2-4-0: Assassinato, traição e chantagem (parte 4)
Chegou o dia da primeira audiência do processo. O advogado de defesa alegou insanidade mental de seu cliente e defendeu que ele não poderia ser responsabilizado pelos crimes, pois não conhecia o caráter criminoso do fato. A acusação negou o argumento da defesa e afirmou a culpabilidade do réu, acusando-o de homicídio doloso. Nada foi decidido ainda naquela audiência. A imprensa cercou a promotora com perguntas a respeito dos sinais deixados pelo assassino.
- Não temos nada a dizer sobre isso, ainda não temos uma resposta – declarou Janice.
No jornal da noite o âncora reportou que a cruz e o número não tinham importância segundo a Dra. Janice.
- Desgraçados – disse Janice – distorceram tudo o que eu disse, eu odeio esses malditos repórteres.
- Calma querida – disse Marcos – eles apenas precisam publicar alguma coisa. Eu sei que você não disse isso, seu chefe sabe e a polícia também, é tudo intriga da imprensa, é muito mais interessante para eles publicar uma notícia assim do que o que você falou.
- Eles não sabem como o meu trabalho é complicado, como é difícil arranjar provas e condenar alguém.
Janice nem viu o tempo passar, já era sexta-feira, ela estava atrelada ao trabalho, mas não conseguia ser produtiva no caso. O seu chefe entrou em sua sala para terem uma conversa.
- Doutora, você está precisando de férias, vou designar o processo para outro promotor. Você está cada vez mais estressada e não consegue descobrir nada.
- Não posso tirar férias agora, o caso é importante demais para mim, não quero deixá-lo na mão de outro. Não sei se outro promotor vai se dedicar como eu a este processo.
- Você não entende, precisa descansar e colocar a cabeça no lugar. Você não vai sair deste caso de vez, apenas vai ser substituída por um tempo.
- Você que não entende, promotor, eu não posso deixar o processo agora e não vou fazê-lo.
- Faça como quiser – disse o chefe.
- Eu vou descobrir o que todo mundo quer saber, pode apostar.
Janice chegou em casa e viu no balcão uma carta endereçada a ela, mas estava cansada demais para ler agora, levou-a para seu quarto e guardou o envelope numa gaveta. Durante o jantar, seu filho Victor perguntou se este ano eles viajariam para ver a avó que mora em outra cidade, a mãe lhe respondeu que só quando ela tirasse férias. O filho perguntou se a mãe não poderia tirar férias naquele momento.
- Agora não posso meu filho, infelizmente não posso.
O pai percebendo uma tristeza no rosto do filho respondeu que no mês que vem eles iriam.
No sábado Marcos não pôde ir, então Janice foi com os filhos ao parque sem o marido. Estava lendo um livro, mas logo reparou que havia um homem sentado num banco observando seus filhos brincarem, ficou com medo e foi buscar seus filhos para irem embora. Foi em direção ao carro e percebeu que o estranho começou a segui-los, então apressou o passo e entrou no carro. O homem passou reto e seguiu outro caminho, Janice ficou aliviada.
- Por que viemos para o carro mamãe? Perguntou Marcela.
- Estamos indo embora, vamos encontrar o papai num restaurante. Chega de perguntas.
Janice viu que estava mesmo cansada, pois achou que estava sendo perseguida pelo estranho, mas não podia largar o caso agora, ela iria descobrir os sinais deixados pelo assassino. Comentou o acontecido com o marido durante o almoço enquanto os filhos brincavam no parquinho que havia no restaurante. Marcos disse que ela precisava de férias, mas ela negou novamente.
Ao chegar em casa ela lembrou de seu amigo Jefferson, que bancava o detetive de vez em quando, queria que ele identificasse alguém que pudesse lhe dar informações sobre o assassino. Ligou para ele:
- Alô? Jefferson? Quem fala é Janice.
- Oi Janice. O que manda?
- Preciso de um daqueles de seus serviços especiais.
- Ah não! Não quero mais me envolver com isso promotora. Eu tenho uma família, não quero me arriscar de novo.
- Eu pago bem, em dinheiro.
- Aí está falando minha língua. O que você quer?
- Sabe o assassino da cruz?
- Ouvi falar dele. O que é que tem?
- Preciso que você descubra algumas coisas sobre ele.
- Mas se nem a polícia encontrou como poderei eu achar?
- Por favor, senhor detetive, eu sei que você é mais eficiente que a polícia daqui, mexa os pauzinhos.
- Espero que saiba o que faz me contratando de novo.
- Eu sei querido, eu sei.
Jefferson conseguiu o número do advogado do assassino e marcou uma reunião num restaurante perto do escritório do Dr. Júlio, este era o nome dele. O detetive bebericava um uísque sem gelo quando o advogado chegou, Jefferson tomou a iniciativa e cumprimentou-o.
- É um prazer encontrá-lo doutor, eu sei que está muito ocupado com seu cliente.
- O que você quer? Perguntou diretamente o advogado.
- Quero te ajudar no caso.
- E como você pode fazer isso?
- O senhor alegou insanidade mental de seu cliente. Eu sei que será difícil arranjar um laudo que comprove. Eu posso conseguir um falso que o júri sequer notará.
- Eu mesmo posso conseguir um.
- Garanto que nenhum é melhor do que eu consigo, eu tenho um amigo especialista nisso.
- Interessante sua oferta. Mas por que tem tanto interesse na defesa de meu cliente?
- Meu pai devia um favor ao pai dele que nunca foi cumprido.
- O pai dele morreu.
- O meu também, por isso eu quero resolver logo isto.
- Tudo bem. Eu vou aceitar sua ajuda.
- Ok. Eu apenas preciso de alguns dados dele. Mas, por favor, não conte que eu fiz isso, eu acho que ele não gostava muito do meu pai. Só peço sigilo absoluto.
- Tudo bem, será segredo nosso, eu direi a ele que consegui o laudo com um amigo.
Júlio retirou de sua pasta uma cópia dos dados de seu cliente e entregou a Jefferson.