Tensão
Um calafrio. Assim que se sentiu Hermeto ao atender a chamada de Olavo. Não sabia explicar direito por que se sentia assim, mas diante de todas as adversidades que causou, a possibilidade de ser, realmente, uma ajuda o assustava. Todavia, não tinha muito tempo para refletir. Era preciso agir e a "fama" de malandro poderia lhe ser muito útil.
Algumas ligações aqui e acolá e Hermeto descobriu rapidamente três contatos que poderiam levar ao encontro do seu algoz da facada: uma antiga amante e dois parceiros de copo de Johnny. Foi em busca dos três para saber mais informações, acompanhado de Olavo, disfarçado para buscar informações, enquanto estava inserido naquele meio.
O pretexto para o encontro? Uma mesa de bar com o intuito de "botar a prosa em dia". Quem nunca fez isso? E seguindo com o plano chegaram ao bar e sentaram e logo pediram uma cerveja pra começar.
- Ora, ora, quem decidiu enfim, aparecer.
- Pois é, hehe, estive enfrentando alguns problemas nesses últimos tempos, mas cá estou!
- Sei... E quem é o parceiro aí?
- Esse? Ah, ele é o Gonçalves, trabalha comigo.
- Ah, entendi. E você decidiu levá-lo logo pra cá?
- Ué, a cerveja é boa e barata aqui. Pra onde mais eu poderia levá-lo?
- A cidade tem mais bares e não sei se ele vai se "encaixar" aqui...
- Ah, ele não possui frescuras, nem se preocupe.
- ...
- Algum problema Hermeto?
- Não... nenhum.
- Então, a gente vai beber ou só enrolar?
- Bem colocado, Gonçalves! Vamos começar?
- É... vamos começar..
Bastaram algumas cervejas e umas partidas de sinuca depois, para Olavo se enturmar com o grupo. Por já ter feito missões de infiltração no passado, Olavo não se sentia estranho nessa função e, pelo que pôde sentir do ambiente, aquelas pessoas não demorariam a falar, a questão é se, de fato, saberiam algo sobre o incidente Com Luís.
- Essas ruas estão ficando violentas não é?
- Se você for residente dessa região, certamente já estaria acostumado...
- Soube outro dia, enquanto estive na delegacia que um civil fora esfaqueado na calada da noite...
- E pegaram o atacante?
- Até agora, está sumido. Só parece que ele estava gritando algo quando atacou, o nome de alguém...
- Nome?
- João.. johnny.. algo assim
- Será que...
- O que?
- Há um tempo atrás, um cara daqui, chamado Johnny, foi preso por tráfico se não me engano, me pergunto se isso não seria uma retaliação...
- Hmm... e quem poderia fazer isso?
- Não faço ideia a não ser que...
- ?
- Eu lembro de ter visto uma pessoa passar com uma faca ensanguentada esses dias enquanto corria em um estado estranho como quem estava em euforia...
- Nossa, e essa pessoa mora aqui?
- E eu lá vou saber? Você está me parecendo interessado demais para um mero curioso...
- Bem, acho que é efeito dos filmes que vejo...
- Sei... Bem, se serve de referência ele desceu para aquela baixada ali há uns dois dias. Pode ser que more por lá...
- Ah, compreendo...
- Você quer ir lá ver?
- Eu? Ah, não tenho condições pra sair em uma aventura dessas...
- Tenta ué. Vai ser igual aos filmes...
Ciente que a situação estava começando a ficar estranha, Olavo sentiu que precisa despistar o momento, ou ainda, blefar para despistar aqueles olhares desconfiados que pairavam ao seu redor. Como não tinha certeza o quanto Hermeto poderia ser "vivo" para captar uma pista ou deixa que fizesse, decidiu seguir por uma abordagem solo...
- Melhor não, mal cheguei nesse bairro e prefiro evitar uma confusão, ainda mais sabendo que a polícia já monitorou esse lugar...
- A polícia??
- Foi, deu no jornal ano passado que vieram fazer uma batida policial com direito a troca de tiros, então melhor deixar os profissionais trabalharem né?
- Pra mim, você está fugindo mesmo, mas melhor evitar o que a gente não pode fazer né?
- Com toda a certeza. Um brinde?
- É, por que não?
Sentindo o sangue baixar, e a apreensão diminuir, Olavo estava certo que seu blefe tinha funcionado. Ao mesmo parava para observar o ambiente e tentar memorizar o acesso a baixada, uma vez que o provável atacante de Luís estava naquele lugar. A ideia que tinha era voltar ao lugar acompanhado de uma equipe, que chegaria em dias alternados para não levantar suspeitas.
Missão cumprida era hora de retornar. Por via das dúvidas, Olavo seguiu a sua rotina normal, posto que ainda poderia ser observado, mandando mensagens sobre os seus avanços para Luís. Depois de algumas negociações, decidiu que entraria na baixada na semana seguinte, pois Luís insistiu em ir junto, já que queria confrontar seu algoz.
No dia combinado, enquanto conversava com Luís, recebera uma mensagem com uma imagem. Ao abri-la, vira Hermeto amarrado e bastante machucado, acompanhado pelas mesmas pessoas da mesa e mais um jovem de semblante fechado e a seguinte frase "e aí vai continuar brincando de detetive? Você tem 6 horas para aparecer com 10 milhões ou seu amigo vai pra vala. O que vai ser"? Ciente da confusão, mostrou a foto a Luís, que só disse:
- Até que esses palhaços gostam de uma diversão. Vamos mostrar qual o lugar deles nesse jogo...
O Andarilho