A ÁRVORE DA CASA - parte 2
Villa e Fred eram detetives policiais há anos. Trabalhavam com os casos mais delicados, onde envolviam assassinatos sem solução e crimes bárbaros. Eles começaram a atuar juntos nessa área após o ótimo trabalho que executaram em casos que eram praticamente insolúveis:
- Fred, vamos tomar um café? Preciso falar com você.
- Ok. Só um segundo. Estou terminando de arquivar uns registros aqui.
- Quem é esse cara? Esse rosto parece que já vi em algum lugar... – no computador, o rosto de uma pessoa que já havia sido presa e estava em liberdade.
- Esse é Kevin Nolanski. Foi indiciado por matar a esposa e um vizinho numa noite. Foi preso por 10 anos. Deveria ficar 15, mas acabou sendo solto por bom comportamento. Ele é formado em Letras e pós-graduado em Literatura. Porém, não se sabe mais do paradeiro desse homem.
- Era sobre isso que eu iria falar. Você deve ter a mesma suspeita que eu, não?
- Sobre o POETA DA MORTE? Sim. Eu tenho minhas suspeitas sobre esse homem... haja vista que...
- Aqui não, Fred. O café. Eu pago.
- Tá ok. Perdoe-me. É ansiedade de idoso. Vamos.
Sebastião Manfredo Villa, um experiente policial de 58 anos; tinha 38 anos de carreira. Casado; dois filhos. Um deles seguindo a profissão e uma moça cursando medicina.
Fernando Fonseca, mas carinhosamente chamado de “Fred”, tinha 30 anos. Possuía cinco anos de experiência investigativa, mas já mostrou sua eficiência muito cedo quando descobriu um caso de um assassinato onde o próprio pai matou o filho a facadas e jogou seu corpo num aterro sanitário. Solucionou o mistério ao achar um pequeno pedaço de roupa rasgada com sangue num arame do aterro que o pai morava perto e conseguiu fazer o suspeito confessar após isso.
Ao chegarem à lanchonete, começaram a conversar sobre o famigerado assassino:
- Você acha que seria o Nolanski? – inquiriu Villa.
- Eu tenho minhas dúvidas. Quem mais saberia aqueles textos de cor? E quem faria isso numa cena de crime? O que será que alguém teria em mente para escrever essas coisas?
- O que te choca são os textos, Fred? O que me choca é a crueldade. Já se sabe que esse é o sexto ataque dele. Veja a notícia do jornal de ontem.
Fred pegou o jornal das mãos do companheiro:
“Foi encontrado morto dentro da própria residência um empresário japonês. O assassinato foi feito com requintes de crueldade. A vítima, após ter sido morta, teve a sua cabeça arrancada, o que não foi encontrada. Na parede do quarto do empresário, o criminoso, deixou um texto de Manuel Bandeira escrito.”
- Que horror! Isso é um monstro. – disse Fred estupefato com a cena.
- Você leu o poema que ele deixou?
- Não. Deixe-me continuar lendo a matéria... aqui está:
“Contudo, ele se assustou,
Pois nela uma qualquer coisa
De presságio adivinhou.
Levantou-se e junto à porta
– Quem bate? Ele perguntou.
– Sou eu, alguém lhe responde.
– Eu quem? Torna. – A Morte sou.”
- Que texto é esse? – disse Fred atônito.
- Uma poesia dele sobre a morte, mas na verdade ele se refere à amada do eu-lírico.
- Poetas são misteriosos, mas matar e colocar esses tipos de coisas é sinistro.
O celular de Villa toca. Era da delegacia:
- Villa! Fred está com você? – dizia com voz preocupada o delegado Sérgio na linha.
- Sim, chefe! Está.
- Ok. Vão imediatamente a Rua Cordilheiro dos Andes, 53. Ontem a noite houve mais um crime e quero que vocês investiguem o mais rápido possível.
- Sim, senhor! – desliga o celular. – Fred, acho que deve ser ele. A melhor oportunidade de sabermos isso é agora. Vamos!
Eles saíram em disparada até o local. Bairro nobre. Rua pacata. Vizinhos assustados. Uma criança com um livrinho na mão está abraçada com uma moça chamada Deise. A criança estava assustada. A moça chorava. Dia ensolarado e quente, eles estavam debaixo da sombra de uma arvore que havia fora da casa deles.
Os detetives entraram na cena do crime. No quarto, um casal assassinato, ambos com um tiro no peito. A janela quebrada. Na parede, um texto de Fernando Pessoa:
“Fazes falta?
Ó sombra fútil chamada gente...
Ninguém faz falta...”
A cena era assombrosa. A cama cheia de sangue e dois corpos decapitados.
- Detetive Villa, - um policial surgiu no local e o chamou - procuramos por vários locais da casa e não achamos nada suspeito. Provavelmente o assassino pulou o muro deles sem ser notado e quebrou a janela para fugir.
- Quais os nomes das vítimas? – perguntou Fred.
- Catherine Moreira e Ricardo Moreira. Dois empresários conhecidos.
- De quem é aquela criança com aquela mulher? – disse Villa apotando pela janela para a moça e o menino com a mochila.
- Aquele é o menino Pedro. Filho do casal assassinado.
Continua...