A MORTE DO PREFEITO.
- Quem o mataria?
Perguntou o detetive Andres ao examinar o corpo do prefeito estendido no meio da sala de visitas de sua mansão, já em estado de decomposição.
- O prefeito ngelo tinha muitos inimigos políticos, isso não é novidade para ninguém na cidade, eu quero acreditar que não seja este o motivo do crime, mas… Pensando melhor, talvez possa ter sim ligação ─ Disse o delegado Claus que estava abaixado próximo ao corpo.
- Pelo visto teremos muito trabalho pela frente, não é mesmo delegado.
- Aquelas férias que eu estava programando pelo visto já era né ─ Disse o delegado em um tom de desânimo.
- Veja pelo lado bom Claus, esse é seu último caso, depois você se aposenta, vai comprar aquele sítio no interior de Minas, com um pequeno lago e virar fazendeiro, imagine, só não se esqueça de me convidar para o churrasquinho e para a pescaria.
- Alguém já te disse que você fala demais Andres.
- Sim claro, o senhor, cinco vezes só nesta manhã.
- Eu mereço…
Disse o delegado Claus colocando as mãos sobre o rosto.
Naquele momento chegou a polícia científica, depois de uma breve conversa do delegado com um dos policiais forenses, o delegado e o seu assistente se retiraram do local enquanto a equipe da polícia científica trabalhava.
A mansão do prefeito ficava no centro da cidade, lugar de grande movimento. O prefeito era muito popular e muito atencioso com todos, a sua casa era frequentada por muitos conhecidos, amigos, vereadores, e todos os tipos de pessoas.
O caso intrigava o experiente delegado, que questionava quem poderia ter cometido o crime com o prefeito. Embora apresentasse um crime por questões políticas, para o delegado havia mais do que isto, não era tão simples assim, o prefeito ngelo tinha um bom relacionamento com a população, até com os seus adversários políticos, de sorte que seria difícil apontar um suspeito logo de início.
O prefeito estava há dois anos em seu mandato, a cidade de Rio Claro era pacata, a típica cidade interiorana, sem muitos acontecimentos, mas aquele crime deixou todos atônitos, e essa era a pergunta que todos faziam na cidade, quem matou o prefeito?
A delegacia da cidade era pequena, havia unicamente duas pequenas celas na delegacia, geralmente para presos que cometeram delitos pequenos, baderneiros e bêbados. A sala do delegado Claus era muito bem arrumada, com cada coisa no seu lugar, ele tinha mania por arrumação, nem uma caneta poderia ficar fora do lugar, já a do seu assistente, era o inverso total, Andres não tinha o menor senso de organização, sua mesa era um pandemônio, tamanha era a desordem, porém, ele era um jovem muitíssimo inteligente e havia ajudado o delegado a solucionar inúmeros casos.
O Prefeito ngelo foi encontrado morto na segunda feira de manhã, ninguém ouviu nenhum barulho, os dois cães que ele tinha não latiram segundo relato dos vizinhos, como a esposa e a filha estava viajando o prefeito encontrava-se sozinho na casa, e foi a empregada que o encontrou no momento em que ela chegou para trabalhar na segunda feira de manhã. Nenhuma pista foi encontrada pela perícia, nem mesmo uma digital diferente, quem o matou com certeza era um profissional, o prefeito morreu com um tiro na nuca, disparado por uma arma de baixo calibre, e possivelmente com silenciador, tudo ainda era um grande mistério que teria que ser solucionado.
Duas semanas havia se passado e nada tinha sido resolvido, atrás da mesa do delegado Claus havia uma grande lousa branca, onde ele marcava todos os fatos relevantes ao assassinato do prefeito. O detetive Andres tinha ido diversas vezes à casa do prefeito a fim de investigar, na tentativa de achar pistas que levassem ao assassino, porém nada que fosse relevante foi encontrado, a única coisa que foi encontrada foi uma pequena agulha próximo onde estava o corpo, esse era a única pista encontrada pela perícia.
- O que faremos com uma agulha? Perguntou o delegado Claus segurando o pequeno objeto.
- Não sei, mas, que há algo de estranho nisso tudo há, como é possível nenhum dos vizinhos não ouvir nada, com certeza o assassino era aquém bem conhecido, para que o prefeito o deixasse entrar em sua casa. No caso da nossa pista, ela pode muito bem ser da empregada, de repente, ela deixou cair, sei lá.
- É isso mesmo que vou fazer ─ disse o delegado com uma das mãos no queixo.
- Isso o que? Perguntou o detetive.
- Vamos chamar todos para depor, primeiro a empregada, Valdirene, é esse mesmo nome dela? Depois os seus seguranças, são quatro no total, e por fim o motorista, depois falaremos com os vizinhos; emita um mandato para que eles se apresentem, faça isso o mais rápido possível, quero terminar esse caso o quanto antes.
- É doutor; pelo visto a delegacia vai ficar bem movimentada essa semana, antes que eu me esqueça, o vice-prefeito pediu urgência nas investigações, e também um policial de escolta.
- Quando o vice-prefeito te procurou? Perguntou o delegado.
- Na tarde de ontem, o senhor havia saído.
- Sim, claro ─ Respondeu o delegado ─ tudo bem então, vamos cuidar das investigações, quando tudo estiver pronto me avise.
- Sim senhor, como quiser.
Os mandatos para os depoimentos foram emitidos, os depoimentos aconteceriam na quinta feira de manhã, todos teriam de estarem presentes, às nove horas em ponto. A esposa do prefeito depois do enterro do marido viajou para casa de um dos parentes, temendo que lhe acontecesse algo. O resultado da perícia ficaria pronto na manhã seguinte, o delegado Claus era o tipo de pessoa que não gostava de ficar esperando, a sua impaciência o fazia fumar compulsivamente, era a forma que ele encontrava para aliviar o estresse.
RESULTADO DA PERÍCIA.
Eram nove horas da manhã quando o resultado da perícia chegou à mesa do delegado Claus, ele examinou atentamente todas as folhas, depois de alguns minutos, com uma das mãos no queixo e o olhar vago rumo a janela da delegacia que dava para a rua, assim ficou por alguns minutos, como se estivesse desligado, de repente, levantou-se de súbito, e chamou seu assistente que estava na outra sala:
- Andres… Você está ocupado, por favor, venha até aqui, preciso falar com você urgentemente.
- Já estou indo senhor, só um minuto, já estou indo… Pronto, aqui estou.
- Daqui a pouco as testemunhas vão chegar para depor, por favor, dispense o motorista e os seguranças, deixe apenas a empregada, tudo bem.
- Tá bom, posso saber o motivo para podermos dispensá-los? ─ Perguntou o detetive curioso.
- É só um palpite, uma suspeita na verdade, eu nunca erro em minhas suspeitas Andres.
- O senhor está achando que foi a empregada delegado, pelo que sei ela trabalha para eles a anos, não acredito que seja ela.
- Em momento nenhum eu disse que era ela, você me ouviu dizer isso.
- Não senhor.
- Então pronto, deixe de ser especulador, um bom detetive não pode ser afobado, você é afobado demais.
- Eu… Afobado… Sei…
Naquele momento chegava a delegacia as testemunhas, como o delegado havia pedido ele liberou as demais e ficou apenas a empregada Valdirene, após as demais testemunhas deixarem o lugar a empregada adentrou a sala do delegado, Andres ficou do lado de fora esperando, impaciente, andando de um lado para o outro, ora sentava-se, ora levantava-se, já fazia meia hora e nada do delegado sair da sala, Andres estava aponto de abrir a porta da sala do delegado, quando de repente, a porta se abre, a empregada com os olhos vermelhos, as mãos algemadas, na face do delegado um sorriso de satisfação. Andres não entendeu nada, caiu sentado em sua cadeira, o delegado então falou:
- Coloque-a sobre custódia, caso encerrado, ela vai ficar presa até o julgamento no tribunal, réu confesso.
O detetive arregalou os olhos, em silêncio levou a empregada para a cela que ficava nos fundos da delegacia, mais do que depressa, retornou para especular o delegado sobre como ele chegou a conclusão tão rápido.
- Já sei o que você quer Andres ─ Disse o delegado ─ senta aí que eu te conto tudo.
- Por favor doutor, agora fiquei mesmo curioso.
- Em primeiro lugar; a esposa do prefeito estava fora, e a morte dele foi confirmada pelos peritos, que ocorreu no sábado, à noite provavelmente, a bala foi disparada pela arma do próprio prefeito, por alguém que era canhoto, a perícia encontrou a arma enterrada no jardim, não havia digitais, a empregada lavou a arma. Em segundo lugar, ela no dia em que chegamos assinou os papéis que lhe dei com a mão esquerda, ela estava nervosa e trêmula, olhava para o jardim o tempo todo. Em terceiro lugar, o corpo do prefeito foi removido do lugar, havia um sinal de costura nas calças dele, provavelmente sua roupa rasgou no momento em que foi arrastado, um fragmento de barbante encontrado naquela agulha é compatível com a que está na calça, de tão nervosa que ela ficou que deixou cair à agulha.
- E porque motivo dela tê-lo matado?
- Os dois eram amantes, ela ameaçou contar tudo para a esposa dele, ele ameaçou a família dela, foi quando ela decidiu matá-lo antes que ele fizesse algo. Ela confessou tudo.
- Muito bem doutor, mais um caso resolvido.
- Sim meu caro, e agora, a minha tão merecidas férias, a partir da próxima semana, você, senhor Andres, assume a delegacia como o novo delegado.
Andres sorriu sem entender, alegrou-se com a notícia, embora em seu coração, ele não sabia se realmente estava pronto para aquela nova etapa na sua vida.
O telefone toca.
O delegado Claus atende.
- Alô, delegacia de polícia, delegado Claus, em que posso ajudar? Sim, como? Tá, calma, tudo bem, já estamos a caminho.
- O quê foi agora?
Pergunta Andres.
- Maldição - resmunga Claus - lá se foi a aposentadoria, acharam um corpo na praça, em frente a matriz, é do pároco. Vamos Andres, pegue suas coisas, mais um caso… mais um dia…