"A sereia da orla" - Parte l

Numa casa simples na Vila Maria, em Presidente Epitácio, o pescador João Tilápia fala para o amigo Zé Tarrafa, com um exemplar da "Folha Ribeirinha" nas mãos:

- Isso foi coisa da sereia da orla. A gente deveria falar sobre ela para as autoridades...

- Tá louco? Ninguém iria acreditar na gente! Você sabe como é a fama dos pescadores... E pescador que bebe, é ainda mais desacreditado!

A capa do jornal local exibia um afogamento noturno, onde um jovem perdeu a vida, e o seu corpo apareceu boiando no lago do Rio Paraná.

Aconteceu numa noite de sexta-feira. Igor era um rapaz bem humorado, que queria pregar uma peça nos policiais militares que faziam ronda noturna na orla epitaciana. Colocou um boné virado pra trás, uma camiseta do Bob Marley e uma calça jeans com os fundilhos arreados. Trajado a contento, partiu de bicicleta para a orla com um punhado de orégano nas mãos. Levou também uns pedaços de papel pra enrolar suas cigarrilhas exóticas. Sabia que seria abordado na ronda noturna, e, na revista, apresentaria seu baseado de orégano, constrangendo os policiais. Não deu outra:

- Isso não é maconha?

- Não! É Origanum vulgare, também conhecido como orégano...

- É, o seu baseado tem um cheiro de pizza mesmo. Mas estamos de olho em você, hein, moleque!

- Fica tranquilo, "seu polícia"... Eu só fumo orégano mesmo!

Quando a viatura saiu, sentiu o ego massageado pela peça que pregou nas autoridades. Deixou o cigarro de orégano num banco de cimento e desceu para a beira do lago. Ficou contemplando o brilho da lua cheia na água escura por uns vinte minutos. Lembrou de quando esteve naquele lugar com uma amiga muito bacana, dos cabelos cacheados e voz cuti cuti. Gostava de sentir o vento e escutar o barulho de água. Foi quando, de repente, ouviu uma voz feminina cantando no meio do lago...

"É uma ciumeira, atrás da outra...

... Ter que dividir teu corpo, e tua boca!"

Não era possível! Aquela mulher tinha emergido das profundidades e estava cantando "sofrência" com um fôlego impressionante. Começou a se arrepender amargamente de ter fumado as cigarrilhas de orégano, que pareciam causar alucinações que até então, desconhecia...

* O Eldoradense