2-4-0: Assassinato, traição e chantagem (parte 5)

Janice estava no trabalho quando o telefone ligou em seu escritório. Era Saulo, um amigo que trabalhava no jornal.

- Boa-tarde promotora.

- Boa-tarde Saulo.

- Achei algumas coisas que devem te interessar.

- O quê?

- Vamos marcar de nos encontrar essa semana e eu te mostro.

- Quarta-feira está bom pra você?

- Está ótimo na quarta.

- Tudo bem, estou ansiosa para saber o que você tem para me mostrar.

Na noite de terça-feira Jefferson apareceu na casa da promotora.

- Jefferson? O que te traz aqui? Perguntou a promotora.

- Você deve estar de brincadeira, sabe o que significa a minha visita – disse Jefferson, mostrando um envelope fechado.

- Mas já? Passaram-se no máximo dois dias.

- Você conhece minha eficiência. Dentro do envelope tem tudo o que eu consegui pesquisando na internet e em outras fontes, o assassino tem uma tia viva que o criou na adolescência, quando o pai dele morreu, ela mora numa cidade a menos de cem quilômetros daqui. Acho muito bom visitá-la, você pode arrancar bastante coisa dela.

- Vou pegar o seu dinheiro.

Janice entregou um envelope contendo trinta mil reais a Jefferson pelo serviço.

- Olhe, eu vou sumir e levar minha família com esse dinheiro, o advogado do réu não pode sonhar que o documento falso que eu dei a ele não vai dar certo. Só para constar, ele vai apresentar um falso atestado de insanidade mental como prova de defesa. Não será difícil você derrubá-lo.

- Muito obrigado. Devo mais uma a você.

- Não se preocupe, algum dia eu venho cobrar.

Janice verificou os papéis entregues pelo pseudo-detetive, confirmou o endereço da parenta de João Paulo, esse era o nome do assassino. Decidiu que no fim de semana visitaria a tia dele.

Saulo e Janice combinaram de se encontrarem em um restaurante perto do trabalho da promotora. Janice chegou ao restaurante ansiosa pelo material que o jornalista tinha para mostrar.

- Então Saulo, o que você achou que me interessa?

Pediram os pratos, enquanto isso Saulo mostrava as notícias à promotora. O jornalista achou um arquivo que continha notícia de mortes realizadas por João Paulo, o assassino da cruz, numa cidade vizinha.

- Calma aí, esta é a cidade em que a tia do assassino mora – pensou a promotora e concluiu que os assassinatos começaram lá. É muito útil o material, mas ainda não consigo descobrir os motivos de João Paulo para cometer os crimes. Pelo que posso ver, ele herdou uma grande quantia em dinheiro, seu pai era um grande empresário. Que motivos ele tinha para virar um criminoso?

- Fique com o material por uns dias. Espero que encontre o que deseja.

- Muito obrigada pelas notícias. Eu te devolvo quando concluir tudo.

Janice investigou as notícias emprestadas por Saulo e notou uma coisa interessante, todas as pessoas assassinadas mantinham relações fora do casamento ou eram amantes de pessoas casadas, mas mesmo assim não entendia o motivo dos assassinatos. A promotora estava cada vez mais perto de descobrir porque o assassino matava.

No fim de semana, como planejado, viajou para conversar com a tia do réu. Foi sozinha, não quis ser acompanhada apesar da insistência do marido. Localizou a casa da parenta do assassino e tocou a campainha, ninguém atendia e depois de uma hora a promotora começou a ficar impaciente e percebeu que não tinha ninguém em casa. O padre da igrejinha ali perto foi falar com Janice.

- Esperando alguém minha filha?

- Sim padre, eu quero falar com a Maria Angélica, o nome da tia de João Paulo.

- Infelizmente você não vai encontrá-la aí.

- Por quê? Ela viajou ou algo assim?

- Já percebi que você não é daqui, ela está internada há dois meses no hospital público daqui. Se você fosse da cidade, com certeza saberia, já que a cidade é muito pequena e a senhora que você procura ficou conhecida, ela tem um tumor no cérebro. Mas o que você gostaria de falar com ela?

- Eu imagino porque ela ficou conhecida. Desculpe, não me apresentei, sou a Dra. Janice, promotora do processo contra o João Paulo, mais conhecido como assassino da cruz. Eu precisava de umas informações sobre ele, pois eu soube que ela o criou por algum tempo, mas como a fonte que eu preciso não está em condições de me contar só me resta ir embora.

- Eu posso te contar algo sobre este rapaz – respondeu o sacerdote.

O padre Francesco levou a promotora para sua casinha ao lado da igreja para conversarem.

- Sente-se aqui minha filha – disse o padre, oferecendo uma cadeira. Quer beber alguma coisa? Uma água ou vinho?

- Não, muito obrigada padre.

- Então. O que você quer saber sobre o jovem João Paulo?

- Tudo o que o senhor puder me contar.

- O jovem morou com a família até os quatorze anos de idade, seu pai era um grande empresário e eles viviam uma vida muito luxuosa. Acontece que quando o jovem tinha onze anos sua mãe adoeceu gravemente, aqui na cidade não tinha hospital particular, por isso o empresário mandou a esposa para ser tratada numa cidade maior, com hospitais particulares melhor estruturados. Nesse tempo João Paulo passou a sentir saudades demais da mãe, ele fazia catequese na minha paróquia e era o aluno mais dedicado de todos. O pai dele traía a esposa com freqüência, um dia o filho viu o empresário mantendo relações sexuais com outra mulher e ficou abismado. Num dia, quando foi visitar sua mãe com essa tia que o criou, ele contou tudo, sua mãe morreu no dia seguinte. João Paulo ainda foi criado mais um tempo por seu pai, mas este também morreu devido a um acidente de carro numa estrada em uma viagem de negócios. Aí o jovem passou a ser criado pela tia, que freqüentava muito a igreja da cidade, o jovem também era profundamente religioso, fez crisma nesta paróquia, dizia que queria ser padre. O jovem cresceu culpando o pai pela morte da mãe, eu percebi que havia um pequeno desequilíbrio nele, não chegava a ser uma doença mental, mas ele não era completamente saudável da cabeça. Ele chegou a fazer um curso de filosofia numa faculdade de outra cidade, mas parou no meio. Quando ele começou a matar sua tia começou a adoecer, mas não era nada grave até então, assim ela passou oito anos sem saber o que tinha e o que fazer com o sobrinho. Há dois meses ela foi internada no hospital e descobriu que tinha o tumor no cérebro. O advogado do sobrinho que manda pagar o tratamento dela, as únicas coisas que a mantém viva são os aparelhos que o jovem ajudou a comprar para cuidar da mulher que o criou depois que virou órfão.

- Interessante – disse Janice. O senhor testemunharia no processo?

- Por favor, doutora, mantenha-me fora disto, não quero testemunhar contra o jovem do qual eu gostava muito.

- Tudo bem, o senhor já me forneceu uma boa informação. Muito obrigada padre Francesco, você me ajudou muito, pena que não poderei falar com a tia de João Paulo.

- É melhor não mesmo, por favor, poupe-a de mais sofrimento.

- Então, o assassino mata pessoas que cometem adultério.

- Deve ser isso mesmo promotora, acho que o trauma foi grande demais quando ele era garoto, com certeza afetou muito sua cabeça.

Janice foi embora de volta para casa com a informação que precisava, não toda ela, mas uma boa parte. Chegou em casa e pesquisou por adultério e encontrou o revogado artigo 240 do Código Penal Brasileiro, no mesmo instante ligou para seu chefe.

- Janice, hoje é sábado. O que você quer?

- Acho que finalmente descobri.

- Descobriu o quê?

- O que todo mundo queria saber.

- E o que seria isso?

- A cruz e o número.

- Continue falando.

- Pelo telefone é muito ruim de explicar direito, na segunda eu falo tudo.

- Te espero na minha sala na segunda pela manhã

- Tudo bem.

- Está feliz meu amor – disse Marcos.

- Estou ótima, consegui o que eu queria nessa viagem que fiz no fim de semana, em breve terminará o processo, tirarei férias e poderemos descansar finalmente, vamos visitar minha mãe e ficarei um pouco afastada dos pepinos.

- Graças a deus, finalmente você vai descansar.

Farah
Enviado por Farah em 18/10/2007
Código do texto: T699645
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