O Detetive Holográfico

- Sr. Vaughn, você é a minha última esperança - declarou Dora Holloway, ao sentar-se diante do detetive particular. A conversa transcorria no escritório do mesmo, um espaço acanhado e cujas paredes pareciam atravancadas de livros, revistas e jornais encadernados, empilhados em prateleiras de aço de forma aparentemente caótica. A mesa do detetive também estava coberta por papéis, que rodeavam de forma ameaçadora uma surrada máquina de escrever Underwood Nº 5. Vaughn lançou-lhe um olhar simpático.

- Decerto que minha fama foi exagerada, senhorita - redarguiu com modéstia. - Apenas tento cumprir de modo satisfatório as missões de que sou incumbido, mesmo que as descobertas resultantes delas não sejam sempre... agradáveis.

- Eu compreendo, sr. Vaughn, mas o que preciso saber é se minha irmã caçula está viva ou morta, apenas isso.

Vaughn ergueu uma ficha pautada, onde anotara os detalhes do caso que a cliente havia exposto. Começou a ler os pontos principais, com voz pausada.

- A sua irmã, Edith Holloway desapareceu em junho de 1954, enquanto passava uma semana de férias em Hartford. Seu último contato foi quando telefonou avisando que iria a um teatro, à noite, e ligaria na manhã seguinte, um domingo, contando como havia sido a peça. Correto?

- Correto - confirmou Dora Holloway. - Só que ela não retornou ao hotel e nunca mais apareceu, ou deu sinal de vida.

- A polícia de Connecticut foi acionada cerca de 48 h depois, mas as buscas foram infrutíferas, e um ano depois, tudo o que se sabe é que Edith Holloway saiu do hotel, mas jamais chegou ao Bushnell Memorial Hall, para o qual possuía uma entrada - prosseguiu o detetive. - O caso está na seção de pessoas desaparecidas, já que não se sabe se houve ou não um crime... e foi então que lhe deram o meu telefone de contato.

- Sim, a polícia de Connecticut me disse que o senhor tem uma grande reputação em localizar pessoas desaparecidas, mesmo que, em muitos casos, elas não estejam mais...

- Vivas - completou suavemente Vaughn. - Mas também já me deparei com situações onde a pessoa queria simplesmente fugir do contato com os parentes e conhecidos, começar vida nova.

- Eu não creio que este seja o caso da minha irmã - afirmou convicta Dora Holloway.

- Em breve saberemos, senhorita, embora imagino que prefira saber que ela apenas cansou da família - replicou o detetive com um sorriso.

* * *

Jeffrey Vaughn cumprimentou seu colega Andrew Reyes, ao sentar-se no terminal de computador ao lado dele. Reyes lançou um olhar de curiosidade para as fichas de cartolina cobertas de anotações a lápis, que Vaughn espalhou ao lado do teclado.

- Caso novo?

- É. Mulher desaparecida em Connecticut, 1954.

- Nenhuma pista?

- Não até 1955, quando peguei o caso - replicou Vaughn, ligando o terminal. Um monitor virtual holográfico formou-se à frente do teclado.

- Nunca desconfiaram de como você resolve casos aparentemente insolúveis? - Questionou Reyes.

- Eu não consigo resolver todos os casos, - corrigiu Vaughn - até porque, algumas pessoas podem ter sido assassinadas e jamais são encontradas pela polícia. Estas, não entram na base de dados e continuam em aberto. Agora, se quem desapareceu apenas mudou de cidade, estado ou identidade, há uma esperança de encontrar o paradeiro, particularmente após a introdução dos sistemas computadorizados de crédito e previdência social.

Vaughn começou a digitar velozmente no teclado iluminado, fazendo blocos coloridos flutuarem e se agruparem no monitor holográfico.

- Ah... uma possível correspondência em Van Nuys, Los Angeles, janeiro de 1960... - avaliou Vaughn. - Mas para ter certeza, vou precisar comparar com uma amostra do DNA de Dora Holloway.

- E como espera conseguir isso sem despertar suspeitas? - Inquiriu Reyes, mão no queixo. - Não havia coleta de DNA em 1955...

Vaughn exibiu um saco plástico de prova, contendo um copo de papel descartado com uma marca de batom bem visível na borda.

- Eu sabia que iria precisar - informou.

- [02-11-2019]