O tiro
O tiro foi certeiro. A arma não foi disparada de longe, mas, ainda assim, a bala atingiu o alvo bem no meio. O alvo, por sua vez, era uma cabeça. Uma cabeça humana.
O calibre da arma e a curta distância do disparo foram fortes o suficiente para fazerem um belo estrago na vítima. O barulho, ensurdecedor, não foi escutado por ninguém, porque o lugar escolhido para o ato não era mesmo próximo de coisa alguma. O assassinado nada sofreu, dada a rapidez da coisa toda. Ao menos não sofreu após a saída do projétil da arma - já que os momentos anteriores foram de uma verdadeira tortura psicológica (sabia que não havia escapatória. O assassino era um sujeito que não escutava súplicas, nem perdoava).
Depois de feito o serviço, o homicida tirou a capa de chuva que estava inteira coberta de sangue, os sapatos, que também sofreram alguns respingos, e buscou, no fundo do armazém, o galão de gasolina previamente separado. Derramou o líquido em cima do cadáver, molhou a capa e os sapatos e despejou o resto ao longo das paredes e da palha que havia ali. Puxou um fósforo, o acendeu e pôs fogo em tudo.
Saiu calmamente do local, trancou a porta com uma grossa corrente de ferro, acendeu um cigarro e tragou profundamente. Uma, duas, três vezes. Cuspiu no chão e foi embora no veículo deixado a alguns metros do galpão. O corpo nunca mais foi encontrado.