Alô você, que tá na TV!

- Olá meus caros! Tudo bem com vocês?

- Es... estamos bem, dado os pesares... Mas, fala o que te interessa...

- Eita e já vai direto ao ponto? Mas que apressado! Vai nem me pagar um café?

- E nós estamos no século passado? E como posso ser cordial se você já começa o diálogo raptando um inocente?

- Blá, blá, blá. Não se prenda tanto a detalhes, bonito! Vamos com calma que a noite é longa...

- Até agora, eu não entendi qual o seu objetivo com essa chamada... Tampouco vejo o seu sequestrado. Ele ainda está vivo?

- Já vi que você é osso duro de roer... Que chato! Mas, trato é trato, tragam o prisoneiro pra cá!

- Agora, podemos começar a dialogar como adultos...

- Bem, cá ele está. Inteiro, sem nenhum pedaço a menos.

- Inteiro? Da maneira como eu vejo, ele parece meio maltrapilho... Inclusive, parece estar com um olho roxo ali...

- Ah, a gente teve alguns desentendimentos né? Mas nada de mais, a gente já se entendeu. Não é, querido? Fala pra eles que tá tudo bem, fala?

- Tá... tá... tá tudo bem, pessoal...

- Viu? Já pode sossegar a namoradinha dele aí, que não para de chorar.

De fato, Letícia estava chocada com tudo aquilo que via. Ao contrário de outros momentos, em que foi enérgica e ativa diante da adversidade, estava parada, em choque, como nunca estivera antes. O choque de realidade que parecia não vir, desabou ao ver um Horácio totalmente machucado e debilitado. Tudo aquilo a levou aos prantos, embora tentasse esconder a face para não preocupar Luís, cujas preocupações estavam em conhecer e dialogar com a sequestradora. Momentos tensos (mais um) na vida dela...

- Satisfeita com o show, agora? Vai, diz o que você quer pra liberar o nosso colega aí.

- Hmm, a gente não pode jogar um pouco mais?

- Fala logo, mulher...

- Eu quero 1 milhão de reais pra devolver o seu querido, qual é o mesmo o teu nome querido? Horácio né?

- Tudo isso? Que quantia absurda!

- Ué, você não queria um preço? Eu te dei...

- E pra quando você queria esse dinheiro?

- Você tem 5 dias pra juntar essa grana.

- 5? Impossível, precisaria, no mínimo de uns quinze dias ou, roubar um banco, ou nascer de novo, porque eu sou só um detetive, não um cara rico...

- Ah, que peninha! Então tá, vou te dar 15 dias pra arrumar um milhão de reais. Findo o prazo, eu ligo novamente pra saber se você conseguiu a grana.

- E vai ser sempre assim? Vou ter que esperar pelas suas chamadas pra poder saber se ele está bem?

- Ah, relaxa vai! Garanto que vou cuidar bem dele, desde que você continue jogando. Então, até a próxima meu querido. Bom te ver enfim.

- Maldita!

- Epa, sem xingar tá? Aguarde pelas próximas jogadas! Hasta la vista, baby!

"Mas que filha da puta"! Pensou, Luís enquanto finalizava a chamada. Sentindo-se sem chão, depois de ser apenas um peão em um jogo que acabava de começar, decidiu beber pra relaxar. Abriu a geladeira de Letícia, ainda se recuperando do baque, e viu um vinho Monterosa dando sopa. Seu desejo maior era por cerveja, mas na falta de uma desceria o vinho mesmo.

- Põe uma taça pra mim, também.

- Mas, você está bem pra beber?

- Luís, deixe de coisa e coloque logo, vá. Eu vou ficar bem!

- Tá bem, tá bem.

- E aí de você se não pegar essa nojenta!

- Agora, é a Letícia que eu conheço!

Longe dali, no QG dos sequestradores.

- Você acha que eles caíram?

- Tá brincando? Com toda aquela choradeira, lógico que eles caíram!

- Maravilha! Vamos continuar com o nosso jogo, então.

- Só não esqueça do nosso trato...

- Claro que não, sou uma mulher de palavra, sobretudo agora que tenho alguém pra brincar...

O andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 17/04/2020
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