Erráticos

Apesar da confusão com o que acontecia naquela noite, Luís afastou Letícia de si, tentando compreender a situação, enquanto dirigia a palavra para ela.

- Olha, eu acho melhor a gente parar por aqui, antes que nos arrependamos...

- Você... você não gostou?

- Não tem a ver com gostar ou não. A questão é que você está sob muito muito estresse e eu estou investigando seu atual parceiro. Entende agora?

- É... você tem razão... Eu vou chamar um táxi pra mim...

- Não precisa, pode dormir no meu quarto. Eu fico aqui na sala.

- Ah, mas eu não quero dar trabalho...

- E isso lá é trabalho? Vamos, venha por aqui que eu me ajeito aqui.

- Tá bom, eu aceito. Obrigada, viu?

- Disponha.

Ajeitada a cama, Letícia, enfim sossegou e dormiu em menos de dez minutos. Todo aquele estresse a cansou de tal maneira que precisava descansar. Luís suspeitava disso, assim como também estava confuso com os eventos anteriores, e não fez a menor questão da cama. Mais do que entrar em algum triângulo amoroso, precisava resolver aquele crime. Tentava pensar como sempre: trabalho, vem primeiro, nem para isso tenha que ignorar alguns sentimentos no caminho...

No dia seguinte, Letícia acordou um pouco confusa com o dia anterior. Apesar de tudo, concordara com Luís. Foi melhor evitar seguir em frente, especialmente com todos os acontecimentos atuais. Enfim, pegou suas coisas, despediu-se de Luís e combinaram de se encontrar à noite para a videochamada com os sequestradores.

Após a saída de Letícia, Luís estava pensativo. Precisava refletir sobre a atuação e os motivos que levavam os sequestradores a quererem fazer uma chamada de vídeo. No entanto, sua mente divagava sobre aqueles beijos... Buscava ter foco, mas como achava difícil decidir ligar para Olavo e para o delegado Esteves para ajudá-lo. Ter a companhia de mais duas pessoas, o forçaria a direcionar a sua atenção para o caso, uma vez que trabalhar costuma ser o seu "porto seguro".

- Então, o que vocês acham sobre isso?

- É uma oportunidade.

- É uma cilada.

- Desenvolva.

- Todavia, é uma cilada "aceitável". Afinal, você conhece pouco sobre eles, além do fato de terem sequestrado o companheiro da sua amiga.

- Isso é verdade... Então, a chamada seria um modo para "conhecer o meu inimigo"?

- Precisamente. A partir daí, você pode tomar melhores decisões sobre o caso. E ainda tem a vantagem de você poder analisar a dinâmica deles com o sequestrado.

- Além disso, você pode também ter uma ideia da equipe deles não é? Se é grande, pequena. Como são e respondem à chefe.

- Eu vou observar tudo isso em uma chamada de alguns minutos?

- O máximo que você puder.

- Hmm. Se eu souber como a equipe deles age, então eu estarei em vantagem no processo...

- É o que apontam as probabilidades. E as clássicas histórias de polícia e ladrão...

- Bom saber que, de certo modo, eu ainda estou no controle da situação.

- É bom que você não se iluda com essa chance...

- Como assim?

- Eles também estarão te observando. É um jogo de gato e rato. Não ganha aquele que der o primeiro tiro. Ganha quem acertar o alvo certo.

- Hmm, isso realmente é verdade...

- Hei, não viemos aqui pra brincar né? Embora, eu seja muito grato pela cerveja...

- Se toda os seus trabalhos forem assim, eu vou querer continuar a parceria!

- Hahaha, da próxima vez, vocês pagam pelas cervejas, seus putos!

E o dia que parecia pouco produtivo, rendeu bastante com as especulações e as possibilidades sobre as temáticas da videochamada. Se o poeta costuma dizer que "uma cerveja antes do almoço é bom pra pensar melhor", algumas depois devem fazer o mesmo efeito. Enfim, era chegada a hora da chamada. Sem mais brincadeiras no momento.

- Alô, Letícia? Estou a caminho, vamos fazer essa chamada.

- Oi. Ah, tá certo, pode vir, que estou aguardando.

Será que daria certo?

O andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 04/04/2020
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