Os Segredos da Rua Baker 3: 30- Vale do terror
Durante a festa Irene recebia vários elogios pela sua vestimenta, ela sempre transferia o elogio ao Sigerson que ficar incrivelmente satisfeito com a atitude dela.
-Hoje não poderei beber um gole... Feliz?
Irene perguntou ao Gaspar em um dos raros momentos na noite em que foram poupados da insistente presença do Sigerson.
-Não sou pago para ser feliz, Srta. Holmes.
-Bom pra você.
-Srta. Holmes, se quiser...
-Não se meta nisso, Gaspar. Apenas faça seu trabalho.
-Sim, senhorita.
-Não serei capaz de continuar representando o Sigerson por um tempo. Coloque o Josh no meu lugar, mas permaneça sempre perto.
Gaspar anotou a ordem em seu celular.
A noite foi longa, John seguia Sigerson de perto, porém tentou, sem sucesso, convencer Irene a conversarem em alguma das salas vazias.
De volta a propriedade do mais velho dos Holmes, eles permaneciam do lado de fora da casa em frente a uma abertura no chão que dava acesso ao porão. John segurava Irene enquanto Sigerson ordenava que a jogasse escada abaixo.
-Faça, John. – Ela dizia.
-Não posso fazer isso. Ela pode morrer, Sigerson.
-Sr. Holmes! – Sigerson gritou. – Você é meu empregado. Obedeça, Sr. Smith.
-Sr. Holmes... É muito...
-John, olhe pra mim. Eu sei como cair... Apenas empurre.
Ele atirou a Irene naquele buraco. Sigerson sorria feliz por tudo estar correndo de acordo com o seu desejo. Se continuar assim, em algumas semanas, ele terá mexido tanto com a mente da sobrinha que ela será mais obediente que a Zoe.
John havia sido dispensado de seus deveres pela noite, porém não conseguia dormir. Ele apenas passava o tempo imaginando o que Sigerson estaria fazendo trancado com a Irene no porão. Perdido em seus devaneios de preocupação, ele quase não ouviu três batidas fracas na sua porta.
-Sr. Moretti?
-Ele está fazendo o mesmo que fez com a Zoe, porém com mais intensidade por estar com pressa.
-O que? O senhor não se aposentou?
-Nós não temos tempo para conversa, Sr. Smith. Quer vê-la?
-Sim.
-Venha comigo.
O velho mordomo do Sigerson se recusou a se aposentar por se sentir em dívida com a Irene e saber que em algum momento ela estaria nessa situação.
Aquela mansão tinha várias entradas e saídas desconhecidas por muitos, mas bem conhecidas pelo Sr. Moretti. Por uma parede falsa na sala de música, ele encaminhou John até o porão onde Irene era mantida.
Ela estava apenas com uma camiseta e um short, presa na área mais úmida daquele muquifo por uma corrente no pescoço, ligada a parede, que era grande o suficiente para dormir no chão.
-Desculpe por acordá-la. – Disse John.
-Não acordou. – Ela disse ao sentar. – Então... Não está morto.
-É... Desculpe desapontá-la. – Ele se acomodou ao lado dela.
-Vou sobreviver... A Alex?
-Sim. Acordei em um quarto de hotel e ela estava lá sentada. Pior dia da minha vida.
-Ou da morte. – Os dois sorriram. – Eu desconfiei há pouco tempo, por causa do jeito culpado como vinha se comportando. – Ela suspirou pesadamente. - Você não deveria ter ressuscitado John.
-Não tive escolha. Nem pra morrer e nem pra voltar.
-Eu sei. Ameaçando os seus pais?
-Sim.
-Clássico.
-Eu sinto muito, Irene. – Havia tristeza em sua voz.
-Não é sua culpa, John. – Após alguns minutos de silencio, Irene soltou uma risada nervosa. – Estamos presos em pura merda. Como sair disso?
-Juntos. – Ele respondeu segurando a mão dela.
***
Singerson retornou ao porão ainda mais obstinado de suceder em seu plano. Apesar de não ter certeza se aquele seria o momento ideal, ele decidiu iniciar com a hipnose.
Irene permanecia sentada no chão enquanto o seu tio preparava o ambiente. Ele logo se pôs em uma cadeira na frente da sobrinha. A sessão começou de forma calma e gradual. Irene não parecia se opor aos avanços psíquicos do tio.
-Você está em seu lugar de segurança e cada vez mais relaxada. Quando eu contar até três, você irá a um passado próximo... 1...2...3... Irene, diga onde está?
-Nos arredores de Paris.
-O que faz aí? Descreva a situação.
-Vou matar um homem para ganhar poder na Cúpula dos Nobres. Ele está de joelhos na minha frente cercado por meus aliados. Um deles me entrega a arma... – Irene fez um gesto de olhar para trás.
-Qual o problema?
-John está no carro. Quero passar a mensagem de medo e respeito, porém John já me respeita... Ele não precisa me temer.
-Medo é a melhor forma de respeito, Irene. E o que você sentiu ao matar o tal homem?
-Meu dever estava cumprido.
-Você queria mais, não queria?
-Você estúpido se pensa que isso irá funcionar, Sigerson. Não dessa vez. – Ela o encarou com um sorriso vitorioso, mas o tio não parecia tão impressionado.
-É só uma questão de tempo sobrinha. Já fazem oito horas que não consome nenhum tipo de droga... Os sinais já estão aparecendo. Quando estiver completamente desesperada por mais uma dose, eu vou fazê-la ser minha.
-Essa não é a minha primeira crise de abstinência Sigerson. Como já disse várias vezes, eu não sou a Zoe. Você pode ter meu corpo, mas nunca terá minha mente.
Ele deu um soco na sobrinha antes de sair daquele lugar imundo.
-Sua sede irá te consumir, Irene. E quando chegar ao ápice, eu estarei lá esperando.
Mesmo tentando esconder, Irene já sentia alguns dos sintomas da crise de abstinência como: sudorese, pupilas dilatadas dores no corpo. O caso só tendia a piorar e ela não precisava desse tipo de fraqueza naquele momento. Ela precisava manter o controle.
A noite, mais uma vez, John foi até a nossa consultora investigativa favorita. Ele a encontrou ilhada em vômitos, deitada encolhida em um canto e ao tocá-la percebeu que estava febril. Ele não pensou duas vezes antes de começar a limpar tudo para o Sigerson não enxergar o tamanho do dano causado.
-John? Você está limpando meu vômito?
-Sim. Terminando aqui te passo um pano e água para se limpar... Ou se preferir... Eu... Eu posso te ajudar.
-Você quer me dá um banho de esponja, inspetor? -Irene tentava manter um ar brincalhão apesar de tudo. – Se quer ajudar... Ajude. Tem minha permissão. Não seria a primeira vez...
-Como assim? Alguém já te deu banho de... Esponja?
-É uma longa história, mas o teu irmão me ajudou certa vez quando me vi presa em uma casa no Canadá.
John não parecia feliz com a informação, nem sequer perguntou a respeito. Terminando ali, ele pegou o balde e um pano.
-Sempre me perguntei, - ele limpava cuidadosamente o rosto dela,- qual o motivo de ter abandonado o meu irmão?
-É bem simples, eu descobri os sentimentos dele por mim. Escutei conversando com um amigo no telefone, onde ele dizia querer terminar com a Susan, pois o próximo passo seria casamento e não seria justo, pois estava apaixonado por mim. Então, saí da vida dele indo pra 221B e ele teve a vida normal que sempre quis.
-O que? Antes disso você não fazia ideia?
-John, eu nunca imaginei ter um amigo, imagine alguém apaixonado por mim. Talvez, eu não tenha lidado bem com a situação. Era tudo muito surreal, mas fiz o que achei ser o melhor.
-Qual a diferença? Por que me deixa permanecer ao seu lado?
-A tua presença me foi imposta de todas as formas possíveis. Começou com a promessa e depois...
-O que?
-John, você é teimoso demais pra sair do meu pé. Não é como se não tivesse tentado.
-Não o suficiente. Bem, você está limpa... Em parte. Vou pegar um colchão que vi ali atrás, assim poderá dormir um pouco.
-Obrigada. – Ela deita sentindo o seu corpo agradecer pela maciez de seu novo, temporário, leito. – Oh, eu senti falta disso.
-Eu trouxe algo pra ti. – Ele disse sentando ao lado dela. –Naquela festa a noiva da Alex se aproximou me entregando isso. Não entendi a princípio, mas hoje tive a certeza do que fazer. Apesar de não gostar da ideia de te ajudar a se drogar, as circunstâncias atuais me impossibilitam de negar isso a você.
-Morfina! Irei usar só o suficiente para impedir o Sigerson de me chantagear. Ela pensou em tudo mesmo. Os comprimidos tem uma duração maior, então vou ficar com um e amanhã você me traz outro, mas por agora preciso do injetável.
-Oh, Irene, eu odeio isso.
-Eu sei. – Ela colocou as duas mãos no rosto dele. – Prometo me livrar disso em breve, mas por agora não posso me dá ao luxo de negligenciar meu vício.
O efeito da droga não demorou a aparecer, Irene já parecia mais relaxada, inclusive chamou o John para deitar ao seu lado, porém ele não se viu capaz.
-Você está bem? – Ele perguntou.
-Óbvio. Sabe John, meu pai sempre me disse para nunca deixar meu coração controlar a minha cabeça... – Ela se apoiou no braço para vê-lo melhor. – Você me fez querer burlar essa regra. Mas não posso.
-Por que não?
-Porque você é meu amigo, o único a estar comigo mesmo depois de tudo que fiz com tua família... Mesmo agora, enfiada nesse buraco, você está comigo. John, eu acabaria te fazendo se sentir miserável. Você iria aumentar as suas expectativas e no final eu não as cumpriria. Você não merece essa vida.
-Você está de brincadeira? Irene, você já tirou vantagem dos meus sentimento por várias vezes e sei que fará de novo se for necessário. Porém, eu não ficarei com raiva, porque sempre age com um propósito bom. Eu estou cansado de tentar fugir dos meus sentimentos... De suprimir a existência deles. Eu não apenas estou apaixonado... Eu te amo!
-John... -Ela deitou encarando o teto por ausência de palavras.
-Pode olhar pra mim? – Os dois passaram a repousar naquele colchão velho um de frente para o outro. – Já foi do meu desejo ter uma vida normal com esposa, uma bela casa, filhos, no entanto isso não me interessa mais. Agora só quero estar contigo. Nem me importa se é sexualmente, sentimentalmente ou apenas como parceiros de trabalho.
-Por quanto tempo?
-Pra sempre. Apenas nós dois contra o resto do mundo. Fazendo a diferença na vida das pessoas, resolvendo casos insolúveis para outros. É isso que quero para resto da vida. Diga... Irene... O que você quer?
-Eu acho... Eu quero abraçar essa baboseira de ser uma heroína. Mas, preciso primeiro acabar com o Sigerson, pois esse não será o feito de uma heroína.
-Juntos? – Ele leva a mão para perto dela.
-Juntos. –Ela entrelaça os dedos no dele.