Bip... bip.. bip...

Bip. Bip. Bip. Esses foram os primeiros sons que Luís ouviu ao acordar deitado e assustado em um cama de hospital. Achou aquele ambiente estranho e, por um momento, esquecera como foi parar ali. Entretanto, bastou que tentasse se ajeitar na cama, pra sentir as pontadas na barriga, repleta de pontos da noite anterior. Então, tudo veio à tona com um mergulho no mar.

Ao reconstruir a cena em sua mente, Luís ainda se sentia confuso e puto. Quem caralhos era Johnny? Por que alguém o esfaquearia? Seria alguém importante? Ou pior, alguém que se sentisse injustiçado? Ou tudo isso junto?

Luís sabia que escolhera um campo perigoso de trabalho. Acidentes como esse, embora não sejam comuns, são compreensíveis de certa forma. A questão era saber de que modo aquela facada ocorreu e como isso poderia levá-lo a uma nova investigação. Por ser tarde da noite, em uma rua relativamente vazia, ninguém vira o atacante sumindo com a mesma rapidez que aparecera. Restaria somente as lembranças do ataque e a sua veia investigativa para retornar a cena do crime e descobrir o que aconteceu passo a passo.

Todavia, deveria fazer o que não estava acostumado: descansar. Sua ideia de descanso geralmente vinha acompanhada de uma cerveja em uma mesa de bar. E, bem, não estava de todo errado. Quem diabos gosta de ir pra um hospital? Mas não tinha escolhas. Era preciso estar ali.

Pra sua sorte, uma médica passou naquele momento para checá-lo, o que lhe deu oportunidade de perguntar quanto tempo ainda ficaria ali.

- Boa tarde, Luís. Bom vê-lo acordado. Como está se sentindo hoje?

- Boa tarde, doutora. Tonto, com meu estômago doendo, e em um hospital. Se eu estivesse com meus 20 anos, diria que é uma clássica sexta...

- Bom senso de humor. Senhor Luís, você teve sorte que conseguimos estancar a facada a tempo e parar a hemorragia. Também informo que não chegou a pegar nenhum órgão vital. Tem alguém que você gostaria de contactar? Algum parente, amigo?

Nesse momento, Luís não tardou a pensar em Letícia, embora fosse detestar todo o sermão que ela daria. Mas, e daí? Pra quem estava sozinho numa cama de hospital, seria bom ter uma companhia...

- Sim, eu vou querer contactar uma pessoa Letícia. Eis o número dela.

- Perfeito, seu Avelar. Entrarei em contato com ela. Mais alguma coisa que você queira?

- Se puder me trazer um lanche seria legal.

- Perfeito, irei solicitar.

Bem, a chamada estava feita. Agora, era esperar. Tanto pela comida quanto pela chegada de Letícia. Por um momento se indagou que dia era aquele. Seria um fim de semana?

Todo aquele silêncio tedioso estava prestes a se romper. Ouvia passos pesados a se aproximar, já sinalizando com qual humor a pessoa iria entrar na sala. Não é preciso fazer muitos rodeios pra dizer quem era...

- Seu inconsequente!

- Tava com saudade?

- Como merda isso aconteceu e por que você ainda tem essa mania de andar vagando por ruelas estranhas?

- Ah, é o meu charme né?

- ...

- Ué, cadê o novato? Não veio?

- E eu lá vou traze-lo pra cá? Cada ideia...

- Verdade, isso seria insensato.

- Então, me conta. Como você conseguiu fazer essa arte aí?

- Nem eu sei direito. Estava caminhando ao ser abordado, do nada, por um pedestre aleatório, gritando algo como "isso é pelo Johnny"! Depois, quando vim dar por mim, estava aqui deitado.

- Esquisito. E o que você vai fazer? Investigar, nem pensar.

- Eu vou delegar funções, pedir ajuda pro Sebastião para investigar os meus últimos 5 anos de caso, pra ver se acho uma pista.

- Não foi ele quem você colocou pra investigar meu amigo?

- Merda, foi. Então só me resta recorrer a uma pessoa. Empresta o teu telefone.

- Vai ligar pra quem?

- Pra meu antigo parceiro, um verdadeiro "fantasma" do sistema.

- Olavo?

- É ele. Quem fala?

- Aqui é Luís, está afim de voltar à ativa?

- Sou todo ouvidos.

O andarilho.

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 07/12/2019
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