POR UM DETALHE
Um Assalto milionário estava sendo planejado sem pressa e com rigor em suas etapas. A vítima era um banco de uma cidade de tamanho razoável com um pouco mais de 200 000 habitantes.
Num determinado dia de cada mês, este banco era o responsável pelo pagamento dos funcionários de Várias prefeituras e dos aposentados de toda a região, portanto, o volume de dinheiro era muito alto e isso logo chamou a atenção destes homens.
Na verdade, homens acima de qualquer suspeita em suas cidades. Os mesmos nunca haviam praticado coisa semelhante, eram pessoas de renome, ocupavam cargos de destaque, mas viviam insatisfeitos com suas finanças e diante de tão grande tentação, deixaram vir à tona suas más índoles adormecidas, suas fraquezas enquanto seres humanos.
Eles vislumbraram ali a oportunidade de resolver de uma vez por todas as suas vidas, financeiramente falando. As pessoas já estão acostumadas com assaltos a banco em todo o País, mas este, especificamente, era diferente... Surreal!
Esses homens se conheciam bem e todos moravam na mesma cidade, uma cidade grande, uma metrópole. O grupo tinha um amigo em comum, morador da tal cidade onde ficava o banco a ser assaltado. Este amigo era um homem simples, comum e tinha uma particularidade que o fazia ser identificado com certa facilidade. Como o grupo morava distante, a cerca de 4500 km de distância, desconhecia esse pequeno detalhe.
O grupo de futuro assaltante de banco entrou em contato com esse amigo e iniciaram os planos para o assalto. Este amigo se chamava Inácio e trabalhava com vendas externas. O senhor Inácio conhecia muito bem a rotina do banco e repassou todas as informações ao grupo.
Uma parte do grupo resolveu conhecer de perto a cidade e naturalmente, o banco. Passaram alguns dias num hotel da cidade e se reuniam com o amigo Inácio a fim de fazer um planejamento minucioso de tudo, nada poderia sair errado, naturalmente.
O grupo completo era formado por: um Pastor, um Padre, um Vereador, um Delegado, um Empresário endividado, um ex-prefeito, um cantor esquecido, um ex-jogador de futebol, um policial aposentado e o senhor Inácio; portanto, 10 pessoas.
O plano era conseguir mais de R$ 500 000 000,00 e todos mudarem de vida e de país. Eles conseguiram comprar um carro forte e o caracterizaram para não levantar suspeitas e planejaram tudo durante muito tempo, vigiaram a rotina do banco, das pessoas, etc...
Observaram que o banco tinha película escura nos vidros entre a área dos caixas eletrônicos e a segunda parte do banco onde ficam os funcionários e a sala da gerência, cofre, etc... De dentro para fora era possível ver toda a movimentação, o que não acontecia de fora para dentro e isso agradou muito aos futuros assaltantes.
Então, após muita observação e planejamentos, os homens resolveram retornar à cidade onde moravam e repassar todas as informações colhidas, ao restante do grupo. Dessa vez, levaram o senhor Inácio que se ausentou da cidade por alguns dias, mas como era vendedor externo e costumava viajar bastante, ninguém suspeitou de nada.
Os planos estavam indo de vento em polpa e o grupo conseguiu adquirir alguns recipientes de plástico de forma que pudesse passar pelo detector de metais e fosse possível entrar com eles no bolso, vários deles; cada um entraria com uma quantidade suficiente de recipientes cheios de gás lacrimogênio.
Era, contudo, um assalto ousado e muito arriscado, porém, todos estavam dispostos a arriscar. O plano era chegar com o carro forte, deixar dois homens armados próximos do carro e um na entrada do banco enquanto os demais adentrassem ao banco, pois assim era de costume fazerem os verdadeiros quando faziam abastecimento do banco.
O senhor Inácio não poderia aparecer na cena do crime, pois era morador da cidade e bastante conhecido, ele ficou dentro do carro, escondido. Enquanto isso, outro homem, armado, ficaria em frente à porta giratória fazendo a vigilância, tudo conforme o de praxe. Os outros cinco homens renderiam todos lá dentro, fazendo-os desmaiar com o gás, assim ficaria apenas o gerente para liberar o cofre com ameaça de explosões que na verdade, não existiam.
A intenção era fazer tudo lá dentro sem armas, pois não poderiam adentrar com as mesmas, devido ao detector de metais. Somente os homens lá fora estariam armados. E assim o fizeram.
O homem em frente a porta giratória, não deixava ninguém entrar e nem sair, enquanto a operação não chegasse ao fim, era o que ele argumentava com os usuários do banco. A população achou tudo normal porque isso já era de costume.
Então, com todos lá dentro desmaiados, o gerente foi rendido e conduzido à sala do cofre e acabou cedendo fácil. Os malotes de dinheiro foram levados quatro a quatro por cada um dos homens e fizeram várias caminhadas até ao carro forte. Tudo estava saindo como o planejado, mas na última remessa, um malote caiu entre o carro e o banco, em desespero, nervoso, o senhor Inácio vestido com macacão padronizado, todos estavam assim, exceto os homens que chegaram até o interior do banco, ele colocou uma máscara e saiu do interior do carro forte em direção ao malote no chão e o resgatou.
Até esse instante, a população não desconfiava de nada, tudo aquilo para eles, era normal e isso era vantagem para os assaltantes, porém, uma pessoa viu quando o senhor Inácio pegou o malote no chão e desconfiou do jeito que aquele homem andava, pois só o senhor Inácio andava daquele jeito e era conhecido por essa característica.
Ficou pensativo, no momento, mas ficou calado, apenas achou uma coincidência aquele jeito de caminhar. Logo, todos entraram no carro forte e partiram sem alarde. O gerente ficou amarrado na sala do cofre e os demais funcionários e clientes ainda desmaiados pelo chão.
As pessoas lá fora ficaram sem saber o que fazer, eles não sabiam se já podia entrar ou não e com isso, levaram algum tempo para descobrir o roubo. Os ladrões tiveram tempo suficiente para deixar a cidade sem nenhuma perseguição policial e com o carro forte repleto de dinheiro; mais de quinhentos milhões de reais. Eles se desfizeram do carro forte e passaram o dinheiro para vários carros e foram em direção de um campo de pouso clandestino onde já havia alguns aviões de pequeno porte para transportar o dinheiro.
Deixaram algumas malas cheias de dinheiro para o senhor Inácio que resolveu ficar na cidade, pois tinha certeza que sairia impune porque ninguém viu o seu rosto e jamais desconfiariam dele.
A polícia foi acionada e deu início a uma caçada cinematográfica. A cidade ficou cheia de policiais e todos os carros eram parados e revistados. O senhor Inácio não voltou para a cidade naquele dia, ele se hospedou num hotel de luxo em outra cidade e ficou por lá mais de uma semana. Enquanto isso, os demais ladrões deram um jeito de chegar a sua cidade e estavam estudando uma maneira de sair do país com toda aquela grana.
Na cidade do roubo, a polícia não conseguia encontrar nenhuma pista, até que uma testemunha resolveu contar o que viu e disse que achou muito estranho o jeito que um dos bandidos andava, era igual ao andar do seu Inácio. A polícia, então, passou a considerar o senhor Inácio o principal suspeito e com a captura do mesmo, seria mais fácil encontrar os demais...
A polícia tinha que agir rápido, do contrário, os bandidos poderiam fugir e/ou conseguir um esconderijo para o dinheiro e se tornaria cada vez mais difícil recuperá-lo. Então, fizeram buscas em todos os lugares possíveis, pela cidade e após isso, com a ajuda de policiais de outras cidades, puderam percorrer os hotéis e pousadas da região.
Enfim conseguiram encontrar o seu Inácio e o pegaram com alguns malotes de dinheiro, logo nenhuma dúvida restou... O senhor Inácio estava no roubo e logo confessou quem eram os demais e onde poderiam encontrá-los. Para a surpresa da polícia e toda a população daquela cidade, os assaltantes eram “representantes” do povo e de Deus: pastor, padre, vereador, ex-prefeito, etc...
A polícia recuperou todo o dinheiro e os inexperientes assaltantes foram todos presos. Tudo por conta do jeito de andar do seu Inácio. Um detalhe apenas deu fim ao roubo milionário que poderia ter dado certo.
Fim.
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Ênio Azevedo.