30/ABRIL/1981 - A FACADA SIMULADA


Juro que esses fascistas estão me deixando maluco!...
Não!  Não era ainda o fatídico 06/setembro/2018
Mas todo caminho dá na venda.
Mesmo tratando-se de simulação
o importante é que o leitor entenda.
Por um triz, sobrevivi.
Se sobrevivi, eu conto.
Deixa eu me lembrar (...):  
30/abril/1981... Hum!... Faz tanto tempo ! . . . 
Parece que o tempo me ensurdece,
me arranca os cabelos,
quando tento recordar algum pesadelo.
Peraí ! 
Tinha um tal general Golbery? 
Renunciou, pra não se envolver com o terror,
porque a bomba deste conto poderia lhe atingir.
Não, não está mais aqui...
Peraí, peraí ! . . .
Deixa eu consultar o general Augusto Heleno,
que agora é governo,
mas à época era um oficial pequeno. 
Sei que ele tem boa memória...
Deve me confirmar essa história.
Lembra, general, de uma tal facada, faz 38 anos,
e que causou enormes danos ? ! . . .
O quê ? ! . . . 
Então não foi uma facada,
naquela noite mal assombrada,
lá no Riocentro?!...
Ah, sei !
Foram bombas.
Bombas que alguém armou no estacionamento.
Uma explodiu na miniestação de energia elétrica. Explodiu, mas o objetivo não atingiu.
Atirada por cima do muro,
deixaria toda a área do Riocentro no escuro. 
A outra também explodiu...
Explodiu dentro dum carro esportivo Puma GTE, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário
e ferindo gravemente o capitão Wilson Dias Machado.
Tem dias que as missões são mal cumpridas:
um - coitado! - mutilado, todo ensanguentado;
outro, perdeu a vida. 
O salão estava cheio de "esquerdopatas",
que, graças a Nossa Senhora do Rosário,
desse ato de terror saíram ilesos. 
É que, indefesos,
estariam a comemorar
o Dia do Trabalhador a partir da hora zero
do Primeiro de Maio, cumprindo calendário.
Uma afronta, em plena ditadura militar.
À época, nem eu nem ninguém ousaria contar
este conto, tampouco marcar encontro... 
Se o atentado tivesse dado certo:
- milhares teriam desaparecido nessa tragédia,
hein, general !?...
- como explicar aquele ato de terror,
como sempre, contra o povo trabalhador?...
- Quanto sangue se teria derramado!...
- Naquele tempo, derramar sangue não era raro,
mas se fosse de facada, não se derramava nada!
Tô mentindo, Bolsonaro ?!...
- Quantos, entre os sobreviventes,
jovens inocentes, professores, poetas, artistas,
 teriam sido presos como terroristas, não?!...
- Quantos inculpados torturados ?!...
A intenção era dizer não à democracia
pra se perpetuar no poder,
até quando (?) ninguém sabe o dia,
como agora estão, não é mesmo, capitão ? ! . . .
Mas, chegara o momento
em que o povo se fez atento.
Por exemplo, vejam só esse atrevimento (!): 
-  O S.N.I. ainda anunciou para o país
e para o mundo, através da mídia servilista,
que o atentado ao Riocentro
havia partido de organizações esquerdistas...
Depois viu que cometia uma asneira,
tentando tapar o Sol com a peneira.
Todas as provas estavam ali, esparramadas,
sob uma Bandeira Nacional desfraldada,
esfarrapada, ignominiada,
acobertando cinzas de uma tragédia abortada. 
O Exército Brasileiro perdeu pessoal e material.
Só?!...
O próprio capitão Machado
- "Sede vós quem sois" -,
com a anistia, algum tempo depois,
"assumiu a culpa" pelo atentado. 
Com a tentativa de disfarce, desgastado,
o S.N.I. também perdeu...
Perdeu a moral.
Todo o processo foi arquivado,
como era, como seria e como ainda é natural.
Ninguém foi punido. 
Acho até que alguém foi promovido...
Essa estratégia de praticar um crime
e atribuir a culpa aos que condenam o regime,
a ordem estabelecida,
já é por demais conhecida,
faz parte do lendário elitista e fascista do mal.
Se desvendado, qualquer mal vira coisa normal.
Fundamentado nesse conceito,
extra-direito, estranho e extra-judicial,
que de alguma forma voltou a estar presente,
quero registrar, desta feita,
que a extrema-direita
nunca deixou de ter julgadores assim,
que dos meios de comunicação se aproveitam
e que até combinam provas pra condenar inocentes.
Explicam, a-p-e-n-a-m e torpedeiam os meios,
pra não despertar a massa desinformada,
explorada, idolatrada, fanatizada,
trancafiando a verdade que há de surgir lá no fim.
Sob semelhante regime, difícil é sobreviver:  
"Brasil, pátria aRmada!"
"Direita, volver !"
"Às vezes, o eleitor apanha por merecer"...
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 15/06/2019
Reeditado em 22/06/2019
Código do texto: T6673287
Classificação de conteúdo: seguro