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Missão nas Guianas
(Capítulo IV)

Sorrindo as pessoas vieram recebê-lo, e uma menina de treze anos ao ver Daniel se assustou, dizendo tratar-se do homem que havia matado seu pai na plantação de coca. A menina conhecia o helicóptero azul, que transportava as drogas, quando ela trabalhava como secretária doméstica na casa do criminoso. Casualmente, Pedro havia descoberto outros crimes de Daniel, levando a crer, que a abrangência de seu império era bem maior do que se imaginava, porém, o mais importante naquele momento era encontrar o caminho de volta, o qual não estava nada fácil.

Pedro pediu hospedagem e ali passaram a noite. Ao despertarem, era manhã clara e ouviram ruídos de uma embarcação subindo o rio. Aguardaram a aproximação do barco e voltaram à mesma posição de quando prenderam Daniel, isto é, Antonia com a navalha em seu pescoço. Quando o barco abarrancou, Pedro se mostrou, mas quem conduzia a embarcação era Robert, que sorrindo cumprimentou-o. Conhecendo a região, Robert havia seguindo Pedro através do curso do rio, visto que conhecia a autonomia de voo do helicóptero e a região. O delegado pediu para ver Daniel, que estava com Antonia dentro da casa, com a navalha em seu pescoço — Daniel, você está preso em nome da Justiça e será levado para a Capital. Esperei cinco longos anos por esse momento, disse o delegado. — Ainda não cheguei ao presídio! — Respondeu Daniel. — Mas está em minhas mãos e só sairá quando lhe entregar às autoridades francesas, e não tente nenhuma bobagem, se não quiser seguir o mesmo destino dos seus comparsas, respondeu o delegado.

Pedro informou que Daniel havia assassinado um homem e, bem próximo dali, possuía um plantio e refino de coca. Robert respondeu que em poucas horas alguns policiais chegariam com reforço, oferecido pelas autoridades que seguiam o delegado ao longo do rio e chegariam a qualquer momento. À noite chegou uma embarcação com dez policiais que se apresentaram ao delegado. O preso estava sob responsabilidade do Delegado da Interpol, que aconselhou a todos permanecerem no local até o dia seguinte. Os policiais recém-chegados permaneceram em vigília. Tudo parecia encaminhado, mas algumas coisas ruins poderiam acontecer.

Ao amanhecer o delegado não estava no barco. Pedro saindo à sua procura, ouviu um disparo junto da aeronave e se protegeu atrás do barco. Daniel com um fuzil na mão anunciava que Robert era seu prisioneiro. Não foi difícil deduzir quem eram os policiais. Daniel dava as ordens e a situação complicou. Pedro queria preservar a vida de Robert, visto que o segurança que o acompanhava havia morrido em combate. Pedro viu as moças na água procurando proteção junto a embarcação para sair da mira de Daniel. Pedro sentindo que os policiais atirariam, se jogou na água.

As balas ricocheteavam próximos à sua cabeça e se protegia junto ao casco da embarcação. Luíza e Antônia posicionaram-se a estibordo e, antes que os falsos policiais as vissem, dispararam e os três bandidos caíram mortos. Antônia foi baleada no braço e agora se apoiava em Luíza, mas disparava incessantemente na direção dos bandidos, dando cobertura a Pedro que se encontrava na direção oposta. — Que café da manhã! Disse Antônia. — É verdade, tem gosto de bala e sangue! Respondeu Luíza. A luta estava apenas recomeçando e muito difícil

O helicóptero de Daniel estava voando, mas não tendo combustível suficiente para manter-se, sumiu na direção sul, rumo ao plantio de coca, deixando em terra alguns policiais que atiravam nas moças que se encontravam dentro dágua. Mas os bandidos foram surpreendidos por Pedro, que atirou abatendo um. Era sua última bala e Pedro jogou-se atrás de um tambor para trocar o carregador. Um bandido atirava em sua direção e recebeu uma navalhada na nuca desferida pela bela Antonia que se encontrava a poucos metros.

Felizmente Antonia havia sido ferida de raspão e os sete traficantes mortos, porém o delegado estava em mãos de Daniel, e não deveria estar distante por falta de combustível na aeronave. Daniel desconfiava que Robert também soubesse do paradeiro das armas e drogas e iria mantê-lo em cativeiro até obter uma confissão ou usá-lo como troca. Daniel sabia que Pedro viria resgatar o agente da Interpol e tinha como trunfo, ter sob seu comando um exército de homens bem armados dispostos a matar sem piedade. Pedro se achava no dever de auxiliar o delegado, traído pelos falsos policiais. Certamente Daniel teria se refugiado na área do plantio, sentindo-se mais seguro entre seus capangas.

Luíza guardava consigo grande quantidade de dólares e joias que trouxera da fortaleza do traficante. O francês as queria de volta e isso dava a Pedro a certeza que ele as procuraria por duas razões; pelo dinheiro e joias e pela informação do destino da carga. Para o resgate Pedro pretendia surpreender Daniel lembrando-se da garota cujo pai fora assassinado pelo traficante. A menina, chamada Mary, falava Nheengatu e francês, língua também falada por muitos nativos da Guiana Francesa, ela conhecia o caminho e explicou que viajando de barco e depois pela floresta, em poucas horas chegariam ao plantio de coca.

Com essa informação Pedro planejou uma ação contra Daniel para libertar o delegado. Guiado por Mary, viajou pelo rio, depois por um igarapé e  adentrou na mata densa, caminhando com cuidado porque a região estava infestada de serpentes, jacarés e onças. Ao anoitecer escolheu um lugar seguro para dormir, e entre sacupembas de uma frondosa árvore improvisou um Tapiri coberto com folhas de palmeiras. Chovia com intensos relâmpagos. Sempre vigilantes, ele, as duas moças e Mary no Tapiri improvisado se revezavam de duas em duas horas na vigília.

À noite ouviram esturros de guaribas e urros de onças, porém estavam preparados, armados com arcos e flechas, sendo desaconselhável o uso de armas de fogo, para não chamar atenção. O zunido de um tiro, à noite, se propagaria por muitos quilômetros. Antônia tinha medo de onça, bicho do mato, como ela chamava e Pedro explicou: — Onça dessa floresta só come carne gostosa, muito mais saborosa do que carne de moça medrosa da cidade; elas se fartam com caças que existem em abundância nessa região. — Ainda bem! — Sorrindo, disse ela. O natural esconderijo ficou aconchegante e todos se acomodaram com segurança, Mary teve pesadelos e acordou chamando pelo pai, sendo confortada por Antônia, que a fez dormir. Pedro não tinha certeza se Daniel estava no plantio de coca, no entanto confiava na intuição de Mary. Luiza dormia pesadamente como se estivesse guardada dentro de um cofre, ela confiava em sua equipe destemida.

O grupo estava próximo aos galpões e permaneceram em silêncio. Pedro solicitou a Mary o reconhecimento do terreno sem se expor. Ela sumiu entre o plantio de coca, por precaução, os combatentes se colocaram em pontos estratégicos para evitar surpresas. Trinta minutos depois, Mary voltou e fez minucioso relato do que viu. Nas extremidades do campo de pouso, existiam pelo menos dez homens armados e, numa delas, ao norte, um avião bimotor fortemente protegido por dois guardas armados com metralhadoras de grande porte. Certamente ali estaria guardado o arsenal que municiava o bando. O helicóptero azul estava bem próximo ao escritório e certamente abastecido. Na floresta Daniel dispunha de grande estoque de combustível para aeronaves que transportavam o fruto do crime.

Dentro do prédio Mary observou homens em volta do delegado, preso a uma cadeira. Luíza ao conferir os explosivos, constatou serem suficientes para mandar uma pequena cidade pelos ares. Pedro pediu que recuassem para a mata e à noite resgatariam Robert. A seguir camuflaram-se embaixo de sacupembas, comeram algumas castanhas-da-Amazônia e aguardaram o anoitecer. Pedro sabia que Daniel o aguardaria tendo o delegado como refém. — Atacaremos à noite durante o jantar, quando os guardas se descuidam. — Antônia, vai às dezenove horas, faz um reconhecimento e volta. Luíza vai as vinte e trinta, faz o trabalho com explosivos e fica em algum lugar. — Disse Pedro Querida Luíza não exploda junto com os inflamáveis! — Observou. — Não o farei! — Respondeu sorrindo. — Quando recuar preciso de um sinal. — Disse Pedro. — Como de costume. — Respondeu a moça. — Depois, exatamente às vinte e uma horas, eu entro em ação e um assobio longo será o sinal. Mary ficará escondida na floresta aguardando o regresso do grupo e, se isso não acontecer, voltará para casa. Atacaremos de surpresa e recuaremos para a mata densa, ao meu sinal como nos bons tempos. Esse é o plano, não quero heróis mortos, e sim, guerreiros vivos, completou Pedro.

Mary queria participar da operação, mas foi aconselhada a desistir, sendo criança, não deveria arriscar-se, nem Pedro poderia permitir, no entanto, prometeu que o assassino do seu pai seria preso e iria pagar pelos crimes. Antônia, rastejando por entre prédios e galpões, memorizou todos os detalhes e ao retornar deu as coordenadas. Chegou a vez de Luíza entrar em ação e ela sabia muito bem o que fazer. Precisavam surpreender agindo rápido, atacando e recuando ao sinal de Pedro, que sinalizou o momento do ataque.

Os guardas junto ao avião foram os primeiros a serem abatidos. Naquele instante Antônia não sabia onde Luíza se encontrava e correu em direção ao galpão principal. Alguém atirava em sua direção e escutava o zunido por cima da cabeça. Procurou sair da mira do atirador e quase deu de cara com Luíza que, fazendo sinal, pediu para ela sair rápido do galpão. Próximo ao local onde se encontrava o delegado, Pedro foi rendido por dois homens, recebendo uma coronhada na cabeça e, sangrando, caiu junto a Robert. Vendo a cena, as guerreiras correram em direções opostas para confundir o inimigo. A batalha sangrenta com gosto de sangue e cheiro de pólvora estava apenas começando. Leia o próximo capítulo, lá nos encontraremos.






























 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 18/04/2020
Reeditado em 19/04/2020
Código do texto: T6921048
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