Suely
Suely (nome fictício) fora uma pessoa inteligente, chegando a fazer curso superior de Letras, não terminado. Não o concluiu por ter sido vítima de transtorno mental. Esse problema parece se agravar nestes tempos de individualismo, indiferença, egoísmo, hipocrisia.
Leitores, esse caso é real. Aconteceu em 1994.
O pai de Suely, Seu Olavo (fictício), possuía um grau de transtorno – e isso pode ter contribuído pela genética ou pela convivência com ele – para a doença da filha.
Olavo falava alto, brigava quase que diariamente com a filha. Fumava exageradamente. Suely tinha um irmão, Aírton (nome também fictício). Este igualmente tinha comportamento nervoso, agitado. Se irritava com facilidade. E um grande avarento.
Não era raro discussões entre ele e o pai. E por questões banais, muitas vezes. Quando se quer brigar, arengar, qualquer coisa serve de motivo para tal.
Seu Olavo morrera, vítima do cigarro. Teve câncer no pulmão. Fumava excessivamente, fruto do nervosismo, ansiedade, certamente.
Deixou uma casa, localizada num bairro não tão nobre, também não tão periférico, em Belém.
O irmão, Aírton, casou – foi embora morar com a mulher.
E Suely ficou só. Mas fez daqueles que moravam próximo seus parentes.
Tomava medicamento controlado. Conseguiu receber do governo um benefício pecuniário. Com isso se mantinha.
Aírton era avarento. Apegado ao dinheiro, além do normal. E aos bens materiais.
Os vizinhos – aqueles que o conheciam mais a fundo – diziam que ele tinha olho grande na casa deixada por Olavo.
A situação daquela mulher – Suely – provocava compaixão nos vizinhos. Não era totalmente insana. Não.
Conversava bem, mantinha a lucidez. Nunca chegou a ter surtos, falar desconexamente, gritar, agredir alguém. Ao contrário, tratava bem as pessoas.
Quase sempre estava sob efeitos de tranquilizantes.
No mês de dezembro, dias antes do Natal, aconteceu a tragédia. Na madrugada de um sábado para domingo desconhecidos adentraram na casa dela, Suely.
Ninguém ouviu ruídos de arrombamento.
Nada se sabe porque os assassinos jamais foram identificados – nunca foram presos.
Eles entraram.
A mulher dormia. Certamente lá pelas 3 ou 4 horas da madrugada. Levaram uma corda de nylon.
Foram ao quarto e não deram-lhe chance de defesa – claro, homicidas não dão chance a suas vítimas. Nem poderiam dar.
A mataram asfixiada, com a corda de nylon. Ninguém escutou nada: Gritos, gemidos.
Não levaram nada dela. Foram embora – e o corpo ali, de Suely, inerte, sem vida.
Cedo, de manhã, um vendedor de frutas parou em frente a casa. Foi ao portão e o encontrou encostado.
O homem diariamente vendia frutas para ela.
Ficou apreensivo. Adentrou à casa. Foi ao quarto. E deparou-se com o corpo de Suely, estirado na cama – e a corda de nylon em volta do pescoço.
Uma cena grotesca, de horror, naquele início de manhã para o vendedor de frutas. Saiu, nervoso, apavorado. Foi à casa do vizinho, bateu à porta. Uma mulher atendeu – e ao saber do crime, quase desmaia.
Outras pessoas foram avisadas. O caso aconteceu em 1994. O corpo foi levado para o Instituto Médico Legal.
A Polícia investigou, o tempo passou e jamais os culpados foram identificados.
A suspeita principal é a de que o irmão – Aírton – tenha contratado homens para assassiná-la – e apoderar-se da casa.
Meses depois ele vendeu o imóvel. E sumiu, nunca mais foi visto.
Os novos moradores disseram ter ouvido, à noite, gemidos, alguém parecia estar sendo asfixiado, uma pessoa prestes a morrer sufocada.
Os vizinhos contaram aos moradores da casa mal-assombrada o caso de Suely, portadora de transtorno mental, assassinada por desconhecidos.
Eles – moradores – passaram a fazer novenas diárias, rogando a Deus para socorrer aquela alma, a de Suely.
Dias depois os gemidos cessaram.