Dias de sol
- Então, essa é sua família?
- Sim, meus pais e essa é a minha irmã, que está grávida.
- Hmm, ela é casada? Não vejo o marido nessas fotos...
- Não, ela se divorciou recentemente.
- Ah, que pena...
- Não, nem tanto. O cara era um mala...
- Mas criar família assim não dá certo...
- Assim como?
- Sozinha, sem ninguém.
- Mas ela não está só. Eu estou sempre por perto e as amigas dela também.
- Desculpe, eu não quis ofender.
- Tudo bem, eu preciso ir. Vou passar no banco e fazer umas visitas.
- Está certo, grato por conhecê-la e pelas dicas sobre a cidade.
- Imagina! Até um dia.
- Até.
Letícia mal imaginava que havia escapado de uma boa. Como todo psicopata, Horácio seguia um padrão, e a família de Letícia não o atraía como possíveis vítimas. Todavia, as informações que coletara naquele encontro seriam úteis para a sua "pesquisa de campo", sendo cauteloso em seus movimentos, uma vez que vira no jornal a prisão de Paula. A polícia estava atenta e, para os seus propósitos, seria bom que ficasse em alerta também...
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Luís se preparava para ir entrevistar as sobreviventes de Paula. Além de descobrir a motivação por trás da psicopata, ainda queria entender o motivo por trás das falas de Paula, que "não terminaria ali" aquela saga. Haveria mesmo outro assassino, pela região?
Eram casos como esse que o motivaram a seguir essa profissão. Não tinha um ritmo definido, mas contava com assassinos frios e calculistas em seus movimentos. Derrubá-los nesse campo era a sua maior felicidade. Por isso seguia motivado nesse caso, pois possuía a sensação de "incompletude", fato no mínimo, curioso.
- Olá, tudo bem com vocês? Meu nome é Luís, sou investigador e estou atuando nesse caso. Eu gostaria de fazer algumas perguntas para vocês.
- Olá oficial. Tudo bem, no que pudermos ajudar, ajudaremos.
- Maravilha! Vamos começar pelo básico. Como vocês se chamam?
- Eu sou Luísa e essa é minha filha Teresa.
- Perfeito, qual a sua profissão?
- Eu sou analista de sistemas, costumo trabalhar de casa.
- Perfeito, e o seu marido?
- Ele é contador. Passa o dia na rua.
- Está explicada a sua ausência... Agora, me diga, qual foi a abordagem que a Paula usou para entrar em sua casa? Ela chegou a usar da violência?
- Não, ela me pareceu uma boa pessoa. Primeiro, ela ofereceu ajuda para pegar as compras do mercado. Depois, insistiu para entrar e auxiliar a guardar.
- E isso não te pareceu estranho?
- Assim, falando agora realmente soa estranho, mas não achei na hora.
- Hmm, compreendo.
- E como ela agiu?
- Não entendi.
- Quando ela entrou na sua casa, o que ela fez?
- Bem, ela entrou, sentou e pediu um pouco de açúcar e depois tomou um café conosco.
- E como ela imobilizou vocês?
- Depois do café, eu apaguei e quando dei por mim, já estava amarrada no quarto.
- Então, ela usou um sonífero?
- Sim, acredito que sim.
- Mas ela chegou a ameaçar vocês?
- Ela falava de maneira muito calma, que a culpa não era nossa, mas que precisávamos morrer. Disse ainda que faria isso de maneira rápida para não causar muita dor...
- E o que mais?
- Ela disse que iria esperar pelo meu marido para "morrermos juntos como uma família". Ela repetiu isso várias vezes.
- Hmm... Então, ela não bateu em vocês?
- Ela deu alguns tapas leves nas minhas costas e nas da minha filha. O que ela focou mais foi em elogiar nossa família e fazer algumas ameaças.
- Hmm compreendo... Mais alguma coisa?
- No geral, foi isso. Ainda estou tentando compreender todo o processo.
- Claro, claro. Grato pelas suas palavras, creio que me ajudará bastante. Até mais.
- Até.
Feliz com as informações coletadas, Luís começava a formar um melhor panorama sobre o perfil da psicopata assim como de seu possível parceiro. Tal qual um quebra-cabeças, as peças iam se encaixando e o auxiliando a solucionar esse caso. Restava agora a parte mais complicada de dialogar com Paula, uma conversa que poderia confirmar seus temores ou dar novas direções ao caso. As cartas se apresentavam na mesa e já já será a hora da grande jogada. Será que Luís sairá vencedor?
O Andarilho