Fama?
Apesar da pouca disposição para atuar no caso, já que suspeita das atitudes de Horácio, Luís se sentiu dividido entre a "culpa", para ajudar Letícia depois de tudo o que aconteceu com Hermeto, e a curiosidade por entrar em contato com um novo grupo criminoso e de uma maneira tão acelerada. Era, no mínimo, irônico ver alguém tomar como refém, um suspeito seu. Diante de todo esse cenário, fica a pergunta: o que fazer?
Nessas horas, dava vontade de voltar a um dos seus vícios antigos: a jogatina. Felizmente (ou talvez não), Letícia era a sua madrinha. Ligava pra ela pra apoio ou pra levar uma bronca? Ou ambos? Enquanto olhava para o celular pensativo, seus pés o levaram até a porta da geladeira. Com a porta aberta, deu de cara com algumas cervejas. Uma olhada de cá, outra de acolá e decidiu pegar uma, afinal já diz o poeta "uma cerveja antes do almoço, é muito bom pra ficar pensando melhor"!
E não é que deu certo? A angústia foi passando à medida em que bebia e o raciocínio foi clareando. Começava a definir quais as primeiras atitudes que tomaria para dar continuidade aquela investigação. Já dispunha dos apoios de Olavo, Ana. Usaria Hermeto de novo? Melhor não, visto que ele passara pelo hospital não havia muito tempo. Talvez fosse uma boa ideia passar pela polícia e tentar recrutar alguns parceiros para uma investigação. Seria uma opção melhor do que pesquisar a sua velha lista de contatos? Sinceramente, não sabia. Entre uma cerveja e outra, ponderava essas possibilidade de ação.
Por fim, decidiu ir até a polícia. Lá chegando, foi procurar pelo oficial de plantão naquela tarde. O delegado Esteves. Já ouvira bons comentários sobre ele, quiçá fosse se interessar por entrar nessa empreitada. Não custaria sondar, não é?
- Então, diga-me o que o traz aqui?
- Então, delegado eu tenho um caso interessante para você investigar, até o sequestrando é um "ser a parte".
- Meu jovem quem vive de inspiração é escritor. Desenvolva a sua fala, vá.
- Hmm, direto ao ponto hein? Já vi que vamos nos dar bem... Então, você já ouviu falar de um grupo chamado "Lâminas"?
- "Lâminas"? Esse nome não me é estranho... É um assassino isso?
- Um grupo na verdade, eu diria que uma gangue.
- E eles entraram em contato com você por que motivo?
- Eles sequestraram o namorado da minha amiga. E mandaram um bilhete pra ela, dizendo que queriam "brincar" comigo.
- Hmm, interessante, creio que você, de algum modo, se intrometeu nos interesses deles ou prendeu algum dos seus parceiros.
- No ramo que me encontro, quaisquer dessas possibilidades poderia acontecer. Mas e aí? Você se interessaria em me ajudar nessa empreitada?
- Calma, calma. Primeiro me fale sobre o outro "ser interessante" do caso. Era o sequestrado não é?
- Sim, eu suspeito que ele seja algum tipo de psicopata.
- Isso é suspeita mesmo ou é ciúme da sua amiga?
- Nesse caso, é suspeita mesmo. Desde que eles começaram a se relacionar, ele apresenta uma curiosidade imensa sobre a vida da irmã dela, e das muitas reviravoltas em sua relação.
- Desculpa, mas não entendi.
- Ele está muito curioso na relação da irmã dela. Inclusive, quando o cunhado da minha amiga esteve no hospital, ele foi um dos primeiros a perguntar sobre o seu estado.
- Está me parecendo mais que ele se interessa pela família da namorada...
- Justamente! Mas, coloquei uma amiga para observá-lo e ela atestou que ele pouco fala de si, e algumas pessoas que se aproximaram dele sumiram de forma inexplicável...
- Assim, sem rastros?
- Tal qual fantasmas.
- Hmm.
- Fora que ele também evita falar sobre si ou seu passado. Isso eu também acho esquisito...
- Compreendo. É ele quem está sendo mantido refém pela gangue não é?
- Correto.
- Ok, ok, irei ajudá-lo. Primeiro, preciso saber se a gangue fez mais algum contato com você desde a carta. Depois, preciso de um contato seu para que possamos nos comunicar e combinar as ações a serem tomadas, assim como se você possui parceiros para esse caso e articular uma ação conjunta.
- Sim, sim. Meu telefone é esse aqui. Eu entrarei com os meus contatos e falarei com você também. Quaisquer novidades, entro em contato.
- Perfeito, fico no aguardo.
- Muito obrigado, Esteves já foi de grande ajuda.
Após se despedir de Esteves, Luís estava contente por ter encontrado apoio tão rapidamente, o que ajudaria a direcionar os seus próximos passos daquele momento em diante. Sentia que não seria fácil, mas em algum momento foi?
Enquanto isso, do outro lado da cidade em um armazém abandonado, um grupo reunido com um refém apresentava surpresa e apreensão diante do que via.
- Chefe, ele não para de rir.
- Ele quem?
- O tal do Horácio, acho que ele está achando que isso tudo é um blefe...
- Como é? Haha, e não é que essa presa passou a ser interessante, agora?
O andarilho