Mudanças...

- Eu sou o novo investigador do caso. O Jacó não te falou?

- Não, não me disse nada. Há muito tempo que não falo com ele.

- Bem, mas agora você sabe, portanto, com a sua licença...

- E como eu fico nessa brincadeira?

- Bem, você pode participar comigo do interrogatório, a única diferença é que eu decido os próximos passos de atuação, de acordo?

- Eu tenho escolha? E o papel do Esteves qual é nessa brincadeira?

- Ele é o meu novo assistente. Vocês podem trabalhar em regime de parceria, como já fizeram. A diferença é que cada passo tomado, eu preciso ficar sabendo.

- Tipo uma babá? Desculpa, mas eu trabalho sozinho.

- Olha, somos todos adultos aqui, e, pelo que me consta, você já levou uma facada, foi alvo de atentado, e agora está na mira de uma gangue, levando a dois óbitos conhecidos e mais outros tantos que não sabemos. Então, creio que uma ajuda não ser mal, não é?

- Bem...

- Vamos logo, que não tenho o dia todo. Quem sabe, você não aprende algo no processo?

- Aff, é o jeito não é? Então, vamos.

Embora contrariado, Luís decidiu acompanhar Hector no inquérito a Horácio, já que sentia-se culpado por tudo o que aconteceu de ruim naquele caso. Além disso, também tinha a desconfiança de que Horácio tinha mais vítimas, o que poderia auxiliá-lo diante do "ultimato" que recebera da gangue Lâminas.

- Olá Lúis, há quanto tempo? E você é novo, aqui.

- Olá, Horácio, eu sou Hector Novaes, novo investigador-chefe desse caso, e vou estar fazendo o inquérito.

- Ok, de acordo.

- Por que caralhos, você foi matar um bebê? Não tem um pingo de humanidade?

- Eu não iria deixar uma criança crescer sem os pais, não é? Famílias devem estar sempre juntas.

- Que cínico!

- Acalma-se Luís, assim você só irá fazer o jogo dele - Hector falou discretamente.

- Ok, ok, estou bem. Então, Horácio, se é esse o seu nome mesmo, gostaria de informá-lo que você falhou em sua missão. Júlia vive.

- O quê? Mas eu tenho certeza que ela iria morrer!

- É, mas a vontade de viver dela foi mais forte. Foi por muito pouco que ela se aguentou, mas seu marido e filho não tiveram a mesma sorte.

- Mas que merda! Eu não posso deixar isso acontecer! Ela tem que morrer!

- E por que ela deve morrer? Você nunca deixou nada inconcluído antes?

- Famílias vivem juntas e morrem juntas! Ela precisa morrer! Ah!

Horácio perdeu o controle ao saber da notícia e começou a se balançar violentamente na mesa, até a chegada rápida dos policiais o imobilizando. Diante da impossibilidade de prosseguir com o inquérito, Hector decidiu remarcar uma entrevista para o dia seguinte pela manhã, aproveitando para buscar dados sobre Horácio na polícia a partir das suas impressões digitais para entender a sua história. Isso, quem sabe, explicaria por que ele ficou tão alterado diante da notícia que uma de suas vítimas escapou. Certamente, não deveria ser a primeira vez, mas qual teria sido o gatilho pra tamanha revolta?

Enquanto isso, Luís regressou a sua casa mais relaxado ao perceber algumas brechas em Horácio possíveis de ser exploradas. Não que isso fosse ajudá-lo diretamente a encontrar pistas para agir diante dos supostos "casos" de vida/morte, mas poderia acalmar a sua mente diante dos infortúnios recentes. Nesse meio tempo, o telefone tocando no dia seguinte foi até um alívio.

- Alô?

- Alô Luís, ligando para avisar que a Letícia acordou e está perguntando por você.

- Sério? Ok, já estou indo. E a irmã dela?

- Está estável e os médicos pararam com os sedativos. Deve despertar a qualquer momento.

- Ok, ok, são boas notícias. Vou agora para o hospital.

O despertar de Letícia parecia ser uma confirmação de que as coisas estavam, finalmente, melhorando. Pelo menos isso o deixava mais animado, não tanto quanto o encontro com Ana, o qual evitava pensar sobre. Diante do vendaval de notícias, sabia que precisava ir até o encontro dela para entender como lidaria com as notícias sobre o seu cunhado e sobrinho, afinal, não era sonho, mas sim a crua realidade.

- Olá Letícia, está se sentindo melhor?

- Como você acha? Eu tô num hospital, meu ex é um psicopata, minha irmã ta internada e perdi familiares. Então, acho que não, né?

- E depois eu que sou o mal-humorado...

- Desculpa. Olha, vamos começar de novo, como está Júlia? Tá se recuperando bem?

- Sim, sim, os médicos pararam com os sedativos dela. Deve acordar a qualquer instante.

- E o Horácio?

- Está preso. Fui entrevistá-lo ontem com o novo investigador-chefe do caso, Hector, mas não conseguimos muita informação. Ele ficou um tanto nervoso ao saber que Júlia ainda vive.

- Mas, ele está preso, não é? Por favor, me diga que a minha irmã está a salvo dele.

- Sim, está. Especialmente, depois de tudo que se passou, irei pleitear para que seja colocada no programa de proteção às testemunhas.

- Perfeito, assim fico mais tranquila. Ah, o médico me disse que devo sair daqui, ainda hoje, talvez antes do almoço. Se possível, gostaria de encontrá-lo para que possamos conversar melhor.

- Claro, claro, sem problema nenhum.

- Também gostaria de fazer um pedido.

- O quê?

- Você toparia ser meu professor? Quero ser uma investigadora.

- Hein?

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 30/05/2020
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