A Sombra do Vingador - Lobo caçando Lobo

A Sombra do Vingador

Lobo caçando Lobo

Conviver com saudade de Carol faz do meu dia a dia um verdadeiro inferno existencial, porém ter que engolir esse sentimento letal que é a vingança é ainda pior. Ele me persegue e quando estou sozinho ou quando me deito para tentar dormir esse sentimento se intensifica ao ponto de me incendiar. O sangue da minha querida Carol precisa parar de clamar, precisa parar de implorar por justiça. Eu estou ficando louco, falo sozinho e sou assombrado todas as noites. Me entupo de medicamentos fortes e isso tem prejudicado meu estômago que dói toda vez que fico nervoso, ou seja, o tempo todo.

Sou policial a 15 anos e amo o que eu faço, sempre gostei de proteger as pessoas dessa cidade infernal. Comigo a bandidagem não consegue espaço, seja quem for. Desde o vendedor de trouxinha até o tubarão que mora na coberta na zona sul, não alivio mesmo. Trabalho sozinho, faço questão de não ter parceiro me enchendo o saco ou me dizendo como devo proceder. Minha viatura minhas regras. Confesso que as vezes penso em sair na próxima baixa e seguir com minha vida miserável como instrutor numa academia de defesa pessoal, porém quando vejo um crime sendo cometido algo me toma por completo e lá vou eu mais uma vez servir e proteger a qualquer custo.

A noite mal começou e eu já estou no décimo café. Amargo como é a minha vida. Preciso me manter acordado e em alerta. Nessa vida que escolhi consegui algumas dezenas de inimigos que salivam só em me ver. Por isso escolhi um bar menos movimentado, bem pé de chinelo mesmo de beira de estrada. Fico perto da porta de saída caso haja um confronto. Minha inseparável Glock se encontra no coldre, doida para cuspir bala na carcaça dos vagabundos. Pago os cafés e saio já sacando o maço de cigarros no bolso da jaqueta.

- Detetive Bruno Junior? – perguntou um sujeito de barba longa e branca.

- Ele mesmo. – respondo sem muita vontade.

- Posso ter o prazer de lhe pagar uma bebida?

- Olha, eu... – cocei a barba por fazer.

- Já sei, já sei, o senhor vai falar que não bebe em serviço, acertei?

- É que eu já estava de saída mesmo.

- Gabrielle Montanari.

Esse nome me faz mal, muito mal. Esse desgraçado destruiu a minha vida, me matou e me deixou vivo. Gabrielle Montanari, um dos maiores tubarões do crime organizado. Conseguiu fortuna através de muito sangue derramado, assassino de policiais e explorador de putas. Ele precisa ser morto o mais rápido possível.

- O que tem ele? – o seguro pelo colarinho.

- Não me mate, por favor, eu só quero ajudar.

- Eu não preciso de sua ajuda, agora vai falando. – saco minha arma e a enterro no olho esquerdo do velho barbudo.

- Pelo amor de Deus.

- Fala velho maldito. – sinto meus olhos umedecerem.

- Calma, calma.

- Venha, vamos dar uma volta.

*

Gabrielle Montanari, herdeiro do trono dos Montanari, uma família de mafiosos de altíssima periculosidade. Quando ainda viviam na Itália Dom Giuseppe Montanari liderava o seu bando com braço de ferro e quem falhava era morto da pior maneira possível e isso servia para qualquer um, inclusive para filhos e sobrinhos. Quando migraram para o Brasil Giuseppe foi morto por mafiosos rivais e teve sua cabeça cortada. O caso repercutiu aumentando dez vezes mais a rivalidade. Carlo Montanari assumiu a liderança. Houve guerra. Inocentes e policiais foram torturados e mortos até que o irmão de Gabrielle cometeu uma falha e o próprio Gabi, como é chamado meteu uma bala na cabeça de Carlo assumindo o trono Montanari.

Gabi é um pouco mais democrático, porém muito mais reativo. Fez alianças com políticos e megaempresários, investiu bastante e hoje ele não é só um mafioso perigoso, mas sim um mafioso, rico, perigoso e poderoso. Hoje é dia de festa em sua casa. Muita droga, mulheres, bebidas de todas as marcas e fartura em comida. Sempre bem vestido de terno e gravata, Gabi recebe em seu gabinete dezenas de pessoas importantes para um breve bate papo as portas fechadas. No momento ele termina uma audiência com o dono de uma rede de supermercados.

- Então podemos fechar assim dom Gabrielle?

- Exatamente. – fala com um sotaque muito carregando. – conhece as regras não é?

- Sim Senhor. – diz gaguejando.

- Divirta-se. – aponta para a porta.

Assim que o sujeito saiu do gabinete Montanari foi até o corredor e sinalizou para uma mulher loira, alta vestindo um vestido vermelho colado ao corpo.

- Venha, agora é a sua vez de ser atendida.

A tal loira apertou suas partes íntimas e o beijou.

- Pelo contrário, eu quem vou lhe atender.

*

Um chute e depois dois socos quebrando o nariz do velho. Bruno Junior permitiu que o mal policial assumisse o controle da situação. A barba que era branca se transformou num chumaço vermelho devido o sangue que escorre da boca.

- Pra que isso cara?

- Você acha que eu estou brincando? Sei muito bem que Montanari te mandou aqui. Agora você vai falar o que está rolando.

Outro chute na cara e depois na costela. Esse é Bruno Junior, alguns de seus poucos amigos o chamam de bruto Junior e ele gosta. Certa vez para arrancar uma confissão de um traficante ele enfiou uma caneta no nariz do marginal e ameaçou empurra-la devagar caso não ele não colaborasse. Lógico que o vagabundo confessou, mas Bruno Junior enterrou a caneta, mas não o matou, foi somente para ter o prazer de ver o meliante gritando.

Mais um soco e o velho desmaiou. Furioso Júnior apertou seu pescoço com o pé e o velho recobrou a consciência.

- O que Gabrielle quer?

- Ele anda recebendo autoridades e empresários. Dentro de muito em breve ele se tornará o manda chuva da cidade, ele está comprando tudo e a todos, está se tornando poderoso demais. E... – cospe sangue.

- Estou perdendo a paciência com você, velho. – apoiou um joelho no peito do idoso que arfou. – fala logo.

- Ele sabe que você está na cola dele, por isso ele me mandou aqui para tentar te pegar, só que eu não quero. Não quero que um monstro tome conta da minha cidade.

Montanari matou Carol, ela não teve chance de se defender. Foi morta covardemente e teve o corpo jogado num lixão. Foi a pior tarde da vida de Bruno. Ver sua quase noiva morta, com uma expressão de agonia no rosto foi de fazer o estômago dar um nó. Tudo que ele queria era poder matar o Italiano, pagar com a mesma moeda.

- Vamos, levanta. – o puxou. – me conte devagar tudo o que está acontecendo.

- Aí, meu Deus, eu sei que eu vou me arrepender, mas, vamos lá.

Depois de alguns minutos Bruno Junior ficou por dentro de tudo o que seu inimigo está tramando. Agora ele sabe que Montanari está se cercando de todos os lados afim de se tornar num curto espaço de tempo o homem mais temido de toda cidade. Bruno tem todos os motivos para solicitar uma mega operação, porém optou em agir sozinho. Essa guerra é entre Gabrielle e ele.

Assim que terminou de ouvir tudo o que o velho tinha a dizer, júnior o colocou no carro e percorreu algumas quadras até encontrar uma velha ponte onde um rio corta o bairro.

- O vamos fazer agora? - perguntou o velho.

- Desça e fique de costas para mim.

- Pelo amor de Deus, eu só quero ajudar, não precisa me matar.

- Quem você pensa que está enganando? Sei bem que foi Montanari quem bolou esse plano, você ganharia a minha confiança e depois seria os olhos dele comigo.

- Mas, mas...

- Desça do carro e comece a rezar.

O bandido desceu quase se urinando. Bruno Junior pegou no porta luvas seu trinta e oito não registrado e explodiu o crânio do velho barbudo que caiu no rio tendo o corpo levado pelas águas verdes. Júnior voltou para dentro do carro e respirou fundo. Hora do lobo caçar outro lobo.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 06/12/2019
Código do texto: T6812227
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