FERNANDO, O CIGANO parte II

FERNANDO, O CIGANO (parte II)

Os conduzidos estavam lá. A responsável pelo caso era a

Delegada de Polícia doutora Márcia, a escrivã chamava-se Nathália.

Os averiguados seriam ser ouvidos por último, primeiro foram qualificados Fabiano Santos (Magal) e Ivo Santos, para que pudessem

ser feitas pesquisas mais apuradas sobre antecedentes.

Tiveram que colher as digitais dos investigados. Não obstante,

reclamei com a escrivã porque eles fizeram a identificação

cível, isto é, apresentaram documentos de identidade, contudo,

o RG de um deles era de Minas Gerais e teria que se fazer a legitimação

via telex.

Falei com a delegada e ela queria ouvir a esposa de Fabiano.

Passei por ele, ali sentado na longarina de quatro bancos, ao lado

da sala da Belª., e disse-lhe que a doutora falaria com sua mulher.

– Ela não pode falar com a delegada antes de falar comigo.

– Não tem mais jeito, vai falar sim.

Fui chamá-la e instruí para que mantivesse a história contada

até ali, ou seja, o veículo tinha sido comprado ontem e era

de alguém que deixou emprestado para irem trabalhar e que nada

sabiam sobre os talonários. Mas ela disse que ainda tentaria falar

com o marido em língua cigana porque ninguém entenderia.

Entretanto, a delegada aguardava-nos ali na frente e Fabiano

até que tentou falar alguma coisa para a mulher, mas eu

mesmo adverti-o que era proibido. A delegada começou com as

perguntas:

– De quem é o carro? Qual o nome do proprietário?

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M. A. Silvente Pessoa

– Não sei, é de um cigano que emprestou pra eles irem...

– Você não sabe o nome de seu primo...? Seu marido disse

que o carro era de seu primo.

– Não sei, acho que é Pedro. Nosso carro, um Kadett, quebrou

em uma rodovia, nossa filhinha também passou mal lá, um

moço nos ajudou, e o Magal estava com a peça, ia trabalhar hoje,

depois buscar o carro e a gente ia embora pra Minas Gerais.

– Pedro? Ele disse outro nome... Você não sabe o nome de

seu primo?

A delegada virando-se para Fabiano falou-lhe:

– Essa parte do Kadett pelo menos é verdade, mas o nome

do primo tinha que saber..

Nesse momento, Fabiano interveio:

– Nós ciganos somos todos primos e mulher de cigano

não fica conversando com outro cigano, depois eles aparecem no

acampamento e vão embora, ela não sabe o nome dele.

Eu intervi:

– Ouvi outro nome, posso falar doutora?

– Sim.

– Fernando.

(continua)

Marcos Pessoa
Enviado por Marcos Pessoa em 20/10/2019
Reeditado em 07/11/2019
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