Reconhecimento
- Então, você que é o sr. engraçado?
- Huahauhauhauha
- Vamos, fale. Eu não mordo.
- Huhauhauahuahua
- Bem, já que tá assim e que tal se a gente te "acalmar"?
Após essa fala, a risada, outrora alta, começou a amainar, e o olhar de Horácio foi mudando, ainda curioso, sem sentir um pingo de intimidação na fala de sua interlocutora, uma bela mulher trajando uma calça preta, blusa verde, coque no cabelo e lábios roxos como o vinho.
- Ah, ah e como você pretende fazer isso?
- Olha, acalmou. Então, você entende por que está aqui?
- Não faço a menor ideia, mas me parece ser muito divertido!
- Divertido? Você está amarrado, nós te temos sobre nosso poder, você não tem a mínima de quando vai sair e isso te parece divertido? Realmente, você é um ser e tanto...
- Dona, eu não sou novato nesse campo. Conheço todo esse teatro de letra...
- É mesmo? Olha só, bem que dizem que as pessoas ficam mais "verdadeiras" quando estão no limite da morte e olhe que a gente só te bateu, nem "brincamos" pra valer...
- Isso tudo me pareceu um grande recreio até agora - haha
- Bem, mas já que você conhece o "script", nós já entramos em contato para pedir um resgate pela sua cabeça, pelo menos, eu acho que será assim. Diga-me, você conhece um investigador chamado Luís?
- Luís, Luís, ah, deve ser aquele amigo da minha namorada. Ele tem um olhar de curioso quando estou por perto.
- Ah, então ele irá responder ao nosso chamado.
- Eu sinto que você deva tomar cuidado com ele...
- Ah é e por quê?
- Pelo que a Letícia me diz, ele está acostumado a investigações como essas e, costuma dobrar os sequestradores...
- Bem, nós não somos quaisquer sequestradores, então viemos aqui para ficar e bagunçar essa cidade.
- E vão começar, logo pegando um assassino?
- Ué, mas não sabíamos desse seu lado. Acho que foi obra do destino...
Apesar de toda a tensão, envolvendo esse momento, Horácio e nenhum momento mostrou pânico ou preocupação, voltando a soltar risadas, vez ou outra. Toda aquela situação lhe parecia uma completa ironia, o que não deixava de ser engraçada, especialmente pelo estado de submissão em que se encontrava. Na sua cabeça, aquilo te abriria novas possibilidades, em como atacar e selecionar os seus alvos. Isso, claro, se saísse vivo dali...
Enquanto isso, Luís discutia as possibilidades de ação com seus aliados, quando seu telefone tocou. Era a Letícia trazendo novidades sobre o caso, com a aparência mais angustiada que o normal.
- Você precisa vir comigo, agora.
- Agora? Mas, estou no meio de uma reunião aqui.
- Por favor, é importante! É sobre o caso, Luís...
- Sobre o caso?
- Sim!
- Ok, ok, se acalme, pois irei fechar a minha conta aqui e já te encontro. Pode ser daqui a 20 minutos no boteco do Zé?
- Certo. Eu te encontro lá.
Luís encerrou a prosa com sua equipe, pagando a conta e se dirigindo ao encontro de Letícia. Ficou curioso para saber quais novidades, Letícia traria. Quiçá, obtivesse mais pistas sobre como agir diante desse caso.
- Ok, cá estamos. Diga-me qual a novidade?
- Eles querem falar com você.
- Eles quem? Os sequestradores?
- Sim.
- E eles te mandaram mensagem dizendo isso?
- Sim, eles querem fazer uma ligação de vídeo.
- E se eu recusar?
- Eles vão cortar um dedo do Horácio e mandar. (Letícia cai em prantos) Por favor, me ajuda!
- Ei, ei, se acalme... Não precisa chorar... Tome, enxuga o rosto - diz, enquanto entrega um lenço.
- Obrigada.
- Escuta, vamos lá pra casa, que aí a gente conversa melhor sobre isso.
- Tá bom.
Chegando a casa, Luís preparou um chá de camomila para Letícia. Mais calma, ela começou a explicar pra ele, como seria feita a operação.
- Eles ligaram ontem e querem fazer a chamada amanhã à noite, por volta das 20h. Você pode né?
- Certo, posso sim. Na sua casa, né?
- Isso.
- Ok, estarei lá.
- Muito obrigada!
Mais confortada com o apoio de Luís, Letícia deu um abraço nele pra agradecer. Entretanto, o abraço acabou sendo um tanto quanto longo e, meio que sem querer, Letícia acabou beijando Luís. Seria essa uma boa ideia?
O Andarilho