Torres tem 29 anos, está no serviço policial há oito. Desde o início, trabalha na área de informações, no combate ao tráfico de drogas internacional. Há um ano, acompanha um esquema de traficantes que atravessa o continente a partir do Pacífico, e através de aeronaves, entram no Estado de São Paulo, até ganhar finalmente o mar pelos portos de Santos e Paranaguá. Quando necessita fazer alguma diligência externa, sai acompanhado de Lilia, uma bela morena de olhos claros, 32 anos, sua colega desde a academia e que está com ele nesta investigação. Seu chefe no setor é Jorge André, 52 anos, antigo de polícia, jogador de vôlei nos fins de semana pois, não perdeu o hábito desde a juventude, quando integrou a seleção estadual. É, por vezes, sisudo no desempenho do trabalho, mas por excesso de zelo. Torres está enfrentando um dilema na investigação à medida que a mesma avança. Há um vazamento na corporação que os impede de alcançar sucesso nas operações desencadeadas contra "El Cartel", cujo chefe chama-se Ramirez. Ramirez é ligado à alta cúpula do governo em seu país de origem. Numa madrugada entre um sábado e domingo, flagra uma conversa entre Juan, braço direito de Ramirez e um outro estrangeiro, cujo codinome é “El comandante”. Intrigado com a fluência da conversa e riqueza de detalhes, apesar do uso de um modulador de voz pelo estrangeiro, resolve apurar quem seria este elemento no quebra cabeça. Sem autorização legal para tal, Torres começa a cruzar as ligações de todos os telefones de colegas no setor, envolvidos, direta ou indiretamente, na investigação. Através de um monitoramento de antenas repetidoras, descobre que o aparelho não é conhecido porém, a localização de seu uso coincide com os horários de descanso das equipes e aponta na direção de um colega de outra instituição que ali também estava, em regime de intercâmbio policial. Justamente o mesmo país, que “El Cartel” tem sede. No dia seguinte, Torres conversa sobre o assunto com Jorge André:
- Chefe, a situação é essa. Vamos dar o bote nesses caras?
- Tá maluco Torres! A gente precisa identificar de quem é o número.
- Chefe, já disse: o CPF que consta para o número, é de um laranja, um cortador de cana no interior de São Paulo. Há três policiais aqui no intercâmbio. Todos militares. Um de alta patente e filho do chefe da Polícia Nacional do seu país. Os dois outros, oficiais de baixa patente da mesma instituição. Meu palpite, pelo volume financeiro das transações, é que seja o filho do comandante.
- Torres, você endoidou de vez... Tô fora! Se quiser vá falar com Varela, (chefe geral da instituição no estado). Ele vai te transferir imediatamente. Além disso, fará você responder a um processo por realização de monitoramento ilegal.
- Pô, chefe, quer saber?! É isso mesmo que vou fazer. - e sai da sala. Torres e Jorge André nunca haviam discutido antes. Jorge André tem admiração pelo trabalho de Torres. Policial repleto de condecorações e mais de cem prisões realizadas. No dia seguinte, o chefe geral chama Jorge André e comunica o afastamento de Torres. Ele fica surpreso. Não imaginava que Torres fosse realmente falar com Varela e que terminasse no seu afastamento. Acreditava que Torres recuaria.
Passados cerca de quinze dias, Jorge André, preocupado, resolve ir visitar Torres. Ao chegar ao seu apartamento, um quarto e sala no centro, vê no hall de entrada equipamentos clandestinos de monitoramento, estupefato diz:
- Caralho, Torres! Somos meros peões nesse tabuleiro, você está totalmente fora de controle!
- Porra nenhuma, chefe. Dessa vez, quem vai mexer os peões no tabuleiro, somos nós! Por favor, me escuta: tem um grande carregamento chegando, numa cidadezinha, a 100 km da capital.
Neste momento, a porta do banheiro se abre e Lilia sai envolta numa toalha. Jorge André exclama:
- Agora entendi! Já sei porque você tem tanta informação!
- Calma, chefe. Não é nada do que o senhor está pensando... e ela não fez nada de errado. Ainda sou policial, mesmo respondendo a um processo. Ela apenas dirimiu algumas dúvidas pertinentes à investigação. Ou o senhor esquece que ela, apesar de ser de outro estado da federação, está aqui a serviço?
Jorge André convencido, torna ao assunto vigente.
- Torres, você está afastado. Não tem que estar fazendo investigação alguma.
- Eu sei, chefe, mas se parar um pouco e nos ouvir, vai entender que a coisa é bem maior do que possa imaginar.
Jorge André resolve finalmente escutá-los. Após a exposição de ambos, decide:
- Vou mobilizar o pessoal.
Torres responde:
- Não, chefe, isso não rola. Quem irá participar sem autorização expressa de Varela?
- É verdade, Torres, mas então, como faremos, só nós dois?
Lilia responde:
- Estamos em três!
Torres se levanta e move a estante da sala para o lado, quando um reservado se abre e diz:
- Três e esse armamento aqui: fuzis, pistolas 9mm, granadas, bastante munição. Minha pick up está lá fora com o tanque cheio.
- Torres, isso é completamente irregular, você sabe que sou legalista. Estamos arriscando nossas carreiras?
- Não, chefe. O senhor e Lilia vão arriscar as suas. A minha já foi pro saco!
- Sim, mas se lograrmos êxito e efetuarmos as prisões, talvez não.
- Possivelmente, chefe. Essa é minha esperança.
- Ok, Torres. Você tem um café?
- Apenas solúvel e adoçante.
- Prepara uma caneca cheia, por favor.
Após o café, os três começam a carregar os fuzis e pistolas. Lilia dirige a pick up, é uma excelente motorista. Torres vai ao lado, de fuzil na mão, cortam, na madrugada, a cidade de São Paulo em minutos.
- Caraca, Torres, você colocou sirene em sua caminhonete?
- Somente para momentos excepcionais, como este.
Ambos riem, apesar de estarem um tanto nervosos. Cerca de duas horas depois, numa cidadezinha próxima a Sorocaba, viram à direita numa estrada de chão, rodam por 20 minutos e escondem o veículo debaixo de uma ponte, rente a uma pista de pouso. O sol começa a despontar. Duas caminhonetes se aproximam com oito homens armados. Um bimotor começa a realizar manobra no ar para pouso. Durante o descarregamento da droga, Torres diz a Jorge André:
- Não sei o que acontecerá hoje, pra mim sempre foi e será uma grande honra trabalhar com vocês dois.
Jorge André responde:
- Igualmente garoto. Sabe, trabalhei com um policial do interior do Estado do Rio que sempre dizia uma máxima nessas horas: "Hoje é um bom dia para morrer..."!
Lilia apenas sorri. Torres levanta, grita polícia e começam a atirar. O tiroteio é intenso, Lilia consegue acertar o motor da aeronave para evitar que a mesma volte a decolar. Jorge André, por ser desportista atuante, tem um forte lançamento com o braço direito, joga granada após granada em direção aos traficantes. Com sua perícia em lançamentos, consegue equilibrar o escore entre bandidos e policiais ao eliminar metade deles com os estilhaços das explosões. Torres salta da área abrigada e é alvejado. Mas, consegue se aproximar dos sobreviventes que, atordoados, não reagem.
- No chão, no chão, já disse!
Jorge André e Lilia, começam a algemá-los, apenas quatro sobrevivem, dentre estes, o piloto. Requisitam, então, apoio da polícia local por telefone. Quando ambos notam um profundo ferimento no abdome e braço esquerdo de Torres, prontamente o socorrem.
Passado um mês, e ainda em estado de glória por terem prendido o bando e desmontado a conexão do “El Cartel” no país, com a apreensão de pouco mais de uma tonelada de drogas mais a delação premiada posterior do piloto. Varela é promovido, consegue então junto a seus superiores uma moção de homenagem aos três policiais, pelo expressivo êxito. Torres, já aposentado em razão das sequelas sofridas no confronto, recebe Jorge André e Lilia em seu apartamento, e pergunta:
- Quem era o traidor? Alguém já sabia ou desconfiava?
Jorge André responde:
- É garoto, você estava certo. O filho do comandante da Polícia Nacional. Nem foi muito criativo ao criar seu codinome na quadrilha. Quem diria...
Os três riem e, dessa vez, Jorge André vai pra cozinha preparar o café.
Lilia na semana seguinte volta ao seu estado de origem. Jorge André, pouco tempo depois, se aposenta. Torres vai para o norte do país, visitar a família e em seguida pescar.
Nota: Essa é uma obra de ficção, assim como seus personagens.
Revisão: MHCC
- Chefe, a situação é essa. Vamos dar o bote nesses caras?
- Tá maluco Torres! A gente precisa identificar de quem é o número.
- Chefe, já disse: o CPF que consta para o número, é de um laranja, um cortador de cana no interior de São Paulo. Há três policiais aqui no intercâmbio. Todos militares. Um de alta patente e filho do chefe da Polícia Nacional do seu país. Os dois outros, oficiais de baixa patente da mesma instituição. Meu palpite, pelo volume financeiro das transações, é que seja o filho do comandante.
- Torres, você endoidou de vez... Tô fora! Se quiser vá falar com Varela, (chefe geral da instituição no estado). Ele vai te transferir imediatamente. Além disso, fará você responder a um processo por realização de monitoramento ilegal.
- Pô, chefe, quer saber?! É isso mesmo que vou fazer. - e sai da sala. Torres e Jorge André nunca haviam discutido antes. Jorge André tem admiração pelo trabalho de Torres. Policial repleto de condecorações e mais de cem prisões realizadas. No dia seguinte, o chefe geral chama Jorge André e comunica o afastamento de Torres. Ele fica surpreso. Não imaginava que Torres fosse realmente falar com Varela e que terminasse no seu afastamento. Acreditava que Torres recuaria.
Passados cerca de quinze dias, Jorge André, preocupado, resolve ir visitar Torres. Ao chegar ao seu apartamento, um quarto e sala no centro, vê no hall de entrada equipamentos clandestinos de monitoramento, estupefato diz:
- Caralho, Torres! Somos meros peões nesse tabuleiro, você está totalmente fora de controle!
- Porra nenhuma, chefe. Dessa vez, quem vai mexer os peões no tabuleiro, somos nós! Por favor, me escuta: tem um grande carregamento chegando, numa cidadezinha, a 100 km da capital.
Neste momento, a porta do banheiro se abre e Lilia sai envolta numa toalha. Jorge André exclama:
- Agora entendi! Já sei porque você tem tanta informação!
- Calma, chefe. Não é nada do que o senhor está pensando... e ela não fez nada de errado. Ainda sou policial, mesmo respondendo a um processo. Ela apenas dirimiu algumas dúvidas pertinentes à investigação. Ou o senhor esquece que ela, apesar de ser de outro estado da federação, está aqui a serviço?
Jorge André convencido, torna ao assunto vigente.
- Torres, você está afastado. Não tem que estar fazendo investigação alguma.
- Eu sei, chefe, mas se parar um pouco e nos ouvir, vai entender que a coisa é bem maior do que possa imaginar.
Jorge André resolve finalmente escutá-los. Após a exposição de ambos, decide:
- Vou mobilizar o pessoal.
Torres responde:
- Não, chefe, isso não rola. Quem irá participar sem autorização expressa de Varela?
- É verdade, Torres, mas então, como faremos, só nós dois?
Lilia responde:
- Estamos em três!
Torres se levanta e move a estante da sala para o lado, quando um reservado se abre e diz:
- Três e esse armamento aqui: fuzis, pistolas 9mm, granadas, bastante munição. Minha pick up está lá fora com o tanque cheio.
- Torres, isso é completamente irregular, você sabe que sou legalista. Estamos arriscando nossas carreiras?
- Não, chefe. O senhor e Lilia vão arriscar as suas. A minha já foi pro saco!
- Sim, mas se lograrmos êxito e efetuarmos as prisões, talvez não.
- Possivelmente, chefe. Essa é minha esperança.
- Ok, Torres. Você tem um café?
- Apenas solúvel e adoçante.
- Prepara uma caneca cheia, por favor.
Após o café, os três começam a carregar os fuzis e pistolas. Lilia dirige a pick up, é uma excelente motorista. Torres vai ao lado, de fuzil na mão, cortam, na madrugada, a cidade de São Paulo em minutos.
- Caraca, Torres, você colocou sirene em sua caminhonete?
- Somente para momentos excepcionais, como este.
Ambos riem, apesar de estarem um tanto nervosos. Cerca de duas horas depois, numa cidadezinha próxima a Sorocaba, viram à direita numa estrada de chão, rodam por 20 minutos e escondem o veículo debaixo de uma ponte, rente a uma pista de pouso. O sol começa a despontar. Duas caminhonetes se aproximam com oito homens armados. Um bimotor começa a realizar manobra no ar para pouso. Durante o descarregamento da droga, Torres diz a Jorge André:
- Não sei o que acontecerá hoje, pra mim sempre foi e será uma grande honra trabalhar com vocês dois.
Jorge André responde:
- Igualmente garoto. Sabe, trabalhei com um policial do interior do Estado do Rio que sempre dizia uma máxima nessas horas: "Hoje é um bom dia para morrer..."!
Lilia apenas sorri. Torres levanta, grita polícia e começam a atirar. O tiroteio é intenso, Lilia consegue acertar o motor da aeronave para evitar que a mesma volte a decolar. Jorge André, por ser desportista atuante, tem um forte lançamento com o braço direito, joga granada após granada em direção aos traficantes. Com sua perícia em lançamentos, consegue equilibrar o escore entre bandidos e policiais ao eliminar metade deles com os estilhaços das explosões. Torres salta da área abrigada e é alvejado. Mas, consegue se aproximar dos sobreviventes que, atordoados, não reagem.
- No chão, no chão, já disse!
Jorge André e Lilia, começam a algemá-los, apenas quatro sobrevivem, dentre estes, o piloto. Requisitam, então, apoio da polícia local por telefone. Quando ambos notam um profundo ferimento no abdome e braço esquerdo de Torres, prontamente o socorrem.
Passado um mês, e ainda em estado de glória por terem prendido o bando e desmontado a conexão do “El Cartel” no país, com a apreensão de pouco mais de uma tonelada de drogas mais a delação premiada posterior do piloto. Varela é promovido, consegue então junto a seus superiores uma moção de homenagem aos três policiais, pelo expressivo êxito. Torres, já aposentado em razão das sequelas sofridas no confronto, recebe Jorge André e Lilia em seu apartamento, e pergunta:
- Quem era o traidor? Alguém já sabia ou desconfiava?
Jorge André responde:
- É garoto, você estava certo. O filho do comandante da Polícia Nacional. Nem foi muito criativo ao criar seu codinome na quadrilha. Quem diria...
Os três riem e, dessa vez, Jorge André vai pra cozinha preparar o café.
Lilia na semana seguinte volta ao seu estado de origem. Jorge André, pouco tempo depois, se aposenta. Torres vai para o norte do país, visitar a família e em seguida pescar.
Nota: Essa é uma obra de ficção, assim como seus personagens.
Revisão: MHCC