não havia tempo para hesitar. Tampouco para se perguntar como deixaram passar algo tão significativo para a investigação. Era preciso chegar pra resolver, especialmente por essa ser a penúltima vítima, consequentemente o alívio que Luís tanto esperava.
Por isso, o susto na chegada ao primeiro cinema. O segurança que olhava desconfiado sem querer liberar o espaço sob a desculpa do faxineiro estar limpando o local, o que demorou mais uns 10 minutos, mas na visão de Luís pareciam horas. Hector tentava aliviar um pouco a sua tensão, mas, às vezes, era simplesmente impossível.
Enfim, depois de liberada a sala, Luís e Hector entraram. O espaço era pequeno, acomodando livros e algumas projeções de filme. Ficavam imaginando como seria possível alguém caber ali. Procuraram de cima a baixo e não viram nada. Ficaram nessa ciranda por alguns minutos e, quando estavam prestes a desistir, ouviram barulhos de batidas. Começaram a procurar pela sala a origem desses sons. Infelizmente, não conseguiram achar nada. Seria só imaginação?
Felizmente não. Depois de muito rodar na sala, Luís percebeu que estavam diante de uma parede falsa! Procurou abri-la, forçando contra ela. Contudo, ela não cedia. Eis que num golpe de sorte, Hector acionou uma alavanca escondida e a parede falsa se abriu, dando acesso a uma pessoa sentada, com os braços e pernas amarrados e uma mordaça na boca. Seu semblante era um misto de alívio e desespero ao ver os dois detetives.
O primeiro ímpeto de Luís foi correr para soltá-la. Entretanto, Hector deu um grito, parando quaisquer movimentos de Luís.
- Espera, Luís!
- O quê?
- Olhe pra baixo! Tem uma corda esticada!
- Puta merda!
- Pois é, vamos ter calma.
- Mas não temos muito tempo! Se não agirmos rápido, ela vai morrer!
- Sim, eu sei. Vamos pensar primeiro. As vítimas anteriores sempre estavam em um cenário assim?
- Assim como?
- Assim, presas com uma armadilha pronta pra disparar.
- Ah sim, sim. Estavam presas também.
- Então, devem ter armadilhas aqui também. Façamos o seguinte: Pule a corda, e olhe, com cuidado aos arredores para ver se nota algo. Enquanto isso, eu vou tentar soltá-la.
- Ok, parece razoável.
Dessa forma, Luís e Hector adentraram a sala. Andando com muito cuidado, conseguiram chegar até a vítima. Enquanto Hector desamarrava, Luís começava a olhar para a porta, caso alguém entrasse abruptamente.
Felizmente, deu tudo certo. Luís e Hector conseguiram resgatar a vítima e já iam saindo da sala. Todavia, após começarem a sair, ouviram um barulho da corda partindo. Olharam para trás e viram o teto abrindo e várias facas caindo no local, onde estava a cadeira. Ficaram imaginando que morte seria aquela, enquanto a garota chorava compulsivamente.
- Hei, hei, acabou. Agora, você está salva. Venha, vou te levar pra delegacia para prestar depoimentos, depois levamos você pro hospital, está bem?
- Si...sim - disse, entre soluços de choro.
- Perfeito, Luís você vem?
- Pode ir na frente Hector, eu vou tentar pegar as filmagens da câmera de hoje de manhã.
- Certo, nos encontramos em breve, então.
- Até mais.
- Até.
Luís seguiu pra administração do cinema para pedir as filmagens. Passou a ter uma desconfiança sobre o faxineiro que estava ali naquele momento. Pensou se estaria envolvido no caso.
Começou a olhar as filmagens e notou que o faxineiro era semelhante à pessoa que circulava nas outras cenas de crime. Focou sua atenção em um deles e, por alguns segundos, o lembrou de um auxiliar de Jacó que já vira algumas vezes, na delegacia. Será que Hector estaria certo em suas suspeitas? Haveria um infiltrado na delegacia?
Enquanto isso, numa praça perto dali, o faxineiro mandava mensagens para a líder da gangue e para Jacó, atualizando do caso.
- O herói venceu de novo.
- Foi? Olha só, mas ainda temos mais um desafio. Obrigada por seus préstimos, querido.
Jacó, por sua vez, demonstrou mais descontentamento.
- Vocês são uns inúteis mesmo! Espero mesmo que Luís desista da investigação ao final do dia de amanhã.
- E nós já falhamos com você, antes?
- E que siga assim.
Seria o fim de Luís?
O Andarilho.