A ÁRVORE DA CASA - parte 3

Eles investigam o local. Apenas uma janela quebrada e um texto na parede:

- Villa, qual a necessidade de escrever esses textos? – dizia Fred que não acreditava no que via.

- Fred, tudo faz sentido para um psicopata, não para nós. Existem casos de que alguns fazem sorrisos na parede com sangue, outros são canibais, outros sentem uma espécie de “tara” por necrofilia ou incendiar o corpo. Não dá pra distinguir assim de cara.

- De qualquer forma temos que achar logo esse suspeito. Nada me tira da cabeça que seria o Nolanski.

- Vá com calma, jovem. Pra que qualquer coisa seja feita ou que alguém seja condenado, é necessário a prova, e às vezes mais de uma. – asseverou Villa.

Os dois detetives saíram do local. Olharam para a mulher que estava com a criança:

- Bom dia, senhora! – inicia o dialogo Fred. - Qual o seu nome?

- Deise Conceição da Rocha.

- A senhora conhecia o casal?

- Sim. Eu era a melhor amiga da Catherine. Ela e seu esposo se davam muito bem comigo.

- Sabe a que horas ocorreu esse crime? Ouviu algo suspeito?

- Eu não sei. Eu moro a duas quadras da casa. Não pude ouvir nada.

- A senhora tinha algum tipo de relação profissional com o casal?

- Mais ou menos. Eu olhava o pequeno filho deles, o Pedro. Este que está comigo. Eles trabalhavam muito, às vezes até tarde da noite. O menino ficava comigo por muito tempo.

- E a senhora sabe no que eles trabalhavam?

- Catherine era representante comercial numa empresa de calçados. Já o Ricardo... Quase nunca falava do serviço. Mas sabe-se que estava num prédio localizado no centro da cidade. Eram ambos empresários.

- Ele era empresário de que área?

- Eu sei que ele trabalhou por muito tempo com Relações Internacionais, compra e importação de materiais para o Brasil...

- Que tipo de materiais? A senhora sabe precisar?

- Bom... eu não sei exatamente...

No mesmo instante a criança interrompeu:

- Moço, meus pais vão ficar bem? – falou Pedrinho com medo.

Villa, mais experiente, falou com a sabedoria que só um avô teria:

- Ei, mocinho. Qual o seu nome? – disse se abaixando a altura da criança.

- Pedro.

- Vejo que você gosta de ler bastante, não é?

- Muito. Sempre ganhei livros. De todo o tipo. Fui ensinado desde quando aprendi a ler...

- Então você sabe que seus pais foram morar no céu, não é? Eles cumpriram uma missão na terra, mas agora se transformaram em estrelas no céu.

O menino, meio sem jeito, fala:

- Eu costumava ler aqui perto dessa árvore. Sempre brinquei muito nela. Meus pais que me ensinaram a plantar árvores.

Deise viu que o menino parecia não ter ciência do que tinha acontecido ficou incomodada com aquilo:

- Olha senhores, peço, por gentileza que me deem licença; estou ficando extremamente desconfortável com esse momento. Vou levar o menino pra casa.

- Tudo bem, senhora. Só queríamos fazer algumas perguntas.

- Qualquer coisa eu moro próximo daqui. Até mais... vem, Pedro.

- Tchau, detetive. - acenou com a mão a criança.

- Tchau, filhinho. – disse Villa com um sorriso tímido no rosto.

Enquanto os dois detetives iam embora, Deise levava o menino pra sua casa. Villa e Fred voltaram para a delegacia.

Ao chegarem à delegacia, começaram a examinar os ataques desse suposto POETA DA MORTE, que suspeitavam que pudesse ser Kevin Nolanski. Villa relembrou com Fred como foi o primeiro ataque do serial killer:

- A primeira vez que ele atacou – Fred perguntava para Villa - foi na região da Zona Sul, não foi?

- Sim. Ele entrou num condomínio fechado disfarçado de morador. Por incrível que pareça ele tinha acesso aquele lugar. Ao entrar, abriu a porta sabe Deus como e atirou no casal que ali dormia. Como ninguém ouviu nada, supunham que era uma automática com silenciador. Isso é o que diz a perícia.

- Quem era mesmo... minha memória não é das melhores...

- Um casal de empresários sul coreano.

- Exato. Depois ele... argh, me dá ogeriza em falar. Arrancou as cabeças dos dois e escreveu na parede outro texto. Mas esse eu não sei de quem é.

- Joaquim Manoel de Macedo. Poeta antigo. – Villa dizia enquanto acendia um cigarro.

- Que trecho é esse?

- Uma parte de Harpa Quebrada, onde aparenta falar de uma mulher que o deixou, ou do sentimento que foi embora. Veja pelas fotos que tiraram.

"Minha harpa, saudemos o instante da morte,

Que é lúcida aurora de eterna vitória:

O túmulo pr'a os vates é trono de glória,

E a vida é o jugo do inferno e da sorte.

O jugo quebremos, ao trono subamos;

É belo o triunfo, minh'harpa morramos!"

- Esse maluco é fissurado pela morte. Que doente!

- Joaquim Manoel ou o assassino? – Villa perguntou rindo.

- Creio que os dois. Poetas parecem que amam tragédias.

- Vai ver enxergam beleza em tudo.

- Villa – Fred dizia colocando um cigarro na boca - essa conversa tá estranha. Somos detetives, e não professores. Estou indo pra casa.

- Ok, pequeno Holmes. Amanhã nos falamos. Até.

No caminho de volta para casa Fred se lembrou de que precisava passar na padaria e comprar café. Ao chegar avistou um homem de boina preta e vestindo sobretudo marrom grosseiro, sentado numa mesa tomando café. Ao se aproximar para a figura sentada para descobrir quem seria, a mesma lhe lança um olhar lancinante:

- Que prazer imenso vê-lo por aqui, nobre detetive Fonseca.

- Nolanski? – disse Fred pasmo. - O que faz aqui?

- Sou apreciador de um bom café. Isso é algum crime? Já dizia Millôr Fernandes: “Esnobar... é exigir café fervendo/ E deixar esfriar.” A propósito, sua casa está perto daqui, correto?

Continua...

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 27/06/2019
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