24 horas atrás
Um dia antes do sumiço de Letícia, tudo parecia calmo, como um dia qualquer. Depois de chegar do trabalho, Letícia decidi ligar para a irmã com o intuito de visitá-la e pôr a prosa em dia.
- Alô Júlia?
- Oi Letícia, tudo bem com você?
- Tudo! Vai estar em casa agora?
- Sim, estarei.
- Posso dar um pulo aí? Faz tempo que não conversamos.
- Sim, pode vir, estarei aqui no seu aguardo.
- Ok, vou tomar um banho e já chego.
- Certo. Até breve.
- Até.
Por algum motivo, Letícia sentiu a sua irmã estranha ao telefone como se tivesse acontecido alguma coisa esquisita com sua irmã. Seria um presságio seu, talvez uma sensação exagerada sobre tragédias por vir? Ou seu recém-descoberto "instinto policial" estaria agindo, e ela poderia encontrar mais um ótimo caso para investigar?
De todo modo, se preocupava com a situação, uma vez que envolvia a sua irmã, não era alguém que pudesse se distanciar de uma maneira fácil. Isso explica o banho mais rápido que o comum para pegar a estrada, rumo ao encontro da irmã.
Quando chegou lá tocou a campainha, mas notou que essa não funcionara. Decidiu, então, ir pela velha guarda: bater na porta. Para sua surpresa, ao abrir a porta, Júlia usava um óculos escuros. Algo, que pra uma pessoa curiosa, chama muito a atenção. Não à toa, perguntou:
- Hermana! Como estás? Aderindo aos óculos escuros, agora?
- Oi! Ah.. é né? Bom variar um pouco... hehe... Vem, entra.
- Obrigada, com licença.
- Ah, gostaria de tomar alguma coisa? Um café, chá?
- Café, está bom, obrigada.
Letícia continuava achando estranho aqueles óculos e os trejeitos da sua irmã tentando disfarçar que estava "tudo normal". Alguma coisa simplesmente não batia, mas precisava bolar um jeito para retirar os óculos dela para confirmar suas suspeitas...
- Júlia, eu posso ver esses óculos? Achei tão bonita a armação..
- Ai.. brigada... Mas pode ser depois? Eu comecei a usar agora esses óculos e ainda estou me acostumando...
- Deixa de ser boba! Eu só quero ver, não vou roubar. Ou você está me escondendo algo?
- ...
- Então?
- Tá (respira fundo), pode olhar
- Menina, o que foi isso?
- Isso o quê?
- Como o quê? Esse olho roxo aí!
- Ah.. Eu caí da escada...
- Diga a verdade...
- Mas eu disse...
- E eu nasci ontem, é? Anda, desembucha!
- ... Eu e o Hermeto brigamos...
- E por acaso, era uma briga de UFC? Como foi que chegou nesse ponto??
- Ah, mas não foi nada... Ele só estava meio nervoso, porque eu reclamei que ele bebia demais...
- E onde ele está agora?
- Depois que discutimos, ele saiu sem dizer pra onde, enquanto vociferava palavrões...
- E você não sabe onde ele está? Quanta passividade toda é essa? O que ele fez é imperdoável!
- Ah, mas ele sempre vai beber no boteco do Aristeu lá Periferia do Zé e depois volta e se desculpa. E fica tudo bem...
- Tudo bem, uma pinoia! Eu vou agora mesmo atrás desse lazarento!
- Não, espera não faz isso!
- E você fique quieta que nós ainda não acabamos de conversar!
- Mas, irmã...
Letícia largou a xícara de café e saiu intempestiva rumo ao boteco do Aristeu, afinal era inaceitável ver a sua irmã naquele estado. Acenou para o primeiro táxi que viu e disse para tocar pro boteco do Aristeu.
- Na periferia, dona?
- Sim, lá mesmo.
- Certo, mas tome cuidado que aquela região é muito esquisita.
- Estou acostumada a ir para lugares estranhos, deve ser algo no meu sangue...
- Ok, dona, você quem sabe...
Depois de quarenta minutos na estrada, Letícia chegou ao seu destino. Com o sangue fervendo, nem notou que pagou 10 reais a mais do que a corrida do táxi. Apenas, desceu do carro e se dirigiu ao bar para saber que o seu cunhado não estava lá. Perguntou aos garçons sobre ele até que um deles o informou sobre seu paradeiro.
- É um galego com um moicano?
- É esse mesmo! Você o viu?
- Ele esteve aqui ontem e saiu com uma morena.
- E onde essa mulher mora?
- Dona, eu não sei. Mas ele disse que voltaria amanhã para jogar sinuca com o seu Luís.
- Isso é certo?
- Creio que sim.
- De que horas?
- Por volta do meio-dia.
- Ok, amanhã retornarei.
Sabendo dessa informações, Letícia voltou para sua casa, fazendo os arranjos para encontrar seu cunhado no dia seguinte. Como não queria ser descoberta, foi "disfarçada", com o cabelo amarrado no estilo rabo de cavalo, óculos escuros e um discreto batom laranja. Chegou por volta das onze horas no bar e pediu uma cerveja, enquanto aguardava. Duas horas depois, seu cunhado chegara para o jogo, acompanhado de uma bela morena. Mal começou o jogo, Letícia levantou-se e já dirigiu a palavra a ele:
- Então, é aqui que você se esconde depois de agir como um covarde com sua mulher?
- Letícia? O que caralhos você faz aqui?
- Não se faça de desiludido, seu pilantra! O que você fez com a minha irmã? E quem é essa piranha, aí??
- Olha, se acalme que eu não converso com mulher irritada assim..
- Não, você bate nelas e foge né? Seu cachorro!
- Você não sabe o que se passa entre mim e a sua irmã...
Nisso, Letícia não aguentou e desferiu um tapa na bochecha esquerda do seu cunhado, tamanha a sua indignação. Antes que ele pudesse reagir, sua amante entrou em cena, e partiu pra cima de Letícia e elas começaram a trocar socos e pontapés. Contando com a ajuda da amante, Hermeto conseguiu imobilizar Letícia, acalmando o dono do bar e todos ao redor.
- Se você prometer se acalmar, eu te solto e finjo que nada aconteceu.
- Seu cachorro! Eu juro que você vai pagar por isso!
- Olha, é melhor se acalmar... Eu conheço todo mundo por aqui...
- Seu pilantra, filho da puta.
- Não vai se acalmar? Então, hoje eu vou te liberar, mas da próxima vez, não terá melhor sorte.
Então, Hermeto quebrou o braço de Letícia, soltando-o mediante as ameaças feitas anteriormente. Acuada e sem saída, Letícia pegou o primeiro táxi que viu. Ferida e preocupada, decidiu procurar a única pessoa que poderia te ajudar. Era a hora de procurar Luís...
O Andarilho