Resoluções

- Um cappuccino, por favor.

- Eu vou querer um cappuccino e uma torta.

- Está certo. Em breve, entregarei os seus pedidos.

- Obrigado.

- Obrigada.

- Ok, agora me explica: por que caralhos, você tinha que me apagar para fazer o interrogatório? E que diabos de história foi aquela de ultimato?

- Eita que mau-humor...

- Não me enrola...

- Foi porque... eu quis.

- E eu tenho cinco anos... Fala a verdade!

- Ai, que chato! Tá bom! Tá bom! Foi porque eu achei que você não fosse puni-lo como ele merecia.

- E precisava me apagar pra isso?

- Você deixaria que eu batesse nele?

- Você bateu nele??

- Só uns tapinhas...

- Letícia...

- Ah, nem ficou marca, vai. Deixe de ser tão cri-cri

- Err... não. Isso é o meu trabalho, lógico que tenho que ser cri-cri.

- Mas esse caso não era seu trabalho.

- A partir do momento em que passo a te ajudar, automaticamente eu coloco a minha reputação na mesa, logo tenho que atuar bem...

- Chato...

- Profissional, eu diria.

- Tá. Profissional chato...

Luís dá de ombros e abre os braços em uma expressão de desdém.

- Enfim, qual foi o ultimato que você deu a ele?

- Ah, eu o mandei parar de trair a minha irmã ou se separar dela. Caso contrário, eu solto as filmagens que tenho dele traindo-na e as agressões que cometeu para ela e para polícia.

- E você tem isso em casa? Lembre-se que ele é um cara com boas influências...

- Querido, eu tenho isso no computador e na nuvem. Então relaxa que está tudo sob controle...

- Depois que você entra na quebrada, nada pode ser garantido tão facilmente...

- Relaxa vai...

- Tá... vou tentar...

- Isso, tenha fé na sua amiga aqui vá.

- Difícil ter fé em que age influenciada pelo ódio...

- É a vida né?

- ... Promete uma coisa?

- O que?

- Prometa que quando estiver pra fazer algo louco assim, você me diz antes?

- Vou pensar no seu caso...

- Pense e faça. Nem tô te pedindo tanto.

- Tá...

- E claro, estarei observando os movimentos desse cidadão. Ai ai, cada uma que você me arruma...

- Ah, deixa de reclamar vai? Eu nem sujei as mãos pra isso. Tô até limpinha, aqui.

- ...Enfim, vou pegar a estrada aqui. Até a próxima.

- Até!

Dois meses se passaram desde a conversa entre Luís e Letícia. Conforme o esperado, Hermeto preferiu afastar-se de Júlia, com medo das ameaças de Letícia, e pediu o divórcio, mesmo com sua, agora ex, grávida de seu filho. Fazer o papel de bom moço, não era muito o seu perfil mesmo. Com o divórcio, Hermeto adentrou a uma vida digna de boêmio: trabalho-bar e algumas amantes. Ter um filho, ajuda a compor a pinta de "galã"...

E eis que numa segunda-feira qualquer, entre um trabalho e outro, Luís recebe uma ligação de uma pessoa meio estressada cuja voz, embora parecesse familiar, não lembrasse.

- Alô?

- Alô, Luís, tem um trabalho pra você.

- Quem é?

- Como quem é cacete? Aqui é o Jacó, chefe da delegacia central. Preciso que você investigue um serial killer que anda atuando nas rotas de tráfico.

- Mas essa não é a função de vocês na polícia?

- Você vai querer o trabalho ou não?

- Vai me pagar bem?

- E eu já lhe paguei mal alguma vez?

- Justo, a que horas podemos conversar.

- Daqui a uma hora na estação de polícia no centro.

- Ok, estarei lá.

Surpreso e com algumas pulgas atrás da orelha, Luís pensou se deveria ir ou não. Todavia, assim como todos nós, necessitava da grana para pagar as contas e as cervejas do fim de semana, então foi pra polícia, mesmo sem a certeza de nada...

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 18/08/2019
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