Onissassa

Os passos acelerados dão o tom do momento de tensão. O grito que ecoou pelo andar levou Luís a pensar se alguém teria morrido. Pior, mais uma vez não conseguiria evitar tal fato. Por isso, seguia com pressa para subir os andares.

Em poucos instantes, e muito cansaço, chegou ao apartamento. Precisou tomar alguns segundos para retomar o fôlego e decidir como faria a abordagem. Seria o "bruto clássico" arrombando a porta ou faria algum papel como um agente infiltrado? Decidiu ir pela segunda opção e ver como corria.

- Toc toc

- Quem é?

- Aqui é Euller, seu vizinho de baixo.

- Ah sim, só um minuto. Em que posso ajudá-lo?

- Você teria algum açúcar? Acabei de ficar sem nenhum aqui.

- Ah, deixa eu ver na cozinha. Você é novo aqui?

Enquanto conversava, Luís fitava a região do apartamento para reconhecer o local e ver quantas pessoas residiam ali, se realmente havia uma família morando lá. Seus instintos não costumam enganá-lo.

Dessa vez também não foi diferente. Via pelo menos 5 fotos de família pelo local: mãe e filha; pai e filha; família completa em viagens, cinemas, teatros. Os mais diversos eventos, o que comprovou os seus instintos.

Contudo, a casa estava vazia. A mulher que o recebera não era a mesma das fotos, o que levantou as suas suspeitas ainda mais naquele breve intervalo de espera. Enquanto pensava no que fazer, sentiu o cheiro de sangue. Como o apartamento não era tão grande assim, optou por dar uma "desculpa" de ir ao banheiro para verificar. A suspeita, mantendo a compostura, indicou onde ficava o banheiro, mas já começando a ficar preocupada. Será que seria um vizinho mesmo?

No banheiro, Luís notou que o cheiro seguia forte, embora não visse pistas, até que notou uma palavra escrita na parte de baixo do box: onissassa. Achou aquela palavra estranha e sem sentido algum, até que foi lavar as mãos e notou o reflexo no espelho: assassino. O que isso significaria?

Pensando nessa possibilidade, decidiu acionar o seu contato de reforço através de uma mensagem criptografada. Sentia o perigo à espreita e por isso se precavia. Na saída notou que o banheiro ficava em frente ao armário, trancado com um chave em um quarto aberto. Havia alguns pingos de sangue no chão. Será que a família estaria presa ali? Para averiguar, decidiu puxar conversa fora.

- Você tem uma bela casa, esses móveis onde você comprou?

- Ah, brigada. Eu peguei em uma loja lá na zona sul da cidade há uns 3 anos. Estavam em promoção.

- Hmm, entendi. Você se importa se eu olhar?

- Claro... fique a vontade.

Enquanto Luís se virava para pesquisar o local, sentia que a mulher começava a desconfiar das suas atitudes e ameaça sacar uma arma, o que já o deixou de prontidão.

- Algum problema?

- Se tu agires como eu disser, não.

- Pode, ao menos, me dizer o nome da minha "anfitriã"?

- É verdade, que falta de elegância da minha parte, Paula, a seu serviço.

- Paula... Paula... Você, por acaso, morava no bairro do Pequiri, na infância? Responde Luís, enquanto vai se virando discretamente para encarar Paula de frente.

- Sim, morei, espere você não se chama Euller? Você é o Luizinho, rei da chimbra?

- Sim! há quanto tempo hein?

- Sim, pena que terei que te matar.

- Sério, mas por quê? Não te fiz nada de mal...

- Eu sei que você é um investigador e está achando que matarei a família que está aqui, por isso não posso te deixar vivo.

- É né? Porque você cansou de ser a "Paulinha do Papai", fazendo todas as suas vontades?

Começando a perder a calma, Paula passa a demonstrar um nervosismo incomum, como se Luís tivesse tocado em algum ponto sensível de sua história, um clássico dos psicopatas e um "achado" de Luís devido as suas memórias de infância, sobre um lar extremamente conflituoso que sua colega vivia.

- Calado ou eu atiro!

- É mesmo? Não acha que é meio tarde para se rebelar? Assim, papai fica triste e você sabe o que acontece quando ele fica triste né?

- Calado! Ah, morra seu desgraçado!

Assim, Paula disparou 5 tiros na direção de Luís, mas devido ao seu nervosismo errou os disparos. Luís, em uma série de movimentos rápidos, desarmou e imobilizou Paula. Enquanto aguardava pelos reforços solicitados.

- Ah, seu filho da puta, isso não vai ficar assim!

- Calma, calma que a gente ainda vai conversar muito...

- Haha, você acha que eu estou só nisso? Quão ingênuo você é!

- Ah que bom saber! Aproveita pra me contar na delegacia tá?

- Haha, esse jogo está apenas começando!

Após a chegada dos reforços, Luís prendeu Paula e a enviou para a delegacia, onde seria feito o interrogatório, posteriormente. Em seguida foi investigar o armário fechado com chave, e, acabou confirmando suas suspeitas, encontrando amordaçadas mãe e filha, aquela com um machucado na cabeça, onde tinha marcas de sangue seco. Tirou o pulso, e confirmou que ainda havia vida, encaminhando ambas para o hospital, com a instrução de que, assim que acordarem, fazer um interrogatório sobre o ocorrido, afinal, testemunhas fazem a grande diferença nesses casos. Luís estava feliz por uma rápida resolução, mas a fala de Paula o intrigava: quem seria o seu parceiro?

Enquanto isso, do outro lado da cidade, um homem alto, elegante, usando apenas uma luva rasgada, entra em um cafeteria para lanchar, enquanto observa um mapa da cidade. Ao finalizar o seu pedido, observa ao redor em busca de uma mesa para sentar, quando seus olhos fixam em Letícia, despreocupada enquanto lia e tomava um café. Como quem não quer nada, se aproxima para estabelecer contato.

- Licença, está ocupada a cadeira?

- Não, não. Pode sentar.

- Grato, prazer, Horácio.

- Prazer, Letícia. Você é daqui?

Seria esse apenas um encontro casual?

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 14/09/2019
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