Dia de visita

A maioria dos visitantes eram mulheres, algumas com crianças pequenas. Mães, esposas. Em fila ordenada e em silêncio, entraram no salão dividido ao meio por várias pequenas cabines, contendo uma cadeira e separadas do outro lado do aposento por uma tela de arame. Um guarda vigiava toda a movimentação, do alto de uma plataforma; ele consultou o relógio de pulso, enquanto as mulheres se acomodavam nas cadeiras: sessenta minutos. Para algumas das visitantes, era um tempo reduzido, para outras, uma eternidade.

Milagro sentou-se com a filha Mercedes no colo, olhando para o rosto anguloso do marido, Alfonso, uniforme cinza de presidiário, do outro lado da tela.

- Veja o papai - disse ela, erguendo a criança para a tela.

A sombra de um sorriso perpassou o rosto de Alfonso, quando Mercedes estendeu as mãos e agarrou a tela de arame, seus dedos gorduchos projetando-se para dentro.

- Olá, meu amor - saudou Alfonso, tocando os dedos da filha.

- Oi, papai - disse a menina, timidamente.

- Que bom que sua mãe te trouxe - comentou ele, lançando para a mulher um olhar que contradizia as palavras.

- Ela insistiu - defendeu-se Milagro, baixando o olhar e a criança.

- É complicado que minha filha cresça me vendo por uma tela, no presídio - redarguiu Alfonso, apoiando os braços na pequena bancada à sua frente.

- Pelo tempo que você vai ficar aqui, ou era isso ou você só a veria adolescente - replicou a mulher, em tom firme.

- Mesmo assim… isso não é ambiente para trazer uma criança - insistiu Alfonso, entrelaçando os dedos das mãos.

- O que o advogado disse? - Milagro mudou o rumo da conversa.

- A promotoria ofereceu uma redução da pena… mas não vou aceitar - afirmou Alfonso.

- Por quê? - Indagou a mulher, surpresa.

- Porque teria que entregar quem encomendou a morte do Robledo, e isso, você sabe, eu não vou fazer.

A mulher balançou a cabeça, em silêncio, os lábios crispados.

- Eu sei - disse finalmente.

- Devo isso à Empresa - prosseguiu Alfonso, em voz baixa. - Eles vão manter vocês seguras e sem passar necessidades, enquanto eu estiver cumprindo pena.

- Eu sei - repetiu Milagro.

- Então, tente não trazer a Mercedes em todas as visitas… no aniversário dela e no meu, creio que será suficiente - disse Alfonso, abrindo as mãos.

- Está bem - aquiesceu a mulher, cabeça baixa.

Do alto de sua plataforma, o guarda consultou o relógio de pulso. Faltavam cinquenta minutos.

[27-09-2019]