Os Segredos da Rua Baker 3: 28- Aposentadoria

Diana analisava a sala que acabara de entrar, ela não conseguira encontrar muito ali dentro, ao tentar sair percebeu a porta trancada. Ela buscava outra saída quando a luzes se apagaram e alguns agentes apareceram.

Havia ainda mais deles perambulando pelos corredores. Ao chegar do lado de fora a balbúrdia era ainda maior. Ambulância, vários carros, inclusive da Scotland Yard. Diana ouviu uma mulher histérica gritando aos quatro ventos sobre Irene ser uma assassina. Ao chegar mais perto, Diana se deu conta de se tratar da Miller.

-AQUELA VADIA O MATOU! ELA O MATOU!

-Do que está falando Miller?

-A tua irmã! Aquela estúpida e arrogante vagabunda...

-Meça bem as suas palavras ao falar da minha irmã.

-Ela matou o John. Ela o matou... O matou.

-Minha irmã nunca machucaria o John e você sabe disso. Ela estava desesperada para salvá-lo.

-Bem, ela não o salvou. Vou continuar a culpando. É a verdade. Vou fazer aquela va... – Miller caiu surpresa com o soco dado por Diana. – V-você... Você quebrou meu nariz.

-Eu vou quebrar bem mais que seu nariz se continuar falando merda sobre a minha irmã. Agora, se o John morreu mesmo como está dizendo, Irene vai precisar de mim, portanto vou parar de perder meu tempo com você.

De volta a mansão em que cresceu, Diana encontra o pai já descendo a escadaria principal. Ele já havia deixado Irene em seu quarto para descansar, porém depois de todo o ocorrido era pouco provável que isso fosse possível. Sherlock contou sobre as câmeras nas salas em que ficaram presos e em como Zoe queria forçar Irene a escolher quem morreria.

-Ela o viu morrer com um bala na cabeça.

-Da mesma forma como ela facilmente matou aquele homem.

-Sim. – Um grito e barulho de coisas sendo quebradas veio da direção do quarto da Irene, Diana tentou ir até lá, porém Sherlock a impediu. – Deixe-a sozinha por hoje. Vá pra casa e amanhã... Ela não está bem... Irene precisa de tempo e eu consigo enxergar isso. Você não?

-Ela vai usar...

-Mandei buscarem a sua mãe para passarmos a noite aqui. Vou ficar de olho.

No dia seguinte, Diana batia insistentemente na porta do quarto da irmã quando Sherlock chegou com uma chave reserva. Eles nem ficaram tão surpresos pela zona encontrada ao entrarem no recinto. Havia vários cacos espalhados pelo chão, por ela ter quebrado todos os espelhos, a cômoda em frangalhos, faltava portas no guarda-roupa e a estante de livros estava irreconhecível.

Irene se encontrava com apenas a perna direita na cama, pois o resto do corpo estava no chão. Ela usava apenas uma camiseta e calcinha, pois era como costumava dormir.

-Irene! – Diana verificou os sinais vitais da irmã. – Pelo menos está viva... De certa forma.

Lilian apareceu na porta quando Sherlock decidiu se aproximar para levar a filha até o banheiro. No entanto, nesse exato instante, Irene abriu os olhos e não foi exatamente o pai a quem ela enxergou tentando pegá-la.

Irene gritou para não chegar perto dela, pois concordaram que nunca mais a tocaria por qualquer razão. Ela se afastou rapidamente chegando a se encostar na parede.

-Está tudo bem, Irene. – Disse Diana. – Não é ele. É o Sherlock. O nosso pai.

Aos poucos seu olhar temeroso retomou a tristeza e o vazio do dia anterior. Ela se segurou a Diana encostando a cabeça no ombro da irmã.

-Por que, Diana? Por que eles continuam morrendo? Por que todos ao meu redor morrem?

-Nem todos. Eu continuo aqui. Continuo viva graças a você... A sua proteção.

-Você só é muito teimosa pra morrer.

-Uau! Valeu.

Sherlock se aproximou um pouco mais devagar dessa vez. Ele pegou Irene e a levou ao banheiro. Diana ficou pra trás pegando algumas roupas no meio da bagunça e só aí se deu conta da presença da Lilian, mas, dessa vez, ela a enxergou.

-Ela ficará bem? – Perguntou Lilian.

-Não é como se você se importasse.

-Diana... Você também vai me recriminar? Nem você entende...

-Eu entendo. Você não é inteiramente culpada. Irene também entende, porém ela a vê de verdade o tempo todo... Eu estou te vendo, pela primeira vez. Você está aqui na esperança de reportar o estado da Irene para a Zoe.

-Eu não...

-Nem começa, Lilian. – Diana ia em direção ao banheiro, mas parou. - Você viu a reação dela. Zoe não foi a única usada e abusada pelo Sigerson. Pelo amor de Deus, Irene é a sua filha! Aja, pelo menos uma vez na vida, como a mãe dela e não como uma vadia fingida. É irritante.

-Você está soando como ela.

-No fim das contas, eu sou uma Holmes. A irmã dela. Melhor sair desse quarto antes que eu a expulse... Lilian.

O escárnio na voz da Diana fez com que Lilian se retirasse sentindo-se enojada.

***

Horas depois, Irene se encontrava na cadeira do Mestre no mesmo local onde o destino do Morse fora selado. Não havia qualquer traço de tristeza, dor, vazio ou qualquer outro sentimento em seu rosto ou gestos. Ela estava atuando, obviamente, porém era tão convincente que a própria irmã (na qual insistiu em acompanhar o julgamento) se perguntava quantas vezes em suas vidas Irene a ludibriou.

Ao lado da Irene estavam as pessoas do conselho. Os homens e mulheres mais importantes da Europa e entre eles além da Alex e do Mycroft, também, estava o Sigerson.

Homens encapuzados colocaram Zoe no meio do salão. Ela parecia estar sendo bem tratada por ordens do Sigerson. O julgamento começaria com a Alex lendo todas as acusações contra a ré e em seguida cada conselheiro daria sua opinião, mas, no fim, seria Irene quem tomaria a decisão principal sobre o destino da Zoe.

Sigerson em seu discurso questionou a suposta imparcialidade que um Mestre deve ter para dá sua sentença:

-Visto o quanto Zoe e Irene andaram duelando em seu tempo livre. Podemos suspeitar do julgamento final ocorrido hoje.

-Minha decisão não tem nada a ver com o quanto sua favorecida decidiu me perseguir por ciúmes da nossa relação. Você é meu tio, no entanto não esqueça que aqui, eu sou sua superior. Não me obrigue a ter de puni-lo também.

Com um sorriso, Sigerson fez um leve aceno de cabeça. Ele não poderia estar mais orgulhoso. Assim chegou a hora da Zoe ter a palavra.

-Isso não é um julgamento de culpada ou inocente, não é? Apenas serei assassinada assim como fez com o Morse.

-Morse teve o que mereceu. Você também terá, apesar de ter sorte. Eu tenho uma promessa cumprir.

-Oh, você está sendo tão cortês. É fofo! Na realidade não me importa a sentença, pois já consegui o que pretendia.

-O que seria?

-Você perdeu o único em quem realmente confiou. O único que já mereceu o seu tempo e esforço.

Irene começou a rir.

-Desculpem! Oh, Zoe! Você acha mesmo que o John era tão importante assim? Eu fiz uma promessa ao irmão dele e é bem irritante não ter conseguido cumprir até o fim.

-E eu deveria acreditar nesse papo furado?

-Ficar sozinha é o melhor. É mais seguro. Você me fez um favor ao me livrar daquele cachorrinho babão que vivia me seguindo. Obrigada! Entretanto, você tem vários crimes. Sua sentença não será a morte. Há um vento leste chegando, Zoe. Espero que goste. Você vai para a prisão de alta segurança na ilha de Eurus.

Zoe parecia um tanto perdida.

-Esse lugar não existe.

-Sinto dizer que existe, Zoe. O seu patrimônio será dividido entre suas filhas e seu avô. Você não tem mais qualquer tipo de poder de agora em diante. Sem visitas. Sem conversas. Sem qualquer tipo de contato humano.

Irene levantou e foi perto dela

-Você não pode... – Ela olhou desesperada para o Sigerson. – Eu preciso... – Zoe diminue o tom de voz, é um momento só dela e da Irene. -Se a sua mãe ficar sem ter qualquer contato comigo, ela irá morrer.

- Assim como você irá morrer por não ter contato com o Sigerson. Não é uma pena? Foi divertido lutar contigo. Você é boa, Zoe. Muito boa, mas... – Irene olhou direto nos olhos de sua inimiga. – Eu sou Irene Holmes! Levem-na.

Irene não teve tempo de reagir quando uma mulher se aproximou lhe dando uma tapa na face.

-Como pôde? – Guardas da Cúpula dos Nobres a pegaram pelos braços para a levar as masmorras. – Você não é minha filha. Não é! Você é cruel.

Irene viu o rosto preocupado da Diana, então após soltar um palavrão ordenou que a largassem.

-Muita gente com sorte hoje. – Ela começou a dizer. – A Zoe extorquiu, roubou, sequestrou, adulterou registros importantes e assassinou muita gente, entre eles o inspetor Smith. Você deveria perguntar como ELA pôde? Joguem essa mulher pra fora daqui. Ah uma última coisa, Lilian. Se me tocar novamente, nem Diana irá salva-la. Você vai apodrecer nas masmorras da Cúpula dos Nobres. Dou por encerrado esse julgamento.

O celular da Irene tocou quando estava no carro com Diana a caminho da casa do Mycroft. Susan queria um terno para o velório do John. Assim, elas tiveram de passar na Rua Baker primeiro.

-Se preferir, eu posso escolher o terno. Você pode me esperar no carro. – Diana propôs.

-Não. Vou pegar o azul marinho. Ele usava o tempo todo.

-Ok. Vou contigo.

Na porta da 221B havia uma senhora e um rapaz, pareciam espera-las. A mulher foi logo perguntando quem seria essa tal de Irene Holmes e ao obter sua resposta, ela a esbofeteou.

-MÃE!- Exclamou o rapaz.

-O que está acontecendo com as mães hoje em dia? – Irene se perguntou enquanto esfregava a mão no rosto.

-Você matou dois dos meus filhos. Eu gostaria que eles nunca tivessem te conhecido.

-A senhora não é a única. – Irene respondeu para a surpresa da mulher. – Porém, aceite sua parcela de culpa na morte do John.

-O que?

-Irene...

-Se não o tivesse feito se sentir menos que o Bernard, ele nunca teria deixado a sua cidade e por consequência não chegaria a me conhecer.

-Como ousa!

A mulher acabou acertando o próprio filho ao tentar bater novamente na Irene.

-O primeiro foi suficiente e justo. Agora seria só seu ego magoado. Com licença.

O rapaz também pediu licença para deixar a mãe no carro enquanto esperavam o terno.

-John falava muito na sua irmã. – Ele disse ao retornar. – Posso ver o motivo de ter se apaixonado logo de cara. Ela é bem o tipo dele. Do Bernard também. Eles sempre tiveram o mesmo gosto peculiar. E sempre disputaram quase tudo.

-E quanto a você? Vai se apaixonar pela minha irmã também?

-Nah! Se fosse me interessar por alguém seria por você, boneca.

-Boneca? – Diana mostrou a mão. – Casada.

-Você pode chama-lo também. Quanto mais melhor.

-Você realmente não é nada parecido com seus irmãos.

-Sorte minha.

***

Mycroft entra em uma sala na ala abandonada de sua mansão, ele encontra Irene sentada no batente de uma enorme janela. Ela bebia um café perdida em pensamentos.

-Esta cena é como um estranho Déjà Vu.

-Como me encontrou?

-Você sempre vem aqui quando está triste. – Ele pegou a xícara. – Apenas café?

-Daquela vez, eu não estava me perdendo na minha mente. Eu buscava uma forma de acabar com o Sigerson.

-Eu sei. Diana não sabe. Você era apenas uma criança, Irene. Se ele te pegasse, você seria pior que aquela Zoe. Muito pior. Você não existira hoje.

-Consigo entender as suas ações, Mycroft. Obrigada. Você me salvou... Dele e de mim.

-Achei vocês! -Diana adentrava sorridente.

-Como todos estão me achando aqui?

-Bem, - Diana colocou o braço no do tio -, você sempre vem aqui quando está triste.

-Essa é a segunda vez que venho.

-É a segunda vez que fica triste.

-Você é tão divertida. Deveria fazer uma turnê.

-Meninas, eu proponho uma manhã de jogos.

-Só se eu puder escolher. – Disse Diana.

-Não! você sempre escolhe os mais chatos. – Irene reclamou.

-Descobrir qual a substancia secreta não é chato.

-É sim.

-Nós podemos jogar o dia todo, garotas. Podem escolher o favorito de cada uma e os jogaremos... Duas vezes.

-SIM! – As duas gritaram animadas.

Eles se encaminharam a “sala de jogos” onde passaram o dia entre desvendar crimes irreais, descobrir substâncias escondidas, revelar pelo cheiro o que havia sido atirado na lareira e várias outras “brincadeiras”.

Era como se fosse um dia de folga para a Irene. Ninguém a perturbou naquele dia, ela apenas se divertiu com a irmã e o tio. A noite tiveram um jantar com a toda a família, incluindo a mãe da Alex.

O que ninguém sabia no momento era que se tratava de uma despedida. Na manhã seguinte, Irene desceu com umas bolsas. Quando questionada a respeito, ela explicou estar se aposentando.

-Você está doida? Não pode fazer isso! – Alex estava transtornada. – O Sigerson entrou em contato. Ele vai se candidatar a Primeiro Ministro. Entende o significado dessa ação?

-Sim.

-Então... Qual o plano?

-Você faz o plano. Você o põe em prática. Estou indo ou vou perder o trem.

A família Holmes estava em peso boquiaberta com a decisão da Irene, pois apesar dela sempre dizer que se aposentaria, ninguém jamais imaginou que seria no meio de um trabalho.

Seria isso apenas pela perda do John?

-A Inglaterra ficará à mercê de todos os caprichos daquele homem desprezível, Irene. Sem falar em como perseguirá a todos nós.

-Você todos tem capacidade de cuidarem de si mesmos. Você é o governo britânico, Alex, pode fazê-lo perder.

-Não é assim tão simples...

-Ele é um lunático que me persegue por decidir que sou sua propriedade. Eu estou cansada! Nada mais me resta, Alex. Eu perdi tudo. Por que é minha responsabilidade proteger a todos vocês? Ou merda do país inteiro? Hum? Me diz.

-Por que você é assim. – Mycroft foi perto da sobrinha. – Você é incapaz de ver alguém precisando de ajuda e não fazer algo a respeito. Essa é Irene Homes que conheço.

-Não, eu não sou assim.

Mycroft colocou as mãos no rosto da sobrinha a fazendo fita-lo.

-Mas, você tem toda razão de desistir. Tirar o peso dos seus ombros. Deixe o trabalho para outra pessoa. – Ele a beijou na testa. – Você pode ir.

-NÃO! – Alex gritou. – Você nos obrigará a fugir. Diana terá de sair da universidade que tanto ama para proteger o Sean. Irene... Eu não vou suportar perder a Jasmine.

-Então, agora, você me entende, prima querida.

Sem qualquer despedida, Irene saiu daquela casa em direção a estação. Ela pegou um trem para a fronteira do país, porém desceu na metade do caminho pegando uma carona até a cidade vizinha.

Irene se viu parada em uma outra estação com as palavras do Mycroft vagando incansavelmente por sua cabeça.

“Desistir”

"Abrir mão”

“Trabalho de outra pessoa”

“Fugir”

“John”

-Merda!

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 25/02/2020
Código do texto: T6874125
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